Imagine um dos clássicos de maior rivalidade do país sendo disputado numa cidade que não está acostumada a jogos de risco, com policiais que não convivem diariamente com a hostilidade entre as torcidas.
Soma-se a isso o fato de o estádio da partida não ter sido preparado para ter divisão de torcedores em todos os seus setores – só as uniformizadas serão separadas, ocupando a arquibancada atrás dos gols.
É este o cenário de Vasco x Corinthians, marcado para domingo, às 16h, na Arena Mané Garrincha, em Brasília.
Uma reunião na sexta-feira na capital federal contou com a presença de autoridades locais, policiais, representantes de organizadas, imprensa e organizadores do evento. E definiu o esquema de segurança que contará com a presença de 800 policiais.
São 200 homens a mais do que o efetivo escalado para este sábado, na mesma região, que receberá quatro eventos quase simultâneos: Flamengo x Grêmio (às 18h30), no estádio; Festival Samba Brasília, no estacionamento do estádio (às 16h); Cirque du Soleil, no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson (às 21h); e show de Roberto Carlos, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (às 21h).
De acordo com o Coronel Cleber Lacerda, a PM-DF entrou em contato com as PMs de Rio e São Paulo para obter informações sobre as organizadas que irão à capital.
– Não há problemas com os torcedores do Distrito Federal. Por isso, buscamos esse estreitamento para saber quem são os torcedores. O torcedor do DF é ordeiro – disse o secretário-adjunto de Segurança local, Paulo Roberto Batista.
De acordo com o assessor de imprensa da Força Jovem, maior organizada do Vasco, Eddie FVJ, farão o percurso Rio-Brasília cerca de 900 torcedores comuns, além de 50 a 70 membros da facção e líderes de outras uniformizadas. Esse grupo será escoltado pelo Gepe (Grupamento Especial de Polícia de Estádios) do estádio de São Januário (ponto de encontro comum para os vascaínos) até o Aeroporto Santos Dumont.
Em Brasília, os cruz-maltinos do Rio não terão escolta policial para chegar à sede da Força Jovem de Brasília, na cidade de Guará, onde se encontrarão com a organizada local, mais 2 mil membros. De lá, seguem para o estádio Mané Garrincha, num percurso de dez quilômetros. O Vasco, que costuma bancar os custos das viagens dos torcedores, não assumiu o valor do transporte. O aluguel de cada ônibus custa cerca de R$ 2 mil. Por isso, a decisão de ir por contra própria.
Aos 3 mil vascaínos vão se juntar membros das subsedes de Cuiabá, Goiânia e outras cidades. Nas duas capitais, são cerca de 4 mil torcedores. Todos se encontrarão no estádio, antes do jogo.
ÚLTIMAS CONFUSÕES ENTRE AS TORCIDAS:
4/6/09
Torcedor morreu e outros oito ficaram feridos durante encontro de ônibus de vascaínos e corintianos na altura da Ponte das Bandeiras, na Marginal Tietê.
3/10/11
Um dos ônibus que levaram torcedores do Corinthians a São Januário foi alvo de uma emboscada com tiros e pedras enquanto trafegava pela Pres. Dutra.
30/10/12
Enquanto Corinthians e Vasco se enfrentavam no Pacaembu, torcedores das duas equipes brigavam em Manaus. A pancadaria deixou o local destruído e alguns frequentadores bastante feridos.
BATE-BOLA
Coronel Cleber Lacerda, da Polícia Militar do Distrito Federal
Como a PM está se preparando para os eventos do fim de semana?
Nossa preocupação principal é para o jogo de domingo, por conta do envolvimento de grandes torcidas organizadas. Temos a informação que dez ônibus da Gaviões da Fiel de São Paulo estão chegando. Estamos nos organizando para que haja uma prevenção e não ocorra nenhum incidente.
Há risco de novos incidentes como o flamenguista espancado por são-paulinos na semana passada?
Em todos os jogos que tivemos em Brasília, só foi registrado um problema, que foi esse. Nossas ações têm sido bem sucedidas.
ACADEMIA LANCE!
Renato Sérgio de Lima, secretário-geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
"Não há garantia de evento sem incidentes"
"O primeiro passo para evitar confrontos é um trabalho de inteligência, que exige que as polícias de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal conversem e, eventualmente, desenhem uma estratégia comum para cada uma fazer o comboio até a divisa. Assim, terão mais controle sobre as torcidas organizadas. Por mais que seja dramático, é mais simples agir tendo controle sobre as torcidas. O primeiro trabalho em termos de segurança pública é se planejar, principalmente se isso (confrontos programados) já está aparecendo nas redes sociais. Talvez, a polícia do Distrito Federal, por ser sede do evento, deva coordenar esses esforços para que se consiga pensar não só dentro do estádio, mas também no trajeto até o Mané Garrincha. E isso exige troca de articulação dentro da polícia do DF, das polícias estaduais e da Federal. Dentro do estádio não tem para onde fugir. Tem de isolar as torcidas organizadas. No restante do estádio é difícil porque o novo modelo de arena complica a vida para isolar as torcidas e proteger quem vai assistir ao jogo. Então, o aparato de segurança vai ter de ser reforçado, seja colocando alambrados para fazer barreira física ou mantendo duas fileiras de pessoal para defender. Uma olhando para uma torcida, e a outra, para a outra. Isso onera e a discussão é saber como isso vai ser equacionado pela CBF, porque é um custo bem maior do que aquele do lado de fora do estádio. Mesmo assim, não há garantias de que problemas isolados não ocorram. Grandes confrontos não vão ocorrer, mas é possível que algumas escaramuças aconteçam. Porque, pela própria arquitetura do estádio, não dá para dizer que não deva acontecer."
COM A PALAVRA
Rogério Maldonado, o Bambu, presidente da Estopim da Fiel
"O estádio é novo, mas a cultura é velha"
"Isso (falta de divisão no estádio e uma cidade não acostumada a jogos de tamanha rivalidade) é complicado, sim. O estádio é novo, mas a cultura é velha. Dividir um pouco as organizadas (ficarão no setor superior, atrás dos gols) vai ajudar, mas não é tudo. Tem a chegada, os arredores, as entradas da cidade. As autoridades poderiam ter um cuidado maior. Antes de implementar um sistema novo, tem de se respeitar o antigo, já teve problema no último jogo (Flamengo x São Paulo). Nosso comboio para Brasília sairá neste sábado à tarde"
COM A PALAVRA
Eddie FVJ, assessor da Força Jovem, da ASTOVAS e da FTORJ (Federação das Organizadas)
"Vasco vende o jogo e o torcedor se prejudica"
O Vasco vendeu o jogo para uma empresa. O cara vai lá, põe o ingresso mais caro, ganha o dele e prejudica o torcedor. Essas coisas têm que ser mais divulgadas. Não estamos prevendo nenhum problema com os corintianos. Essa coisa de briga acabou nos anos 80. Agora é só festa. Nós vamos ao estádio para torcer pelo Vasco. Você viu a festa que fizemos lá em Manaus? Então, aquilo ali foi só uma família (subsede) que fez. Nós prestamos serviços sociais, como doação de sangue. Vamos para torcer pelo Vasco.
Fonte: Lancenet