Aquele papo de já ganhou, de fatura liquidada e de jogo para cumprir tabela passa longe de São Januário. O técnico Dorival Júnior e os jogadores dão peso ao discurso da seriedade e do respeito ao Nacional-AM, adversário das oitavas de final da Copa do Brasil. Todos reconhecem que a vantagem conquistada com a vitória por 2 a 0 no jogo de ida é confortável, assumem o favoritismo, mas pisam em ovos ao serem perguntados se a classificação é certa. E é bom que seja assim. Gato escaldado tem medo de água fria, diz o ditado, e o Cruz-Maltino, que está em sua 22ª participação na competição, coleciona pelo menos cinco fracassos traumáticos e vexatórios. Os anos de 1991, 1992, 2004, 2005 e 2007 mostraram que nem sempre o mais forte vence.
- Acho que a gente tem que estar com esse pensamento de que é decisão. Não é porque é o Nacional que devemos ir já achando que ganhamos pelos dois gols de diferença. A gente não pode pensar assim porque já vimos no futebol muitas surpresas. Na minha opinião, não estamos classificados. Temos de entrar como se fosse uma guerra. A gente vai encarar o Nacional como se fosse um Cruzeiro ou qualquer outra equipe - disse o meia-atacante Marlone, de 21 anos, que deve ser titular.
O time, aliás, estará remendado. O zagueiro Rafael Vaz e o atacante André não poderão o defender o clube no torneio, por já terem entrado em campo por Ceará e Santos, respectivamente. Além deles, Fagner foi liberado para ir à Alemanha e acertar sua mudança definitiva e Juninho provavelmente será poupado. O técnico Dorival Júnior ainda vai definir a formação. O rival manauara, porém, já desanimado, deve atuar com uma equipe mista.
No início da década de 90, foram duas eliminações seguidas nas oitavas de final. Em 91, o clube de São Januário ficou fora da disputa ao ser superado pelo Remo. Os paraenses aproveitaram o peso do gol marcado fora de casa e avançaram. Na partida de ida, em Belém, empate sem gols. Na volta, na Colina, empate por 1 a 1. Lição dada, mas não aprendida. No ano seguinte, contra o CSA-AL, nova queda. E com derrota em casa. No primeiro confronto, empate por 3 a 3 em Maceió. Na decisão no Rio, 1 a 0 para os alagoanos (confira o vídeo abaixo que relembra a zebra na Colina).
Dali em diante, o Vasco alternou boas campanhas, como em 93, 94 e 95, quando caiu nas semifinais, e desempenhos ruins em duelos com adversários mais fortes, como Cruzeiro, Atlético-PR, Goiás, Fluminense e São Paulo. Mas nada de chegar à decisão.
Já campeão da Libertadores, conquistada em 1998, o Cruz-Maltino voltou a sofrer duros golpes na Copa do Brasil a partir do ano 2000. Novamente em dose dupla. Em 2004, o time foi eliminado na segunda fase pelo XV de Novembro-RS. Em Campo Bom, empate por 1 a 1. No Rio, uma acachapante derrota por 3 a 0. Os gaúchos, que chegariam às semifinais, eram comandados por Mano Menezes, hoje técnico do Flamengo. Foi aquele trabalho que deu projeção a Mano, que depois dirigiu Caxias, Grêmio, Corinthians e seleção brasileira.
Veio 2005 e nova frustração. Ela começou lá em Mossoró, no Rio Grande do Norte. No jogo de ida contra o Baraúnas, empate por 2 a 2, pelas oitavas de final. Na volta, um empate sem gols bastaria, ou até por 1 a 1, mas o Vasco, que havia acabado de dar adeus ao Campeonato Carioca, vivia ressaca e foi derrotado por 3 a 0 em São Januário.
Depois de fazer boa campanha e chegar à primeira final em 2006 – derrotado pelo Flamengo -, o clube voltou a decepcionar seus torcedores na Copa do Brasil. Novamente na segunda fase, novamente contra um adversário de menor expressão. O Gama foi o carrasco da vez, em meio à expectativa para o milésimo gol de Romário. Em Brasília, empate por 2 a 2. Outra vez um empate sem gols, ou por 1 a 1, seria suficiente para a classificação, mas a equipe foi derrotada no Maracanã com mais de 40 mil pessoas por 2 a 1 com um gol no fim.
São exemplos que não podem ser esquecidos para o jogo desta quinta-feira, às 21h50m (de Brasília), contra o Nacional. O Vasco tem tudo a favor. Jogará em São Januário, com o apoio da torcida, contra um time que nunca o derrotou na história (em 24 jogos, 21 vitórias vascaínas e três empates). Mas nunca é demais abrir os olhos.
Após mais duas semifinais, o título da competição enfim saiu em 2011, com Ricardo Gomes, hoje diretor de futebol, como treinador, em uma recuperação inesperada após um péssimo começo de temporada. O Trem-Bala da Colina surgiu com o brilho de Dedé, Felipe, Diego Souza, Eder Luis e Alecsandro. No ano passado, por estar na Libertadores, o ficou fora.
O Cruz-Maltino pode até perder por um gol de diferença para se classificar para as quartas de final. O Nacional precisa vencer por dois gols de vantagem (com placar a partir de 3 a 1) ou mais para seguir na competição. Caso os amazonenses consigam a façanha do 2 a 0, a decisão será nos pênaltis. O classificado pega Fluminense ou Goiás na próxima fase.
As eliminações traumáticas do Vasco na Copa do Brasil:
1991/Oitavas de final:
- 14/03/91: Remo 0x0 Vasco/Belém
- 21/03/91: Vasco 1x1 Remo/Rio (São Januário)
1992/Oitavas de final:
- 12/09/92: CSA 3x3 Vasco/Maceió
- 25/09/92: Vasco 0x1 CSA/Rio (São Januário)
2004/2ª fase:
- 17/03/04: XV de Novembro (RS) 1x1 Vasco/Campo Bom
- 07/04/04: Vasco 0x3 XV de Novembro (RS)/Rio (São Januário)
2005/Oitavas de final
- 14/04/05: Baraúnas 2x2 Vasco/Mossoró
- 20/04/05: Vasco 0x3 Baraúnas/Rio (São Januário)
2007/2ª fase:
- 21/03/07: Gama 2x2 Vasco/Brasília
- 04/04/07: Vasco 1x2 Gama/Rio (Maracanã)
Fonte: GloboEsporte.com