Refeito da surpresa pela escalação no time titular do Vasco no jogo contra o Corinthians, pelo Brasileirão, Marlone finca os pés no chão para lidar com o novo momento no clube. À espera de uma sequência, busca conselhos em conversas com o técnico Dorival Júnior e jogadores mais experientes do grupo, principalmente Juninho Pernambucano, para conseguir estabilidade na equipe. O empréstimo de Eder Luis para o Al Nasr, dos Emirados Árabes, escancara uma porta para o meia-atacante de 21 anos, já que Dorival o enxerga como o jogador com estilo mais parecido com o de Eder. E ele está louco para entrar.
Durante o treino da manhã desta terça-feira, em São Januário, o treinador fez questão de conversar com o jogador. Os avisos: humildade, concentração e trabalho para conseguir uma sequência e melhorar o desempenho.
- O que estava falando com o Dorival era sobre a questão de não me empolgar, ele fez questão de dizer que foi apenas um jogo, para não colocar na cabeça que sou absoluto. Foi para dar um toque, ele entende mais da profissão, ele que me subiu em 2009, deu moral porque eu estava sem contrato na base. Estava pedindo instrução, alguns toques, tenho que evoluir – disse Marlone.
Promovido ao time profissional há um ano, logo após a Taça Belo Horizonte de 2012, o jogador tinha dificuldade para mostrar seu futebol rápido, de dribles e arrancadas até então no profissional. Desde o treinador Marcelo Oliveira no ano passado até Paulo Autuori, quase todos técnicos apostavam no amadurecimento e num maior aproveitamento de Marlone no time principal. Ele chegou a compor os reservas nos coletivos como lateral-direito e volante. No ano passado, quase foi para o Botafogo. Este ano mesmo, ficou com um pé fora do Vasco. O ex-diretor de futebol René Simões tentou emprestá-lo para o Atlético-GO, como forma de pagamento do empréstimo do também meia Fabio Lima.
Não é a primeira chance que Dorival dá ao garoto. O atual técnico vascaíno estava no Vasco em 2009, quando Marlone estava perto do fim de contrato e participou de um amistoso contra a seleção da Nicarágua. Na época, o jovem completou o time de reservas dos profissionais e impressionou o treinador, que pediu a renovação de contrato. Quase dois anos depois, na Copa São Paulo de Juniores de 2011, o jogador fez fila, um golaço e gerou expectativa no torcedor vascaíno, que desejava vê-lo logo em cima.
- Eu sempre, até quando estava fora, procurei estar preparado, independentemente de estar no meio, como volante, ala, a gente tem que estar preparado para tudo, fui pego de surpresa, o Dorival mandou ficar preparado e agora é seguir em frente, tentar agarrar essa chance e seguir em frente.
Natural de Agustinópolis-TO, Marlone tem uma relação profunda com o Vasco. A chegada, em 2006, a mudança para o Rio, deixaram o jogador longe da família. O Cruz-Maltino, segundo ele, tem papel importantíssimo na sua formação.
- É um sonho porque estou aqui desde pequeno, aprendi a ser vascaíno de coração, minha infância, minha vida foi aqui, longe de casa. Os Dias das Mães eram aqui com o Vasco. Tenho o Vasco como um pai. As datas mais importantes passei no clube. Me sinto honrado e orgulhoso com a camisa profissional do Vasco e por poder sempre ajudar o grupo, meus companheiros. É um sonho realizado.
Filho de Jaldo e Eunice, Marlone visita os pais uma vez por ano. Vez ou outra também é visitado no Rio e mata a saudade. Em Agustinópolis, virou figura ilustre e dá sua contribuição para o crescimento da torcida vascaína por lá.
- A cidade toda parou quando soube que eu ia jogar. Todo mundo lá é vascaíno agora, a cidade para quando vai ter jogo do Vasco (risos).
Fosse pela irmã de Marlone, o orgulho da cidade seria por outro motivo. Marlone é Johnath Marlone Azevedo da Silva. A inspiração para o segundo nome do meia surgiu do personagem principal do filme “Loucademia de Polícia”, comédia de sucesso lançada no Estados Unidos em 1984. O cadete Carey Mahoney, intepretado pelo ator Steve Guttenberg, era o astro de uma equipe divertida e atrapalhada.
- Não sei qual era a ideia da minha irmã, mas era a fase das duplas sertanejas e surgiu um papo de ser cantor e fazer um dupla com meu irmão. Seria Marlon e Marlone. Mas agradeço a Deus pelo dom de ser jogador, não canto nem no chuveiro. Meu irmão Marlon é pior ainda (risos).
A tendência é que Marlone seja mantido na equipe titular para o jogo desta quinta-feira, contra o Nacional-AM, pelas oitavas da Copa do Brasil. Em São Januário, às 21h50m (de Brasília), os cariocas podem até perder por um gol de diferença que se classificam para a fase seguinte. Apesar da vantagem confortável, o discurso é de total respeito.
- Acho que não podemos encarar como um jogo ganho. Temos que entrar para uma decisão. Já vimos muitos times serem surpreendidos.