O sonho de marcar gols em uma decisão de campeonato e ouvir a torcida gritando seu nome ficou no passado para o jovem Fábio Schuch. Agora, o ex-armador que desistiu da carreira profissional após ser recusado em peneiras de Vasco e Fluminense está perto de se tornar o árbitro mais jovem do futebol carioca. E adotando 'linha-dura'. Tendo completado 18 anos em junho, o jovem admite ouvir brincadeiras ao apitar partidas, mas diz que a postura firme tem conquistado o respeito de atletas e treinadores.
Schuch é aluno da Eaferj (Escola de Arbitragem da Federação de Futebol do Rio de Janeiro) e se formará em dezembro, junto de colegas na maioria mais velhos. A média de idade do curso, que dura 11 meses, é de 23 a 24 anos. A decisão de tentar carreira no apito começou com situações curiosas em partidas, mas o ex-jogador, que atuou por São Cristóvão e equipes menores, diz acreditar que a juventude não será problema.
"Quando entrei na sala para o primeiro dia do curso, perguntaram a minha idade e se estava no lugar certo. Outro momento engraçado aconteceu logo na primeira partida que fui apitar. O técnico de uma das equipes me viu na beira do campo e perguntou se eu iria jogar, ficou assustado pois era maior que os garotos do time dele. Outros atletas também sempre perguntam se vou entrar em campo", contou Schuch.
Durante o curso, os futuros juízes atuam em jogos do Carioca sub 11 e 13, além de serem relacionados como 4º árbitros nos duelos de sub 15 e 17. Para chegar à séria A do Estadual, o jovem estudante ainda levará ao menos quatro anos, podendo pular etapas se tiver bom desempenho na análise da comissão de arbitragem, que inclui observadores técnicos.
Até optar pelo apito, não foram apenas as decepções em peneiras de Vasco e Fluminense que fizeram o jovem desistir do futebol. Schuch diz que também deseja cursar uma faculdade - está em dúvida entre jornalismo e educação física - e que seria difícil conciliar a rotina de treinamentos, jogos e aulas. Com fala mansa e pausada fora das quatro linhas, o ex-jogador diz que mantém a disciplina em campo, o que já rendeu até expulsão.
"Até o último jogo, não tive problemas. Estão respeitando. A gente orienta antes, explica aos capitães para que só eles falem com os árbitros, e com respeito. Mas os pais nas arquibancadas muitas vezes colocam muita 'pilha' e os garotos vão no embalo. Expulsei o massagista do Friburguense, que estava xingando e falando vários palavrões. Disse que ele deveria dar exemplo aos garotos", declarou Schuch.
Sem um 'ídolo' na arbitragem nacional, o jovem diz tentar aprender as principais qualidades de cada apitador. Já acompanhou palestras do ex-árbitro Fifa Carlos Eugênio Simon e Péricles Bassols. Além disso, na visão de Schuch, ter disputado torneios de categorias de base pode colaborar durante o novo trabalho.
"A gente tem uma noção por já ter jogado campeonatos na base, ter vivido os dois lados. Isso ajuda no momento de saber se um jogador tentou simular uma falta ou houve mesmo contato, em contusão. Ajuda, mas não é fundamental", disse Schuch.
'Vaquinha' para os jogos
Partidas distantes do Centro do Rio de Janeiro, em locais como Itaboraí, Campo Grande e Xerém fazem parte da rotina dos futuros árbitros. Para alguns locais, a federação de futebol ainda disponibiliza transporte. Em outros casos, o jeito é improvisar. Até mesmo vaquinha para dividir a gasolina faz parte do caminho para o sucesso nos apitos.
"Quando não há vãs da federação, o quarteto de arbitragem escalado costuma conversar e quem tem carro oferece carona. Fazemos uma 'vaquinha" e dividimos a gasolina", conta o jovem de 18 anos.
Fonte: UOL