No meio da pancadaria na Arena Joinville, duas histórias, dois dramas. Com os filhos, Joel Meneghelli e Marco Aurélio dos Santos viram a morte de perto diante da selvageria de vascaínos e atleticanos. Joel segurou o filho Igor, de 11 anos. Marco abraçou Marcos Vinícius, de 7 anos, e pedia por paz. Ao contrário do publicado pelo EXTRA no início da tarde desta segunda-feira, Marco aparece na foto e não Joel.
– Quando eu vi aquela confusão, eu só pensei em sair dali pela saída que tinha na lateral, onde estava a torcida do Atlético. Nessa hora, vi que eles vinham se aproximando, e tomei uma decisão: ou fugia correndo e poderia tropeçar com o meu filho ou ficava onde estava. Preferi ficar ali no meio do confronto, assim eles me veriam e poderiam fazer nada. Só pensei em salvar meu filho– disse.
Marco narra os momentos dramáticos na arquibancada. Uma gangue de um lado, a outra vindo para o confronto. Ele levantou os braços. Até que um homem, com a camisa do Atlético-PR, apareceu para ajudá-los.
– Então veio um cara do Atlético e eu gritei não bate no meu filho não, é uma criança, pelo amor de Deus. O cara veio e me disse: “Não não, fica tranquilo”. Tinha a saída onde eles estavam e eu pedi para ele me ajudar a sair porque os caras que estavam com ele poderiam nos bater. Ele me deu a mão e me levou até a saída, tirando quem estava do lado. Aí a polícia entrou e não vi mais ele. Vi mais tarde, na TV, era aquele careca que estava caído. Daí voltei para a torcida do Vasco e consegui sair – contou, se referindo a um dos quatro torcedores que ficaram feridos.
Marco explica que sempre há policiamento nos jogos que acontecem na Arena Joinville, mas que não entendeu porque no domingo houve um descaso com a segurança.
– Aquilo foi uma selvageria. Em 37 anos, eu nunca tinha visto isso. Se tivesse policiamento teria sido diferente. No jogo do Atlético-PR com o Flamengo teve policiamento, não sei porque agora não. Meu filho ama futebol e sonhava ser jogador. Agora não sei como será. Só Deus que colocou aquele casa na nossa frente, para nos salvar – falou.
Marco pede ainda que seu filho não fique traumatizado e possa voltar a assistir, em paz, um jogo de futebol.
– Vai marcar ele, é uma criança. Tomara que não deixe isso afetá-lo para a sempre – contou.
É uma marca na vida do pequeno Marcos Vinícius. E também de Igor Meneghelli, de 11 anos. Ao lado do pai, de 37 anos, ele viveu drama idêntico. O comerciante afirmou que também levantou as mãos, em pedido de trégua. Pois ali havia uma criança.
– Foi um pânico. Quando vimos a torcida do Atlético-PR invadindo, eu só pensei em correr e sair dali. Corri em direção à saída, mas era justamente por onde os atleticanos estavam vindo. Fiquei parado, protegendo o meu filho e com a mão levantada. Estava sem camisa, sem nada. Na mesma hora um cara do atlético chegou e falou: “Não é contigo. O negócio é com a Força Jovem”. Meu filho só chorava e dizia: “Nós vamos morrer, nós vamos morrer”. Ele entrou em choque. Eu só rezei para que Deus nos protegesse – contou.
Joel e Igor saíram de Apiúna, a 150 quilômetros de Joinville, para assistir à partida. O comerciante afirmou que já havia acompanhado jogos do Vasco em São Januário e no Maracanã, mas nunca tinha presenciado tal selvageria, como definiu. E já decretou: não levará o filho mais ao estádio.
– Foram os R$ 150 mais mal gastos da minha vida. Meu filho nunca tinha ido ao estádio, mas nunca pensei que aconteceria essa selvageria. Já fui ao Maracanã com 100 mil pessoas e nunca aconteceu nada. Sou vascaíno, mas isso é uma vergonha. Enquanto tiver torcida organizada, nunca mais levo ele a um jogo, só se for no camarote e blindado – disse o comerciante, que afirma estar com sentimento de culpa. – Imagina se tivesse acontecido algo com o meu filho? Se a gente tivesse sido pisoteado, apanhado? Não voltaria de jeito nenhum com o meu filho. Ele é meu bem mais sagrado.
O vascaíno explicou que as duas torcidas já estavam se ameaçando antes mesmo de a partida começar. A primeira confusão começou no portão principal do estádio, se desencadeou dentro da Arena Joinville e quase continuou fora.
– Eu deixei de entrar na entrada principal com o meu filho quando os vi brigando ali. Entramos por trás. Mas como podem deixar apenas uma corda separando as duas torcidas? Na hora da confusão, os torcedores arrancaram as barras do corredor de proteção e parte da arquibancada para brigar. Ainda bem que consegui voltar no meio da confusão e colocar meu filho em cima da grade para ele pular e eu também – disse.