Nenê abriu o coração, deixando à mostra uma emoção intensa e quase tão grande quanto seus 2,11m. Nesta quinta-feira, depois do primeiro treino do Washington Wizards na HSBC Arena (o Chicago Bulls treinou no Flamengo), o pivô falou em como se sente um privilegiado por ter sido o primeiro brasileiro a ter feito temporada completa numas das ligas mais importantes do planeta, há 11 anos, e sobre os problemas - inclusive de saúde - superados para estar onde está hoje, nas vésperas de participar do histórico primeiro jogo de exibição da NBA na América do Sul, entre o Washington e o Chicago Bulls.
- Quando desembarcamos no aeroporto e passamos de ônibus (pela Linha Vermelha), apontei para meus companheiros de time o lugar onde eu treinava, o Vasco, e eles me perguntaram: "Você treinava aí?" (surpresos porque São Januário fica cercado por uma favela, a Barreira do Vasco). Depois, quando passamos pelo Centro, eles começaram a se admirar. É uma lição para eles, porque aqui, a coisa bonita está na simplicidade com que se recebe e no modo com que se vive. Aqui, existe este equilíbrio entre pobreza e riqueza - comentou ele, sem mágoas do Vasco, de onde teve uma saída conflituosa, rumo ao Denver Nuggets. - O que aconteceu foi necessário para o meu crescimento e para poder dar conselhos mais na frente.
De volta ao Rio, Nenê não escondeu as saudades do clima dos clássicos de basquete entre o Vasco e fortes adversários como Flamengo, Fluminense e Botafogo, no começo dos anos 2000. Ainda jovem, com 21 anos, ajudou a forte equipe vascaína da época a ser bicampeã nacional em 2000 e 2001. Em 2002, com apenas 20 anos, chamou a atenção do basquete americano. As recordações daquela época são boas:
- Só sabe explicar quem viveu. Eu me lembro de como eram as torcidas de futebol apoiando o basquete. Dá muita saudade, e o Rio continua lindo - declarou.
Nenê explicou algumas diferenças entre as torcidas de grandes clubes de futebol que apoiam o basquete e as dos times de basquete americanos, que se baseiam em suas cidades:
- Qualquer torcida de futebol que apoie o basquete é mais intenso. É algo que borbulha, por causa das grandes rivalidades. Nos Estados Unidos, há rivalidades entre cidades. Não é que seja algo mais frio, mas é uma intensidade diferente daquela entre torcidas de times de futebol.
Em meio às tranças, alguns cabelos brancos já se fazem notar na cabeça do pivô, nascido a 13 de setembro de 1982, em São Carlos (SP). Segundo ele, o perfil dos atletas da NB mudou muito nos últimos anos.
-A galera jovem que está entrando tem de saber que você tem de matar um leão por dia e tem de mostrar a cabeça dele, depois de arrancá-la - comparou. - Quando eu cheguei, havia uns oito veteranos no time, e hoje em dia é muita moleacada. Queremos resgatar aquela humildade de ouvir os mais velhos, de levar a bagagem (do time), carregar a água...
Bem humorado, falou sobre os fios brancos na cabeleira:
- Meus cabelos brancos são da experiência. Apesar de 31 anos, passei por várias provações espirituais, sentimentais e profissionais.
Fonte: O Globo online