Sócios-torcedores bancam clubes cariocas, mas reclamam dos serviços

Sexta-feira, 01/11/2013 - 12:33
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Com fortes campanhas de publicidade, descontos em ingressos e até em produtos de supermercado, o número de sócios-torcedores dos grandes clubes cariocas aumentou em quase 75 mil em 2013. Os desafios, no entanto, ainda são grandes.

Com planos novos, como os de Fluminense e Flamengo, e repaginados, no caso de Botafogo e Vasco, torcedores ainda têm sofridos com filas, problemas técnicos, e demora no recebimento das carteirinhas. O controle do número de ingressos por sócios também tem sido problemático.

O ESPN.com.br destrinchou todas as modalidades dos quatro programas de sócios-torcedores dos grandes clubes cariocas, e levantou pontos positivos e negativos.

Sucesso de público

Com mais de três anos de existência, o "Sou Botafogo" apresentou crescimento de quase 200% entre janeiro (4.193 sócios) e outubro (11.190 sócios) de 2013. Também dono de um programa mais antigo, o Vasco passou de 6.515 para 13.101 associados no mesmo período.

Menos de um ano após lançar o "Sócio Futebol", em novembro de 2012, o Fluminense hoje possui 21.017 sócios. "Caçula" da turma, o "Nação Rubro-Negra", do Flamengo, já conquistou 39.725 sócios desde o seu lançamento em março deste ano. Todos os números são do Movimento por um Futebol Melhor, que dá ainda descontos em produtos de supermercado, incentivando a associação de torcedores.

Descontos, promoções e até direito de voto

Apesar do crescimento simultâneo, as condições oferecidas por cada clube são bem diferentes. No Botafogo, a aposta é em descontos vantajosos no preço dos ingressos. A modalidade "Sem Fronteiras", destinada, sobretudo, a torcedores que vivem fora do Rio de Janeiro, oferece desconto de 50%. Por R$ 60, a modalidade "Acima de tudo" garante acesso ao setor Oeste do Engenhão e Sul do Maracanã em jogos com mando do clube. Há ainda um plano "de luxo" - o "VIP" - e um destinado a crianças, chamado "Kids".

A aposta em descontos é parecida com a do Fluminense, embora o Tricolor só tenha uma opção de plano. Com o "Sócio Futebol", o torcedor paga R$ 29,90 para ter descontos nos ingressos. Com a má fase do time no Campeonato Brasileiro, a diretoria fixou o preço em apenas R$ 2 para os associados durante o mês de setembro. Além disso, os torcedores têm direito a frequentar os espaços da sede ligados ao futebol - loja oficial, museu do clube, etc. - e a votar para presidente após dois anos de adimplência. Este último ponto, especificamente, gerou polêmica na época da aprovação do programa, e o Flu é o único clube a permitir que seus sócios-torcedores votem.

O Vasco é quem menos tem investido no programa de sócio-torcedor. A única modalidade existente chama-se "Vascaíno de Coração", e oferece como vantagem solitária um guichê exclusivo. O valor é de R$ 20 mensais, além de R$ 15 pela emissão da carteirinha. Somando-se à má fase do time dentro de campo, o clube tem tido uma queda assustadora no número de sócios. Em outubro, 3.625 torcedores cancelaram o plano ou deixaram de pagá-lo.

Quem tem apostado de maneira mais ambiciosa é o Flamengo. O clube cobra R$ 39,90 pelo plano mais barato - o "Raça", e R$ 199,90 pelo "+ Paixão", o mais caro. Há, ainda cinco opções intermediárias, nos valores de R$ 69,90, R$ 99,90, R$ 129,90 e R$ 159,90. A vantagem é um desconto de 50% nos ingressos para todas as modalidades. Os torcedores que optarem por pagar mais ainda têm promoções especiais que variam de jogo a jogo, e têm prioridade na hora de garantir presença nas partidas. Para o jogo contra o Goiás, por exemplo, pelas semifinais da Copa do Brasil, os 50 primeiros sócios das duas modalidades mais caras terão desconto integral nos ingressos. Há ainda a possibilidade de adicionar dependentes nos planos mais custosos.

Planos diferentes, problemas semelhantes

Se as diferenças entre as ofertas de cada clube são bem consideráveis, as semelhanças aparecem, sobretudo, nos problemas. Botafogo, Flamengo e Fluminense oferecem a possibilidade de utilizar a própria carteira de sócio-torcedor como ingresso, que é carregado eletronicamente.

Esta vantagem teórica, no entanto, custou a se verificar na prática. Mandando seus jogos no Maracanã desde agosto, o Botafogo só compatibilizou as catracas com a tecnologia utilizada nas carteiras na partida do último domingo, contra o Atlético-MG. A demora, que aconteceu devido à troca da empresa que gere o programa de sócio-torcedor, proporcionou longas filas em todas as partidas do Alvinegro que receberam bom público no Maracanã, e alguma confusão no acesso ao estádio.

O Flu, que também teve muitos problemas na vitória por 1 a 0 sobre o Cruzeiro, no dia 31 de julho, foi mais rápido, e adaptou as catracas ainda no mês de agosto, na derrota para o Santos. O Fla agiu logo em seguida, e implementou sua tecnologia no início de setembro. Todos os clubes, no entanto, ainda têm problemas com filas de sócios que ainda não receberam suas carteiras. O Vasco, que sequer utiliza a tecnologia, também sofreu com muita confusão na retirada de ingressos de sócios no jogo da última quinta-feira contra o Goiás, no Maracanã.

No caso específico do Botafogo, os problemas técnicos foram bastante frequentes no período de troca da operadora do programa de sócio-torcedor. Segundo pesquisa de Caio Araújo, blogueiro do clube no Globoesporte.com, 670 de 1.284 não-sócios entrevistados revelaram não aderir ao programa por falta de benefícios. Entre as reclamações, destacaram-se problemas de pagamento e contato com os associados.

"Fui sócio por 12 meses, nunca recebi o que me foi prometido. Quando meus 12 boletos terminaram, fui à sede pedir mais boletos, pois queria continuar sendo sócio. Por mais incrível que possa parecer, não consegui receber os boletos impressos para pagar. Então desisti", afirmou o entrevistado Eduardo, de 23 anos.

A demora no recebimento das carteirinhas foi outro ponto recorrente na pesquisa. Outra questão é a ausência de controle no número de ingressos por cada sócio, que ocorreu, sobretudo, enquanto o Maracanã não estava adaptado à tecnologia das carteiras de sócio. No Fluminense, o mesmo problema se verificou.

"Eu já tinha retirado o meu ingresso, mas esqueci na casa de um amigo. Na hora do jogo, eu fui de novo na fila de sócio e retirei outro sem problema nenhum. Acabou que eu só usei um ingresso mesmo, mas uma pessoa mal-intencionada poderia distribuir ingressos para quem quisesse, ou até vender", revelou Felipe, de 20 anos.

No Flamengo, a ausência de benefícios tem sido criticada por sócios. O estudante de Comunicação Social Daniel, de 21 anos, já teria direito à meia-entrada, mas associou-se ao programa mesmo assim. Ele admitiu que não tem muitas vantagens além da ajuda financeira ao clube do coração.

"Não tem muitas vantagens, não. Nesse quesito eu acho bem fraco. O que tem de desconto é em alguns produtos de mercado e 10% de desconto em qualquer produto na loja da fornecedora de material esportivo. Além do desconto no ingresso, também entrei para ajudar o clube. Mas ainda acho que estão devendo, poderiam oferecer mais vantagens", criticou.

Torcedores 'compram' ajuda financeira a clubes

Em meio a problemas técnicos e benfícios dos mais variados, a ajuda financeira aos clubes, citada por Daniel, é destaque. Em contato telefônico da reportagem do ESPN.com.br com o programa de sócio do Vasco, o próprio atendente "vendeu" o plano como uma medida para ajudar o clube financeiramente. Os próprios torcedores têm ido além, com campanhas como o "Vasco Dívida Zero", para ajudar a sanar os problemas financeiros cruzmaltinos.

No Flamengo, a ajuda tem sido adotada como estratégia de marketing. Além do próprio vice-presidente do setor, Luiz Eduardo Baptista, ter admitido que o plano era mais vantajoso ao clube do que era aos sócios, os auto-falantes do estádio Orlando Scarpelli proferiram frases neste sentido na partida do dia 5 de junho contra o Náutico.

"Torcedor, ajude a transformar o Flamengo na maior potência esportiva do mundo. Não é do Brasil, não. É do mundo"; "Tem gente que só reclama, reclama, e... na hora de ajudar, cadê?"; "Vai esperar mais quanto tempo?"; "O Mengão está se recuperando, mas todo mundo precisa fazer sua parte"; "Não pode só torcer. Tem que fazer alguma coisa" foram algumas chamadas utilizadas. O perfil do clube no Twitter também tem sido utilizado para campanhas desta natureza.

Os números, no entanto, mostram que Vasco e Flamengo não erram no "approach". Se o "Vascaíno de Coração" tem apresentado queda, o Vasco Dívida Zero já arrecadou quase R$ 750 mil em dívidas sanadas desde junho de 2013. O Flamengo, mesmo com o plano mais caro e mais novo, já soma quase o dobro do número de sócios-torcedores do segundo colocado Fluminense, e segue crescendo.

Mas o número mais representativo a esse respeito vem do Botafogo. 596 dos 673 sócios-torcedores entrevistados por Caio Araújo (89%) classificaram a possibilidade de ajudar o clube financeiramente como ponto positivo do programa. Um alento para os clubes e para os torcedores na luta, como diz a campanha, por um futebol melhor.



Fonte: ESPN.com.br