Renê, zagueiro do Vasco nos anos 70, relembra carreira

Segunda-feira, 18/11/2013 - 08:10
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Ele chutava bem com as duas pernas. Era exímio cabeceador. Tinha faro de artilheiro. Mas quis o destino que Renê Carlos da Silva se consagrasse no futebol como zagueiro. Que o digam os atacantes dos anos 70, que sofreram para driblar o beque com fôlego de corredor, força de guerreiro e mania de fazer gols. Mesmo que, às vezes, o talento jogasse contra.

“Fiz cinco gols contra em um ano, mas o Vasco foi campeão carioca, em 1970. Depois não fiz mais. Fiz a favor. É intriga da oposição”, gargalha o ex-jogador, aos 65 anos, desdenhando a fama de rei do gol contra, apesar de ter sido atacante no início da carreira.

“Sempre joguei no ataque, arrebentava. Mas depois me colocaram na lateral. Cresci e fui parar na zaga para quebrar galho e quebrei galho a vida inteira”, relembra.

Curiosamente, a improvisação caiu como uma luva. Alto, magro, veloz e muito forte - graças ao condicionamento físico que ganhou na escola militar em Deodoro, onde era paraquedista - Renê era carne de pescoço: “Acabava o jogo inteiro e queria jogar mais. Era viril, apesar de algumas pessoas me acharem violento. Mas sempre ia na bola.”

Tanto ia que foi convocado para a seleção brasileira em 1973, para um amistoso contra o Resto do Mundo. Mas um incidente no jogo entre Vasco e Olaria, no Carioca de 1973, mudou de vez o seu destino. Ao reclamar de um impedimento, Renê acertou o juiz Carlos Costa e foi suspenso

“Ele estava roubando, fui reclamar, ele me xingou e parti para cima. Acabei escorregando e dei uma cabeçada nele. O campo estava molhado. Se tivesse dado para valer ele teria se machucado. No julgamento, ele admitiu que eu poderia ter escorregado. Mas um jornalista passou a semana inteira dizendo que eu havia dado por querer. Ele me queimou e peguei um ano de suspensão”, diz Renê.

Porém, seu drama não acabou aí. No jogo da volta, Renê se machucou no clássico com o Botafogo.

“Em um lance acidental com o Nilson Dias quebrei meu pé. Parecia até praga. Depois disso, não tive mais chances na Seleção”.

Após se recuperar, Renê jogou até o fim de 1976 no Vasco. Depois passou por Botafogo e Bangu até encerrar a carreira no Atlético-PR.

“Tinha 37 anos. Jogava com Washington e Assis. Era um timaço”, frisa Renê, que espera um chamado do Vasco, de onde é funcionário desde 1997, para voltar à ativa.Enquanto isso, curte a merecida aposentadoria em Vila Isabel. Poderia ter bairro melhor?

Veloz e bom marcador, jogava até como líbero

Graças à boa forma física e à velocidade, Renê praticamente jogou de líbero nos clubes em que passou.

“No Bonsucesso eu atuava com três zagueiros. Hoje falam muito de líbero, mas a gente já jogava assim no passado. Eu defendia e saáa para atacar. Mas voltava rapidamente, porque tinha muito preparo físico”, relembra.

Observador do futebol, Renê lamenta que atualmente os zagueiros se agarrem tanto na área.

“Agarrar é a maior burrice. É só colocar um cara bom de cabeça no primeiro pau, para a bola não passar baixo e deixar um cara que tenha velocidade, boa impulsão e tempo de bola para marcar a bola que viaja. Se você subir parado com o atacante que vem de frente, vai perder sempre”, ensina o ex-xerifão.

Ele jura que não fez o pênalti do milésimo gol de Pelé

Até hoje Renê é procurado por jornalistas para falar sobre o lance que resultou no milésimo gol de Pelé. Um pênalti que ele jura não ter cometido.

“Não foi pênalti, mas colocaram na minha conta. Naquele dia achei que iam acabar com minha carreira. Era recém-chegado ao Vasco. Pedi ao Pelé para não fazer o gol, mas o ‘negão’ disse que não tinha jeito. Na época, fiquei chateado, só que o tempo passou e hoje dou entrevista sobre o gol. Foi uma honra”.

Mas o jogo do milésimo gol de Pelé não foi o mais importante da carreira de Renê.

“Foi contra o Fluminense, que o Vasco era freguês. O clássico estava empatado em 1 a 1 quando teve uma falta no segundo tempo. Gritei para o Edu me esperar. Corri para área e fiz de peixinho. Ganhei todos os prêmios do jogo. Mas o melhor foi ouvir depois o Cid Moreira dizer: “Desta vez, Renê não marcou contra”, brinca Renê, sorrindo.



Fonte: O Dia

Nota da NETVASCO: De fato, não foi Renê quem cometeu o pênalti que resultou no milésimo gol de Pelé, e sim Fernando.