“Vou torcer pro Vasco ser campeão
São Januário,
Meu caldeirão”
É assim que, a plenos pulmões, extravasa a torcida vascaína mesmo em partidas não jogadas no tradicional estádio da zona norte carioca. Não há que se questionar a áurea, as tradições e a importância patrimonial do único estádio particular entre os grandes do Rio. Mas em tempos de novas arenas e crescentes bilheterias, será mesmo que São Januário proporciona ao Vasco aquilo que se espera? E esportivamente? A pressão exercida vem ajudando o time na luta contra o rebaixamento ou o caldeirão estaria mais para “fogo brando”?
A começar pelo último questionamento, o aproveitamento do Vasco em São Januário surge como verdadeiro elo de ligação à Série B. Dos 21 pontos em jogo, o cruzmaltino ganhou apenas oito (38%) – percentual historicamente incapaz de salvar do rebaixamento. Somando os demais jogos como mandante (Volta Redonda, Macaé, Brasília, Florianópolis e Maracanã) o aproveitamento sobe para 44%: foram 12 pontos em 27.
Se pelo lado esportivo as coisas vão mal, presumem-se receitas compensatórias pela condição de “estádio próprio”, certo? Errado.
Mesmo tendo feito quase metade de suas partidas em São Januário (sete de um total de 16), o estádio representou apenas 14% da renda bruta do Vasco no Campeonato Brasileiro. Foram apenas R$ 1,6 milhão arrecadados em meio ao total de R$ 11,8 milhões. Sob a ótica líquida, a coisa piora: São Januário responde por míseros R$ 302.016,65 – correspondentes a 10% dos R$ 2,9 milhões de bilheteria líquida. É como se a cada jogo por lá, o Vasco lucrasse cerca de R$ 43 mil, embora em duas ocasiões o saldo tenha sido negativo, ou seja: o Vasco pagou pra jogar dentro de sua própria casa.
A comparação com os demais estádios por onde os vascaínos se apresentaram é bastante desfavorável. Com exceção dos fiascos do interior do estado – prejuízo em três dos quatro jogos em Volta Redonda e Macaé – São Januário se sai pior do que todos os demais. O Mané Garrincha sobra, tendo sido responsável por 69% da arrecadação bruta e quase 80% da líquida. Um único clássico no Maracanã gerou renda igual à dos sete em São Januário. E nem mesmo a Ressacada fez feio com relação a seus resultados financeiros.
Jogando em São Cristóvão, a renda líquida representa 18% da bilheteria total. A título de comparação, o Maracanã – tido e havido como estádio caro – apresenta relação de 21%, ante 25% da Ressacada e quase 29% de um Mané Garrincha onde 2/3 dos lucros foram compartilhados com o Flamengo. Diante destes números, se desfaz por completo a vantagem de possuir um estádio particular.
Quais as opções? O ticket médio (cerca de R$ 27) não soa inapropriado se considerarmos o pouco que oferece um estádio antigo, acanhado e sem boa localização. Assim, o número de torcedores deveria ser maior. Em média, foram 8.899 pagantes nas sete partidas, 32% menos que a média geral de 13.195 do próprio Vasco da Gama.
Já o aumento do ticket médio só se justificaria mediante completa remodelagem de São Januário ou através da maior utilização do Maracanã. Por lá, mesmo partidas de baixo público como Botafogo 2 x 2 Vasco (9.795 pagantes) rendem aos cofres quantias superiores a R$ 200 mil – no caso, lucro auferido pelo Botafogo. É como se um jogo valesse por cinco.
Importante dizer que alguns estudos apontam correlação da média de público com a capacidade do estádio. Por esta ótica, a ideia de “transferir para uma arena de menor porte todos os 20 mil torcedores do Maracanã” soa falaciosa, pois no estádio acanhado haveria 10 mil ou menos. Coincidência ou não, é exatamente o patamar onde se encontra o Vasco em São Januário. Assim, a tendência seria de maior número de vascaínos num estádio de maior capacidade.
Independente do que vier a ocorrer, a viabilidade do Vasco da Gama a longo prazo passa pela renovação – de ideias, estrutura física e dirigentes. Infelizmente não é o que se verifica no contexto atual. O embate político entre a mesmice de hoje e a de antigamente faz com que clube e torcida sejam os maiores prejudicados.
Fonte: Blog Teoria dos Jogos - GloboEsporte.com