O Botafogo foi o primeiro. Ontem foi a vez do Vasco. Os dois cariocas acabaram com a concentração dos atletas na véspera dos jogos, uma tradição do futebol brasileiro.
Ao contrário da maioria dos grandes times do país, os jogadores dos dois clubes são liberados após o último treino e podem passar a noite em casa na véspera das partidas disputadas no Rio.
Eles se apresentam ao técnico pouco antes do almoço.
No Botafogo, que lidera o Campeonato Brasileiro, o fim do confinamento dos atletas começou por rebeldia.
Há seis meses, quando o clube devia dois meses de salário à equipe, os atletas decidiram protestar e não mais se apresentar no hotel na véspera dos jogos na cidade.
O fim da concentração não atrapalhou o time em campo. Pelo contrário. No primeiro semestre, o Botafogo conquistou o Estadual do Rio. Atualmente, a equipe comandada por Oswaldo de Oliveira está em primeiro lugar no Nacional e permanece na Copa do Brasil.
Na última quinta-feira, o time venceu o Atlético-MG por 4 a 2, no Maracanã, na primeira partida das oitavas de finais do torneio.
"Os jogadores mostraram que são maduros e experientes para trabalhar assim. Acho que quando resolvermos os problemas financeiros é improvável que a concentração volte", afirmou o presidente do Botafogo, Maurício Assumpção.
O clube continua devendo dois meses de salários, mas a liberdade foi conquistada.
O fim da concentração no futebol é uma reivindicação antiga dos boleiros do país.
Nos começo dos anos 80, o Corinthians foi pioneiro no Brasil ao tentar extingui-la.
Na época do movimento batizado de Democracia Corintiana, o time de Sócrates, Casagrande e Wladimir fazia o mesmo que Botafogo e Vasco atualmente. Com o final do movimento, os jogadores voltaram a dormir em hotéis.
Ronaldo e Romário, depois que voltaram da Europa para o Brasil, sempre protestavam contra as noites nas concentrações. Mas não conseguiram dobrar os cartolas.
"A concentração está ultrapassada. Não tem função nenhuma no futebol. Até porque ninguém fica no quarto com jogadores, então cada um pode fazer o que quer", disse o vascaíno Juninho Pernambucano, um dos jogadores que apoiaram o fim do confinamento nos hotéis.
Ricardo Gomes, diretor de futebol do Vasco, que jogou mais de uma década em Portugal e na França, diz que a experiência tem sido boa.
"Não estamos inventando nada. Na Europa isso acontece, mas não existe uma norma", afirma o ex-jogador, ex-técnico e hoje dirigente.
"Uma semana e meia depois de chegar, o Dorival Júnior [técnico que assumiu o cargo em junho] viu que era possível adotar esse procedimento. Até o momento tem sido tranquilo."
Fonte: Folha de São Paulo