O lateral-direito Alessandro ganhou o apelido de "Presidente" no Botafogo pela liderança exercida durante cinco anos vestindo a camisa alvinegra e devido ao enorme vínculo criado. Vascaíno de berço, virou tão botafoguense que não fica em cima do muro em jogos entre o Glorioso e o Gigante da Colina. A torcida é toda pelo clube de General Severiano. Apesar de passagens pelos dois alvinegros mais importantes do Rio e de quase ter disputado uma Copa do Mundo com a camisa da Seleção, a realidade atual é bem diferente. Disputa a Série D pelo novíssimo Metropolitano-SC, de apenas 11 anos. Até então, a experiência é superpositiva. Com apenas oito jogos no Catarinense, foi para a seleção do campeonato, e na Quarta Divisão tem sido um dos pilares do time, que está a quatro jogos do acesso - disputará as quartas de final contra o Juventude.
Já fez três gols na competição, dois especialmente lindos. Primeiro na goleada por 4 a 0 sobre a Lajeadense, na penúltima rodada do primeira fase. O outro foi marcado no último domingo, o segundo da vitória por 2 a 1 sobre o Santo André, e valeu a classificação do Metrô - como é chamado o time - para as quartas de final.
No próximo domingo, o Metropolitano receberá o Juventude em Blumenau, no Estádio do Sesi, às 16h. O jogo de volta, no Alfredo Jaconi, será disputado no dia 22, às 15h30m.
Após ter vestido as camisas de Botafogo, Vasco e dos Atléticos Mineiro e Paranaense, Alessandro soube lidar com o fato de disputar a Série D do Brasileiro. Não se sente menos importante por isso. Sobre seu clube, prevê um crescimento veloz.
- É uma novidade. No futebol tem que se estar preparado para tudo, e hoje vivo o Metropolitano, clube que me recebeu superbem e está se estruturando. Eles têm uns projetos bem bacanas, e tenho certeza: vai virar grande clube pelas intenções que eles têm. Estão construindo CT. Há clubes com 50, 60 ou 70 anos que não têm a estrutura que vão ter aqui - afirmou.
Alessandro chegou ao Metrô no início do ano, mas a rodagem no futebol, aliada à disposição de ajudar jogadores e até mesmo os dirigentes, logo o levou a ser chamado de presidente outra vez.
- Hoje sou tratado assim aqui (como presidente). Sou capitão da equipe, as pessoas me respeitam muito, e temos um grupo muito bom para se trabalhar. Também sou fácil de lidar, não tenho vaidade com nada. Busco orientar sempre os mais jovens que estão saindo da base, orientando, dando força e conversando. Já fazia isso muito no Botafogo. Sou bastante rodado no futebol, vou fazer 16 anos de profissional. O que tenho de rodagem de bola eles ainda não têm como clube (risos). O presidente (Marcelo Romeu Georg) é um botafoguense nato. Ele sempre pergunta como é no Botafogo, como foi em outros clubes por onde passei. Procuro conversar, dou uns toques onde tem de melhorar. Mas as coisas vão melhorar quando o CT estiver pronto. Estou muito feliz aqui, o Metropolitano vem bem forte para subir para a Série C - prosseguiu.
E sobraria tempo para acompanhar o clube do coração diante de tanta dedicação no projeto do Metropolitano? É evidente que sim, ainda mais para um hoje tão fervoroso botafoguense como Alessandro:
- Claro. Estou torcendo muito para que seja campeão ou vá para a Libertadores, mesmo não estando mais ali. Tenho muito carinho pelos companheiros, muitos torcedores têm carinho por mim diante de todo o compromisso que tive com a camisa do Botafogo. Hoje posso me considerar igual a todos que vão ao estádio para torcer, só não xingo jogador (risos).
Hoje ele pode se considerar botafoguense, mas na infância e no início da carreira seu coração também batia em preto e branco. A diferença é que carregava uma cruz de malta no peito. Depois de cinco anos em General Severiano, a cruz perdeu espaço para uma Estrela Solitária.
- Hoje eu posso dizer que sou botafoguense, torço muito. Tinha muito carinho pelo Vasco, o clube onde comecei, e era vascaíno quando pequeno. Mas o Vasco não foi tão apaixonante como o Botafogo, o clube que me fez crescer na profissão. Depois de tudo que passei, virei exemplo de superação. Hoje sou botafoguense. Lógico que uma das melhores fases que vivi foi no Atlético-PR. Fui campeão brasileiro e cheguei à Seleção, mas o Botafogo foi maior do que tudo.
Problema com Edmundo
Menos vascaíno Alessandro ficou em 1997, quando teve de deixar o Cruz-Maltino depois de discussão com Edmundo. O atleta não tem dúvidas de que o problema com a estrela da companhia motivou o fim de sua trajetória pela Colina.
- Quando subi para o time profissional, teve um jogo com o Fluminense e me machuquei num contra-ataque deles em que fui matar a jogada. Torci o tornozelo e fiquei no chão. O Edmundo quis me levantar logo, achou que eu estava fazendo cera e falou para os médicos não entrarem em campo. Aquilo me marcou muito. A gente discutiu ali em campo. O Carlos Germano até saiu do gol para me defender, mas tenho certeza de que aquele atrito foi o que me tirou do Vasco. Aí o (Antônio) Lopes botou o Maricá no meu lugar, e nunca mais joguei pelo Vasco. No outro dia, fui treinar entre os profissionais e vi que não tinha roupa mais para mim. O Eurico (Miranda) resolveu emprestar alguns jogadores para o Campo Grande, e eu era um deles. E não me arrependo. Aí que minha carreira deslanchou. Tenho outros amigos de Vasco que quiseram ficar no clube e não aceitaram ser emprestados, o que acabou não adiantando nada.
Embora não se esquive de perguntas sobre a conturbada passagem pelo Vasco, Alessandro gosta mesmo é de falar do Botafogo. Ele acredita que ainda poderia estar no Glorioso, guarda um certo ressentimento de sua saída, mas garante: viveu coisas muito mais positivas em General Severiano. E cita o título carioca de 2010, contra o Flamengo, como a mais importante delas.
- Lógico que eu não queria sair da forma que foi, mas isso é passado. Vivi coisas muito mais positivas do que negativas lá. Saí sendo campeão em cima do Flamengo.
Vencer o Flamengo era justamente do que Alessandro e alguns companheiros precisavam. Eles estavam rotulados, e o Botafogo corria o risco de sofrer o quarto vice-campeonato consecutivo. Acabar com aquele jejum, ainda mais levando a melhor nos pênaltis durante os 90 minutos daquela decisão, com Jefferson defendendo cobrança de Adriano, e Loco Abreu e Herrera convertendo uma em cada tempo, lavou de vez a alma da torcida.
- Tinha que sair do Botafogo ganhando alguma coisa, não podia sair como alguém que só passou, que só vestiu a camisa. Eu cheguei no Brasileiro de 2007 e tinha perdido dois Cariocas para o Flamengo. Se a gente perdesse aquele campeonato de 2010, isso ia nos marcar negativamente. Eu, Lucio (Flavio), Leandro Guerreiro e Fahel não podíamos perder. Tinha que ser naquele ano, daquele jeito, e tinha que ser em cima do Flamengo. Quando íamos para os pênaltis contra o Flamengo, a gente já dizia "Xiii', vai para a decisão de pênaltis contra o Flamengo, já era". Eles tinham sempre mais capacidade do que a gente nos pênaltis. Graças a Deus, o título foi conquistado daquela maneira durante os 90 minutos. Foi tudo de bom, um ano inesquecível - lembrou, feliz da vida.
Alessandro não esconde que viveu suas maiores emoções no Botafogo, clube no qual as derrotas doeram mais, e as vitórias foram comemoradas com maior intensidade. Porém, o título mais importante foi conquistado com a camisa do Atlético-PR: o Brasileiro de 2001. A ótima campanha o levou à Seleção, a ponto de quase ter feito parte do elenco pentacampeão do mundo.
- Estava sendo convocado direto pelo Felipão. Até hoje ele gosta muito de mim. No último jogo das eliminatórias, em que vencemos a Venezuela, ele reuniu o grupo e disse que o time para a Copa era aquele mesmo e que só ficaria fora quem tivesse lesão. Acabei sofrendo uma lesão, perdi muitos amistosos, e o Belletti, que tinha até pedido para jogar no meio, passou a ser convocado para a lateral. Também me reapresentei atrasado depois do título brasileiro do Atlético, porque praticamente não tivemos férias. O Felipão foi fazer a convocação, ligou para o Geninho (então técnico do Atlético), e eu não estava lá. Mas não acredito que isso tenha prejudicado, o problema principal foi a lesão.