Juninho bate na porta antes de entrar na sala de entrevistas coletivas de São Januário, algo que não acontecia desde 16 de setembro. Por mais de 30 minutos, falou sobre diversos assuntos. Abordou o passado ao falar sobre uma lesão antiga no púbis. Sobre o presente, com a confiança de que estará recuperado dela para enfrentar o Santos, neste domingo. E sobre o futuro, no qual resumiu seu sentimento: dúvida. Dúvida sobre o destino do Vasco neste Campeonato Brasileiro e sobre o encerramento de sua carreira.
Sua presença em campo contra o Santos ainda é dúvida também porque ele será novamente julgado nesta quinta-feira sobre os gestos obscenos na partida contra o Flamengo. O capitão do vascaíno usou até a brincadeira para tentar se sair de uma resposta difícil para falar sobre o arrependimento de ter feito o símbolo de uma torcida organizada do Vasco na direção de rubro-negros no Estádio Mané Garrincha, em Brasília.
- Dá pra perguntar no posto Ipiranga? - brincou ele, falando baixo no microfone, em referencia ao comercial de um posto de gasolina.
Confira os principais trechos da entrevista coletiva de Juninho:
Influência de possível rebaixamento na aposentadoria
Se cair ou não, isso não vai influenciar minha decisão. Sou jogador do Vasco e faço parte de um time que ganha e que perde. Tenho a consciência tranquila quanto a isso. O que vai pesar é se tenho condição de ainda ser um jogador que faça a diferença para o time no ano que vem. Essa temporada está mais difícil para a última. Fiz só dois gols desde a minha volta, é uma média baixa. Não tenho uma decisão certa, não é fácil, apesar de pensar sobre isso há muitos anos. Não sei dizer hoje se vou parar. Vou sair de férias dia 8 e tomar minha decisão. Só não quero tomar uma decisão precipitada. Tem uma hora que o ciclo e a história acabam. A minha está chegando, mesmo que seja agora ou não. Minha concentração total é no nosso momento.
Experiência de lutar contra a queda para a Série B
Perdi muitos jogos também. A vida é feita de bons e maus momentos. Essa é a primeira vez que estou jogando uma temporada com risco evidente de cair. Cair para a Segunda num time com a história do Vasco é muito ruim, mas a vida é assim. Não tenho uma resposta para tudo. Fico me perguntando se não precisava passar por isso também. As pessoas têm a ideia de que estou preocupado em arranhar minha imagem como atleta. Isso me incomodaria muito menos do que ter arranhada a imagem como homem. Se cair, vamos cair todos juntos. Seria ruim, mas não posso reclamar. Já tive ótimos momentos aqui também. Sou jogador do Vasco, e tenho minha parcela de culpa quando o time perde e muita contribuição quando o time ganha. Estou sempre aprendendo, e mesmo estando em fim de carreira quero descobrir algo novo que possa fazer. É uma situação nova para mim, então acabo tendo dificuldade de entender. Mas como atleta sempre tenho que fazer o melhor e assumir a responsabilidade. Tenho esperança de vencer domingo e a partir daí isso nos dê confiança.
Sentimento
Dúvida. Esse é o meu principal sentimento hoje. Em relação ao futuro, aos resultados para um jogador que chega ao fim da carreira passando por essas situações. Mas a gente tem que fazer escolhas, e procuro fazer as melhores. Ninguém joga sozinho, então acredito mais em respeito do que união. É um sentimento complicado nesse fim de temporada. É engraçado, porque no ano passado o Vasco brigava pelos primeiros lugares e também estava em crise. Uma crise do futebol brasileiro, onde se briga sempre pelo primeiro lugar. Hoje é uma crise real. Confio na permanência do Vasco, porque se ganha no campo. Mas sempre em alerta.
Troca de treinador no Vasco
Já foram 20 mudanças de treinador no campeonato, e o Vasco optou por isso. Não acho justo falar que agora existe mais comprometimento, porque isso seria dizer que tinha jogador que não estava querendo trabalhar com o outro treinador. Não é por acaso que um clube com mais de cem anos chegou a essa situação. Não dá para dizer exatamente o porquê. Mas também não da para dizer que está ruim, porque em alguns jogos vencemos sem jogar mal. Prefiro acordar antes do que agora. São somente seis jogos, e a margem de erro é pequena, mesmo sabendo que o Vasco e outros times jogaram abaixo da média. A esperança é que estamos nivelados com outros times que estão ali embaixo. É o alerta final, então por isso estão todos ligados.
Mudanças no ambiente do time
Toda vez que muda um treinador... Essa mudança acaba obrigando o atleta a treinar o máximo que puder. A competitividade no elenco aumenta. Sempre no início existe um alerta. Quando o treinador percebe isso, dá sequência e consegue bons resultados, é bom. A mudança é boa para quem não está jogando, está insatisfeito ou não gosta de treinar muito. Sou a favor de manter o trabalho até o fim. O Dorival tem sua parcela, mas não é o único culpado. Não conseguiu passar sua mensagem, e o Adilson deixou claro que a disciplina vem na frente de tudo. Talvez isso tenha deixado o time mais alerta.
Disciplina
Horário tem que ser respeitado. Isso é a comissão técnica quem decide. Quando não tem cobrança, até quem faz a coisa certa acaba deixando um pouco. O Adilson tem começado os treinos no mesmo horário. Não sei se ele realmente tirou o André, o Rafael Vaz e outros da relação por esse motivo. Disciplina é fundamental, mas é algo que precisa vir da comissão técnica. Um time disciplinado fora de campo acaba sendo disciplinado em campo também.
Novo julgamento
De repente foi algum jornalista flamenguista que ligou para o procurador. Para falar a verdade, nem sabia que o recurso seria julgado amanhã (Juninho é perguntado se está arrependido do gesto. Ele faz longa pausa). Algumas pessoas mais próximas dizem que não deveria ter sido feito. Não fiz um gesto para o estádio inteiro. Estavam me xingando muito ali. Foi uma mensagem para dizer que minha torcida é outra. Nem imaginava que todo mundo fosse ver. Não sei se me arrependo completamente ou parcialmente.
Apoio da torcida
Nos últimos anos a torcida se acostumou a viver odiando numa semana e amando eternamente na outra. Quando ela apoiou de verdade e o time deu a resposta no início da partida, as coisas deram certo. A opção pelo Maracanã foi pela expectativa de um publicou maior. Sou sempre a favor de jogar em São Januário, independentemente da situação. Mas o apoio vai ser fundamental. Como eles dizem, o sentimento não pode parar. É uma força extra, é mais um jogador que pode nos ajudar muito.
Lesão
Tenho lesão de púbis desde 1997, e hoje imagina como é o púbis de jogador operado e jogando esse tempo todo. Tenho estado no limite, evito tomar muito anti-inflamatório. Por ontem e por hoje, acho que vai dar para participar do jogo. A tendência é treinar normal amanhã e diminuir a carga a partir de sexta. Espero conseguir jogar domingo, porque nós precisamos de todos nas melhores condições. Sou um jogador que lança, que bate na bola parada, e isso limita o que eu tenho de melhor. Fui operado em 98 com uma técnica que nem se faz mais. Nunca fiquei completamente zerado, mas faço tratamentos que aliviam um pouco. Mas vai chegando uma hora que vai puxando de um lado e de outro e fica complicado. É assim como todo jogador em fiz de carreira, seja púbis, joelho ou tornozelo. Isso nunca mais tinha me incomodado como foi no último jogo. Mas pelos treinos da semana, vou ter condições de jogar.
Marlone
É um jogador de muito futuro. Fico feliz porque, além do jogador, é um ser humano extraordinário. Não teve uma formação ideal, subiu com muitas deficiências e por isso demorou a estourar. Hoje é fundamental, evoluiu muito na parte física e ainda precisa melhorar na parte tática. Pode ir futuramente para a Seleção e fazer carreira na Europa. Não é empolgado, sabe que sempre precisa se preparar para o próximo jogo. Espero que mantenha o nível nas últimas partidas, porque tem sido nossa válvula de escape. Precisamos muito dele.