Em maio de 1984, Fluminense e Vasco, vivendo excelente fase e com craques como Romerito e Roberto Dinamite, fizeram a final do Campeonato Brasileiro - o Tricolor ficou com o título após vencer o primeiro jogo por 1 a 0 e empatar em 0 a 0 o segundo. Neste domingo, para tristeza dos apaixonados torcedores de dois dos mais vitoriosos clubes do país, a alegria de lutar pela taça dá lugar a amargura com a ameaça de verem - juntos - o time do coração novamente rebaixado para a Série B, revivendo o pesadelo que os deixou horrorizados em 1997 e 2008, respectivamente. Um dos dois, aliás, não terá escapatória após esta 38ª rodada.
A grandeza dos clubes é tanta, que, apesar dos vexames dos rebaixamentos - o Tricolor ainda disputou (e ganhou) a Série C, em 1999 -, Fluminense e Vasco, nas últimas décadas, conquistaram 21 títulos importantes. São 11 estaduais, cinco Brasileiros, duas Copas do Brasil, uma Libertadores, uma Mercosul e um Torneio Rio-São Paulo. Pois é apostando na tradição do clube tantas vezes campeão que o cantor Ivan Lins crê que o seu Fluminense vá se livrar da degola.
“A esperança é a última que morre. Está muito difícil, mas pode acontecer um milagre. Acredito que o Fluminense vencerá o Bahia. Só quero ver se o São Paulo não vai amolecer para o Coritiba (o time das Laranjeiras depende de uma derrota do Coxa)”, diz o cantor. Ele cita a canção ‘Desesperar Jamais’ e avisa: “Não tem cabimento entregar o jogo no primeiro tempo.”
Ivan só teme uma coisa: “Não pode faltar liderança e raça. Este ano, infelizmente, o Fluminense teve jogadores de porcelana, que fazem dois jogos e ficam 20 sem atuar por se lesionarem com muita facilidade. Precisamos superar as adversidades”.
Já para o ator vascaíno Eri Johnson, a imensa torcida cruzmaltina tem motivos para ficar bem feliz e confiante, apesar da fase negra que assola o time. Ele se apega à história vitoriosa do clube e garante que a camisa terá peso no duelo com o Atlético-PR.
“Vamos vencer por 1 a 0 e o Botafogo vai bater o Criciúma”, aposta.
No entanto, faz um alerta: “Cair ou não é o de menos. O que me preocupa é o que vai acontecer na segunda-feira, independentemente de estarmos na Série A ou na B. Tem que haver uma reformulação na mentalidade do Vasco. Hoje falta competência. O que adianta ficar na elite e, em 2014, ter de jogar para fugir de novo rebaixamento? Eu quero é ser campeão.”
Romerito e Arthurzinho tristes
Protagonistas da decisão do Brasileiro de 1984, Romerito - autor do gol do título - e Arturzinho - destaque cruzmaltino na final - veem com tristeza a atual situação de Fluminense e Vasco. Torcem para que o futebol carioca não tenha dois clubes de tradição na Série B em 2014 e lamentam a certeza de que um deles não estará na elite na próxima temporada.
“Infelizmente, um já caiu e, independentemente de ser Fluminense ou Vasco, é muito ruim para o Rio. Que sirva de exemplo para as diretorias e para os jogadores. Organização e dedicação são fundamentais na busca pelo sucesso”, observa Romerito, que, tricolor de coração, aponta os erros cometidos nas Laranjeiras.
“A diretoria não se preocupou em repor peças e se acomodou com o título de 2012. A saída do Abel foi errada e prejudicou o grupo. Ainda houve muita contusão. Mesmo assim, pela tradição, acho que temos condição de nos livrarmos da queda. O ruim é depender de outros resultados. A situação é crítica, mas é preciso acreditar sempre”, observa.
Vascaíno, Arthurzinho vê na inexperiência dos jogadores do grupo atual a razão pela péssima campanha no Brasileiro.
“Depois que perdeu o Juninho, o Vasco se desintegrou. A corda apertou e não tem, em São Januário, um jogador capaz de unir a rapaziada e fazer a diferença. Isso é fundamental em momentos de crise”, diz, saudoso do time de 84.
“Tanto Flu quanto Vasco tinham jogadores altamente técnicos. Noventa por cento dos dois elencos eram de Seleção. Agora, não. Os times têm atletas em formação, atrás de reconhecimento. Um rebaixamento mancha a trajetória deles”, avalia.
Arthurzinho é realista quanto ao presente.
“A situação mais difícil é a do Flu. Mas o Vasco tem um jogo complicado. Se os dois caírem será péssimo para o futebol do Rio. As torcidas não merecem isso”, frisa.