Embora o Vasco não venha obtendo bons resultados nas principais competições de remo olímpico nos últimos anos - mais precisamente, desde 2010 -, desde 2011 o clube decidiu voltar a competir numa tradicional modalidade: o barco escaler, que se caracteriza por ser bem grande e pesado, tendo uma massa de cerca de uma tonelada, e ter proa fina e popa quadrada. Ele é característico de organizações militares, mas era figura presente nos primórdios do remo - no próprio Vasco, no final do século XIX e no século XX. A competição é organizada pela Marinha do Brasil, ocorre desde 2001 e em 2013 teve a sua 13ª edição: é o Circuito Poder Marítimo de Remo Escaler. E os resultados vascaínos vêm sendo ótimos, na categoria Escaler Misto: entrando já no final da competição de 2011 e sem chances de título, venceu todas as últimas três provas; e conquistou com extrema tranquilidade a competição em 2012 e em 2013, em ambas com três regatas de antecedência. Neste ano, no dia 15 de setembro, após a vitória na regata da Escola Naval.
O Vasco da Gama fecha a competição na liderança disparada, com 74 pontos. A cerimônia de premiação será no dia 16 de dezembro, às 10h, em local ainda a ser confirmado. Embora ainda tenha características bem peculiares, a técnica de remo no barco escaler está cada vez mais próxima ao remo olímpico, apesar de o barco ser muito pesado e no geral a bancada ainda ser fixa (como será explicado minuciosamente abaixo), o que também ajuda a entender a grande supremacia dos vascaínos na competição, mesmo sem nenhum treinamento no dia a dia. Os atletas do Vasco só pegam o barco no dia da prova, já para competir. O fortíssimo e intenso dia a dia de treinamentos no remo olímpico faz a diferença para essa grande vantagem sobre as organizações militares, como CIAGA, CEFAN, CIAW, Fuzileiros Navais etc. As provas têm a distância de 500 metros, e no Misto os dez atletas do barco são divididos entre homens e mulheres.
Neste ano, houve oito regatas ao longo do ano, com o Vasco participando de todas: seis vitórias e dois segundos lugares. O Vasco compete em um barco emprestado pela Marinha, conseguido junto à Diretoria-Geral de Material da Marinha (DGMM). Como o clube só conseguiu nos dois últimos anos um barco em boas condições, sem estar muito desgastado e pesado, decidiu por competir apenas em uma categoria: o Escaler Misto, que envolve atletas dos dois sexos no mesmo barco, independentemente de categoria do atleta em termos de idade. Além do Misto, também há outras categorias, como Sub-24, Sênior, Veteranos etc., mas o Vasco, diante da limitação de material, optou por competir em apenas uma categoria. Para o próximo ano, a Divisão de Remo do Vasco articula junto à DGMM o empréstimo de mais um barco para que o clube amplie a sua participação no Circuito Poder Marítimo. A categoria visada em princípio é a Veteranos, mas a dificuldade para organizações civis competirem em termos de material é significativa.
O Circuito Poder Marítimo é majoritariamente composto por organizações militares, mas também abre espaço para civis. Se era o Flamengo que antigamente disputava a competição, agora é o Vasco, que também enxerga na competição uma forma de conquistar títulos diante da crise nas principais competições de remo olímpico. Além disso, outro importante fator, senão o principal, para que o Vasco dispute essa competição é dar rodagem e experiência para atletas das categorias de base do clube e colocar em ação remadores master que tanto ajudam no dia a dia da garagem na Sede Náutica.
O treinador e comandante do escaler vascaíno é Carlos Henrique Siqueira Martins, remador master do Vasco, ex-remador sênior do clube e atualmente é auxiliar-técnico (trabalhando com a pré-equipe, com a iniciação de jovens) e preparador físico do Gigante da Colina. Carlão, como é conhecido, opta por fazer uma grande mescla ao escalar a equipe para as competições, escalando atletas desde a categoria Infantil até o Master, apesar de a prioridade ser sempre as regatas olímpicas (Estadual, Brasileiro etc.), o que também explica o grande rodízio de atletas. Carlão, inclusive, competiu em algumas provas, e concorre ao prêmio de remador destaque, cuja entrega será em meio à cerimônia de premiação.
Além das seis vitórias obtidas, os dois segundos lugares foram em condições bem adversas. Na primeira regata (Almirante Gastão Motta, em 20 de abril), o barco que o Vasco estava usando quebrou, e a guarnição que o substituiu era muito ruim, velha e pesada. Já na regata Amazônia Azul, em 26 de outubro, que o Vasco chegou até a cogitar seriamente a não participação diante das limitações de atletas, o Vasco teve poucos atletas para escaler, com os principais comprometidos: os Master estavam na Bahia disputando o Campeonato Brasileiro da categoria, e os atletas da equipe de remo estavam em recesso após as competições do calendário de 2012. Carlão teve que escalar atletas que estavam em recesso, mas ainda assim se dispuseram a competir: o resultado foi a queda de rendimento e o segundo lugar da prova. De resto, ampla supremacia nas outras seis regatas.
Confira abaixo exclusiva com o treinador Carlos Henrique Siqueira Martins! Nela ele explica minuciosamente a participação do Vasco no Escaler Misto, fala sobre o bicampeonato, esclarece as semelhanças e diferenças entre o barco escaler e o barco olímpico e as diferenças entre as técnicas de remo nas duas guarnições, fala sobre a intenção de colocar o Vasco para competir em mais categorias etc.
Carlos Henrique Siqueira Martins
Auxiliar-técnico no remo do Vasco, trabalha com a pré-equipe pela manhã e com a preparação física da equipe à tarde
PARTICIPAÇÃO DO VASCO NO REMO ESCALER
"Chegamos ao final do campeonato de 2011 com a intenção de participar do campeonato da Marinha, de prestigiar a regata da Marinha, já que o Flamengo já estava participando das provas do escaler misto. Inclusive, o Flamengo havia sido campeão do misto e em 2011 também estavam brigando. Entramos, se eu não me engano, na sexta regata. Particamos de três regatas em 2011, inclusive ganhando as três provas. Daí em diante conseguimos junto à DGMM o empréstimo de um barco legal. O escaler não é um barco olímpico, e para o clube, como ele é muito grande, não teria nem lugar para guardar. A Marinha guarda, eles têm o CEFAN, o CIAGA, têm espaço para guardar o barco, que é muito grande, muito pesado, pesa em torno de uma tonelada, 900 quilos. Então para o clube não é vantagem ter um barco desse, sempre corremos com um barco emprestado. Conseguimos um barco com um casco muito bom, e a partir de então começamos a participar em 2011. Em 2012 fomos campeões da primeira até a última prova, só nesta que não ganhamos, porque houve uma troca de barcos, o que a gente usava veio a quebrar, trocamos, pegamos um barco muito ruim, muito velho, muito pesado, acabamos perdendo, mas tivemos um ano fantástico, ganhamos todas as provas. Em 2013 tivemos dificuldades com barco na primeira prova, chegamos em segundo mesmo com a adversidade do barco, brigando com o primeiro. A partir de então conseguimos pegar um barco legal e desde então ganhamos todas as provas, já somos campeões antecipadamente."
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS E PRÁTICA DE REMO NO ESCALER
"É um barco muito antigo, então o remo praticamente veio do escaler, é um barco onde se fez a iniciação ao remo, os navios usavam para desembarcar bem o navio, o remo veio justamente do escaler. O escaler antigamente era distante do remo olímpico. Tinha uma bancada muito curta, muito pequena, em que você só remava usando o tronco e o braço, praticamente não usávamos nada de perna. No barco olímpico, cerca de 70% da força que a gente aplica é nas penas, os outros 30% são tronco e braço. Então no modo como era o escaler antigamente a gente tinha um pouco de dificuldade de se adaptar à remada, já que não temos tempo de treinar porque nossa prioridade é sempre o barco olímpico. Então fica difícil você disponibilizar pessoal, são dez pessoas, para ir lá na Avenida Brasil para poder treinar o escaler. A gente tinha muita dificuldades antes, às vezes a gente ganhava, mas era mais brigado. Hoje em dia os barcos de escaler estão com a borda um pouco mais baixa, com uma bancada que tem em torno de uns 80 centímetros a um metro, tem o finca-pés que serve para prendermos os pés para poder fazer a remada. Então o barco de escaler está se aproximando muito de um barco olímpico, que tem o trilho, tem o carrinho, tem o finca-pés, tem a forquete, tem vários suportes que fazem a gente alongar mais a remada, a gente tem uma amplitude de remada maior, o que faz o barco andar mais. Agora na Marinha se aproximou um pouco mais, facilitando a gente a ter essas vitórias hoje em dia. Improvisamos uma rede, uma tela de mosquiteiro, que penduramos na cintura, e botamos um lubrificante que facilita na ida à proa, na hora de abrir a remada, na hora em que você pega a remada lá na frente você desliza a bunda ali e empurra a perna, desliza e empurra a perna. Isso nos facilitou muito a adaptação, ficou uma forma muito mais fácil de remar e não ter tanta dificuldade com esse processo de não poder treinar lá na Avenida Brasil. Treinando aqui na Lagoa, já ficamos preparados para competir o escaler, e estamos conseguindo esses resultados que temos hoje em dia. Só pegamos o barco no dia da prova, não temos tempo para treinar, porque realmente a nossa prioridade é sempre os barcos olímpicos. Treinando no barco olímpico, do jeito que o escaler está hoje em dia, a remada está muito próxima. Tem umas diferenças, tem diferença de peso, é um barco muito pesado, por isso é uma competição curta, de 500 metros, já no barco olímpico são 2.000. Até um tempo atrás 1.000 metros no escaler, mas eles reduziram para 500 para ficar uma prova mais dinâmica justamente por isto, por ser um barco muito pesado. No momento é a maior diferença: o peso do barco, que é muito pesado para fazer a remada, mas a adaptação ao escaler hoje em dia está muito fácil, praticamente está muito similar ao barco olímpico em questão de técnica de remada. Na verdade, no barco escaler você botando até uma pessoa que não tenha muita prática de remo você consegue fazer com que ela reme com muito mais facilitade, porque o barco não oscila, tem uma estabilidade muito maior, porque o barco é muito mais alto, o casco muito mais largo. É mais uma coisa que facilita a gente também. Continua sendo bancada fixa, mas eles aumentaram a bancada e o ângulo da remada ficou com uma amplitude maior. Não chega a ter carrinho. Aliás, tem um escaler que tem carrinho, que é o do CIAGA, que tem carrinho e trilho. É um trilho menor do que o do barco olímpico, mas a maioria do escaler tem uma bancada em que você desliza o seu quadril e faz a remada, se aproximando muito do barco olímpico."
INTENÇÃO DE COMPETIR EM MAIS CATEGORIAS
"A gente tem a intenção de colocar os master também para competir no escaler. No momento temos a dificuldade do casco do barco, de pegar um casco bom, a gente acaba pegando um barco muito ruim para competir na categoria Veteranos, então às vezes leva muita desvantagem nessa de casco, porque a maioria das organizações militares tem o barco principal, que na maioria das vezes é mais difícil a gente conseguir emprestado porque eles competem nesses barcos também, e acabam dando um barco de segunda, terceira mão para a gente competir. Isso dificulta um pouco, mas eu estou elaborando uma forma de a gente conseguir minimizar isso, até mesmo para a gente conseguir um barco emprestado para o Veteranos."
CRITÉRIOS DE ESCALAÇÃO DOS ATLETAS
"No escaler misto, são categorias bem mescladas. Procuramos escalar atletas de Júnior, atletas de Sênior, às vezes atletas de Master, até pela disponibilidade dos atletas também. Às vezes a regata cai uma semana antes de uma regata do Estadual e, como sempre a prioridade é o Estadual, a gente tenta poupar os atletas que vão correr no Estadual para não correr o escaler. Procuramos escalar justamente os atletas que não vão competir naquela regata. Às vezes calha de a gente colocar um ou dois masteres, assim como no feminino tem duas atletas master, a Fátima Brandão e a Beatrice Lima, que estão sempre dentro do barco, e os outros é sempre mesclando com Júnior, com Sênior, sempre de acordo com a disponibilidade que o clube pode fornecer atletas para competir o escaler."
Confira todas as regatas do Circuito Poder Marítimo e os respectivos resultados do Vasco no Escaler Misto:
20/04 - IX Regata a Remo em Escaler Almirante Gastão Motta - 2° lugar (Ilha das Cobras)
25/05 - XI Regata do Corpo de Fuzileiros Navais - 1° lugar (Estádio da Lagoa)
22/06 - XIII Regata Batalha Naval do Riachuelo - 1° lugar (CIAGA)
18/08 - XI Regata Colégio Naval - 1° lugar (Angra dos Reis)
15/09 - XXXVII Regata a Remo Escola Naval - 1° lugar (Estádio da Lagoa)
12/10 - XIII Regata Baía de Guanabara - 1° lugar (Estádio da Lagoa)
26/10 - VIII Regata Amazônia Azul - 2° lugar (Estádio da Lagoa)
30/11 - XIV Regata Poder Marítimo - 1° lugar (CIAGA)
Confira todos os atletas que competiram ao longo do ano no Escaler Misto, do Infantil ao Master:
Alan Henrique Meira dos Santos
Aline Kreitlow
Alisson Hermann Pereira
Anderson Gonçalves
Armando de Moraes
Beatrice Lima
Benílton Alves Barbosa
Brenner Chagas de Mello
Bruno Henrique Ferreira de França
Carlos Alberto de Carvalho Rosa
Carlos Henrique Siqueira Martins
Cleiton Wiggers
Débora Aleixo
Eduardo Starling
Fátima Catarina Brandão de Figueiredo
Felipe Holanda Junqueira
Felipe Marques Aguiar
Guilherme da Conceição Armando
Isabela Beatriz Ferreira
Jefferson Luiz Meira dos Santos
Lucas Kreitlow
Matheus Cardoso da Silva Paulino
Matheus Freitas de Souza
Natasha Carvalho Rosa
Paulo Sillas Marques Aguiar
Rita de Cassia Queiroz de Oliveira
Sarah Ramos Reis
Tarsis Miranda
Thiago Francisco da Silva
Vinícius Marques da Silva