No meio da briga generalizada nas arquibancadas da Arena Joinville, William Batista da Silva, 19, torcedor do Atlético-PR, tropeçou e acabou cercado por um grupo de vascaínos durante o jogo disputado anteontem, em Santa Catarina, na última rodada do Brasileiro.
O rapaz levou uma série de chutes e pontapés. Estirado no chão, tentou proteger a cabeça, golpeada a todo instante. Mesmo desorientado, ouvia os incentivos ao ataque:
"Mata! Mata! Mata!", repetiam os torcedores.
William sentiu pancadas por todas as partes do corpo. Até que ouviu alguém dizer: "Chega! Chega!"
Internado em um hospital particular de Joinville, William relatou a cena acima a seu pai, Cidinei Batista da Silva, 44, gerente comercial de uma empresa de metalurgia.
Morador de Curitiba, ele chegou a ver as imagens da briga pela TV, mas não reconheceu o filho, praticamente sem roupas, com o short vermelho rasgado, sendo resgatado por bombeiros.
Quatro torcedores ficaram feridos após a partida entre Atlético Paranaense e Vasco.
Apenas William permanece internado. De acordo com o boletim médico divulgado ontem, o exame de tomografia constatou uma fratura de crânio, que não representa risco de morte. Ele segue internado "sob observação", e seu quadro clínico é estável.
"Quando entrei no quarto do hospital, encontrei meu filho com hematomas por toda a parte, principalmente na cabeça. Seu ouvido direito não parava de sangrar", lembrou Silva.
Ele soube pelo rádio, ainda durante a partida, que seu filho estava entre os feridos no conflito. Pegou o carro e seguiu imediatamente até Joinville, que fica a duas horas de distância de Curitiba.
Ao conversar com o filho, o pai quis saber por que ele estava no meio da briga.
"Ele disse que foi pelo impulso. Quando viu já estava no meio da confusão", contou à Folha. "Meu filho não é uma pessoa de briga. Não faz parte de organizada".
Abalado pelo episódio, Silva quer entender melhor o que aconteceu assim que William se recuperar.
"Mesmo sendo vítima, ele estava no meio daquilo tudo. Vou estar sempre ao lado dele. É o meu filho. Mas se ele fez algo errado, vai responder por isso", concluiu o pai.
O COMEÇO DA BRIGA
O estopim da briga na qual William se envolveu foi a recuperação de três camisas do Atlético-PR que estavam com vascaínos, disse ontem o dono de uma das empresas de segurança contratadas.
Arilson Alves, da Mazari Vigilância, estava entre as duas torcidas. Ele disse ter visto torcedores do time paranaense indo em direção aos rivais para recuperar as camisas.
"O pessoal do Vasco pegou as camisas fora do estádio. Na hora do jogo, mostraram elas como um troféu e a briga começou", afirmou.
Alves não soube precisar com quantos seguranças estava na arquibancada. Estimou em "15 ou 20", dos 60 que levou à Arena.
Segundo ele, o Atlético-PR contratou esse contingente para "as revistas" e para "o cordão de isolamento" na arquibancada, já que os policiais se concentraram em cuidar da área externa.
"Se tivesse uma grade forte, talvez não tivesse acontecido [a briga]. Mas só tinha uma gradezinha e uma corda", completou Alves.
Fonte: Folha de São Paulo