Como atletas da categoria Sênior A – Aberta – do remo, ou seja, atletas que já passaram pelas categorias de base e estão, em tese, no auge tanto em termos de idade quanto, principalmente, de desempenho, o Vasco da Gama só tem dois, o que é reflexo da queda brusca que o esporte fundador sofreu no clube: exatamente dois dos principais remadores em atividade em clubes brasileiros, senão os principais, os argentinos finalistas olímpicos e de Campeonato Mundial Ariel Suárez e Cristian Rosso, que só vem para o Rio de Janeiro dias antes o suficiente das regatas de que participarão para que possam efetuar os treinamentos na Cidade Maravilhosa. Ao longo dos últimos anos, em que os investimentos foram drasticamente cortados, a Divisão de Remo do clube perdeu todos os seus outros atletas de ponta.
Fazendo um trabalho de reestruturação na base diante de tantas dificuldades, com diversos atletas de qualidade sendo formados em casa, desde a escolinha até o Júnior e o Sub-23 (Sênior B), fica nítida a importância para essa garotada de ter a oportunidade de conviver por algumas semanas e até remar no mesmo barco com atletas de ponta que já tiveram a oportunidade de participar de todas as principais competições do calendário do remo internacional. Entretanto, manter Ariel e Cristian no Vasco tem um custo, tanto do que é pago mensalmente a eles quanto das viagens para que eles compitam no Rio de Janeiro. Neste ano de 2013, quando, devido a uma lesão gravíssima de Ariel que o afastou por três meses até dos treinamentos, eles até o momento participaram de apenas duas regatas no ano pelo Vasco, a 1ª e a 5ª do Estadual (respectivamente no four skiff, ao lado do master Oswaldo Kuster Neto e do sub-23 Marcos Ibiapina, e no 4 com, também com Marcos e com o sub-23 Felipe Damazio, em ambas terminando na terceira colocação), e participarão em outubro do Campeonato Brasileiro (nesta semana, de quinta-feira a domingo) e da última regata do Estadual, no dia 20. Eles ficaram de fora do double skiff do Estadual, na 2ª regata, prova para a qual são referência mundial e tidos como franco favoritos caso participassem, e somente agora passarão a participar das provas nas quais são especialistas: single e double skiff no Brasileiro e single skiff na 6ª regata do Estadual.
Diante de tudo isto, fica a pergunta: ponderando o custo-benefício, vale a pena mantê-los no clube?
O comandante da comissão técnica do remo vascaíno, o treinador Marcelo Neves, defende intensamente que sim, e reitera isto sempre em reuniões com os dirigentes da Divisão de Remo do clube. Ele é partidário da permanência de ambos por conta de dois vieses: o de os dois vencerem as suas provas na categoria Aberta, principalmente o single e o double skiff, e o de servir como espelho a essa garotada que vem crescendo dentro da Sede Náutica da Lagoa e obtendo resultados muito bons durante este ano de 2013, mesmo diante de todas as grandes dificuldades:
- Volto a dizer que a presença dos argentinos, apesar de algumas vezes o resultado não ser o melhor, é importantíssima também aqui dentro da garagem. Dar a esses garotos novos a possibilidade de que eles remem no mesmo barco com atletas finalistas de Olimpíada é uma coisa ímpar. Eu sempre coloco para a direção: eles não são importantes somente ganhando a prova deles, mas eles são importantíssimos também dentro da garagem, como exemplo, como aquele norte a ser seguido. Esse espelho que eles representam para os garotos é muito importante. Às vezes as pessoas falam que a gente não tem equipe de sênior e está mantendo os argentinos, mas eu digo que vale a pena mantê-los. Eles são um grande exemplo de onde é possível se chegar como remador.
Marcelo Neves, pensando grande, já vislumbra a possibilidade de trazer dois atletas do país da categoria Aberta para que possam compor com os argentinos barcos fortes também nas guarnições de quatro remadores e, desta maneira, o Vasco disputar o Campeonato desta categoria:
- Nós temos é que no ano que vem trabalhar para buscar mais dois atletas nacionais que possam com eles compor os barcos de quatro também. Temos o Marcos Ibiapina despontando, ele é muito novo, recém saiu do Júnior, é uma possibilidade forte, principalmente para ajudá-los na parlamenta dupla, mas a gente precisa reforçar o nosso plantel. Alguns pensam que o melhor seria dispensar os argentinos, tão caros, mas eu penso diferente: o melhor é trazer mais dois atletas que possam com eles compor a maior parte dos barcos e, com isso, possibilitar ao Vasco no ano que vem a disputa da categoria de sênior A, a Aberta. O certo é, em vez de diminuir, subtrair, a gente somar, é buscar esses outros dois atletas a nível nacional que possam com eles dois compor barcos mais fortes para que nós não tenhamos apenas vitórias em barcos de um e dois remadores, mas em barcos de quatro e até mesmo de oito remadores. E, com isto, em 2014 possamos disputar o Campeonato da classe aberta. Então a manutenção deles é importantíssima.
Marcelo ressalta que os dois alcançaram feitos que os remadores buscam alcançar a carreira toda e que na maioria das vezes não conseguem: chegar à final A das principais competições do calendário internacional. E eles estão com este posto hoje em dia, afinal chegaram em quinto lugar no último Campeonato Mundial, disputado de 25 de agosto a 01 de setembro deste ano na cidade sul-coreana de Chungju. No ano passado, ficaram muito perto de conquistar medalha nos Jogos Olímpicos de Londres, terminando na quarta colocação após avançar à final com o melhor tempo das semifinais. Ratificando ainda mais o exemplo que essa dupla representa à garotada, Ariel Suárez correu o risco de parar de remar, ficou três meses sem treinar e dois meses acamado devido a uma grave infecção bacteriana que sofreu e que prejudicou o funcionamento de seu sistema respiratório. Ainda assim, menos de dois meses após voltar a competições oficiais, voltou a estar na elite do remo ao terminar em quinto lugar no Mundial ao lado de Cristian, no double skiff.
- O maior exemplo do Ariel neste ano foi ter um problema de saúde gravíssimo, conseguir se recuperar desse problema apenas três meses antes do Campeonato Mundial e conseguir entrar numa final, ficando entre os seis melhores do mundo novamente e repetindo o feito que tiveram na Olimpíada. É muito difícil para qualquer atleta do mundo estar numa final. Na nossa comunidade internacional do remo, quando você fala que um atleta é finalista A, isto é, entre os seis primeiros do mundo, ele é tratado no mundo todo com muito respeito – enfatizou o treinador.
Marcelo conta que o último atleta que o Vasco teve que desempenhou esse papel foi a campeã mundial em 2011 e quarto lugar no Mundial deste ano, Fabiana Beltrame, que foi para o Flamengo diante do grande corte investimentos e dos enormes atrasos nos pagamentos que fizeram quase todos os atletas de ponta saírem do clube. Como têm seus clubes e suas vidas tranquilas em termos financeiros na Argentina, Ariel e Cristian, apesar de receberem convites de clubes rivais do Rio de Janeiro, diante dos laços que criaram com o Vasco não veem a urgência de sair diante desses problemas de ordem financeira vividos pelo clube. Em entrevista concedida com exclusividade ao Blog CRVG – Em Todos os Esportes/SuperVasco em março, cujo conteúdo recuperamos aqui, Cristian foi bem direto ao falar do afeto da dupla em relação ao Vasco, e mostra confiança de que o remo vascaíno voltará em breve ao caminho das vitórias. Ele afirma que jamais pensaram em deixar o clube em virtude dos problemas (relembre a íntegra clicando aqui):
- Nos sentimos parte da família do Vasco. Estamos acostumados na Argentina a ter um afeto muito grande ao clube em que competimos. Na Argentina não se está pensando em mudar de clube, nunca. Se tiver alguma dificuldade, alguma adversidade, trata-se de superá-la, de melhorar, mas nunca mudar de clube. Então esse mesmo sentimento que temos por nosso clube na Argentina começamos a ter aqui no Vasco. E, seguramente, por ser um clube tão antigo e com tanta tradição, superará esse momento de dificuldade e no futuro voltará a ser o melhor clube do Brasil - acredita Rosso.
Diante do exemplo de Ariel de ir de quase parar de remar a uma final de Mundial em poucos meses, Marcelo ressalta que isso mostra à garotada que eles nunca podem desistir. Para se ter uma noção da importância deles aos jovens, após a 5ª regata do Estadual, no último domingo, eles aconselharam para que os garotos treinassem mesmo no dia da competição. Além disso, um fato chamou a atenção: a dupla realizou uma espécie de palestra na Sede Náutica após a regata, e a garotada ficou com os olhos grudados, sem perder um detalhe das orientações de quem já disputou final olímpica.
- A gente precisa disso na garagem, o garoto ver que é possível, ter atitudes de nunca desistir, de nunca entregar. Eu sou fã deles, admiro muito eles, não somente pelo que eles fazem dentro d'água, mas a conduta deles, a disciplina que eles têm. Nós já perdemos a Fabiana Beltrame há três anos, que era outro exemplo que tínhamos aqui, e eu torço para que isso não aconteça em relação a eles, para que a gente possa mantê-los para o futuro – acentua Marcelo.
Marcelo sempre ressalta que alguns garotos do Vasco têm o privilégio que ninguém do Rio de Janeiro e do Brasil tem: remar no mesmo barco com dois finalistas olímpicos e conviver por algumas semanas com os dois principais remadores em atividade no Brasil. Isto é, sem dúvidas, muito importante para o desenvolvimento desses jovens enquanto atletas. Diante de tudo isto apresentado no decorrer desta matéria, para finalizar a entrevista concedida ao Blog CRVG – Em Todos os Esportes/SuperVasco, Marcelo Neves responde à pergunta colocada lá no começo do texto, quanto ao custo-benefício de manter Ariel Suárez e Cristian Rosso no Vasco da Gama:
- Tê-los aqui dentro da garagem, se a gente for pesar o custo-benefício, o custo é muito pequeno para o benefício que eles trazem para a gente.
Fonte: Blog CRVG Em Todos os Espotes - Supervasco