Montoya conduzia a bola no treino de quarta-feira. Habilidoso, o colombiano tenta colocar a bola entre as pernas do adversário e erra. Adilson Batista, acompanhando de perto a jogada, grita:
- Tem que parar com essa porra. A atual fase do Vasco não está para dar caneta e gracinhas!
A reação, imediata e enérgica, é daquelas que impõe respeito do técnico perante o grupo. Nem sempre esta relação segue tranquila, como mostra outra passagem do treinador em outras equipes - o Corinthians foi um exemplo - e o próprio curso de interelacionamentos que o treinador fez no período sabático que teve no ano passado. Mas é o jeitão Adilson Batista. E em uma partida deu resultado. No dia a dia também, em relatos de jogadores, só vem agradando.
A cena com Montoya não foi a primeira bronca de Adilson. Num dos primeiros treinos, o jovem volante Baiano deu um chute no vácuo - lance que ficou famoso com Valdivia, no Palmeiras - e pouco depois de ouvir um "para que isso?", o jogador foi para a reserva no coletivo do treinador. Na descrição de uma pessoa do departamento do futebol, o novo comandante toma atitude igual a de um pai que vê o filho o ano todo indo mal no colégio, que fica em prova final e não será na hora da prova de recuperação que vai receber "beijinhos". A cobrança é intensa e fica clara aos ouvidos mais atentos na beira do gramado de São Januário. Bem-humorada, Adilson brincou na coletiva de imprensa sobre suas broncas nos atletas.
- Vocês estão com ouvido bom, hein? Mas a ideia é seriedade mesmo. A situação é de responsabilidade, comprometimento com o clube, com o torcedor, com os objetivos - disse o treinador do Vasco.
Apesar das chamadas mais fortes que às vezes dá, o clima não é de tensão em São Januário. Ao contrário, o técnico está sendo considerado pela diretoria, comissão técnica e jogadores a mudança de ânimo necessária para uma arrancada contra o rebaixamento. O treinador, ex-zagueiro, também aproveitou a sexta-feira, de clima leve, estádio cheio de filas para jogo decisivo, para fazer número no treino tático da equipe. Na avaliação do próprio Adilson, o ex-jogador merecia uma dura do treinador.
- Participei porque o Rodolfo ficou aqui dentro (na musculação). Só fiz uma sombra ali, não era nem questão de saudade de bola. Entrei para complementar. Não escreve que estava no rachão, não, porque não era rachão e eu fui mal demais. Estou pesado - lembrou Adilson.
Outra característica do treinador, a qual os jogadores já estão se acostumando, é a exibição de vídeos antes de treinamentos e jogos. O técnico observa o posicionamento dos jogadores e mostra o que cada um está errando, com jogos do próprio time e também de adversários. Para esse trabalho, ele conta com a ajuda do analista de desempenho Gustavo Nicoline, o único profissional que Adilson trouxe para a comissão técnica. Com jeito caipira, do interior do Paraná, Adilson consegue até agora conquistar o Vasco e administrar a tensão no meio da briga para o time vascaíno escapar do rebaixamento.