Após dez anos atuando fora do Brasil, Juninho Pernambucano sabe bem os prós e contras da concentração antes dos jogos. Assim, mostra embasamento para opinar e, principalmente, aprovar o procedimento recentemente adotado pelo Vasco. Contra o Criciúma, dia 27 de julho, o clube inaugurou o fim deste regime antes das partidas realizadas em São Januário.
Enquanto normalmente os clubes brasileiros se concentram na véspera das partidas, o Vasco agora se apresenta no hotel no dia do jogo perto da hora do almoço. Para Juninho, este procedimento é o mais indicado e representa benefícios aos atletas.
- A tendência é acabar a concentração. A não ser em momentos extremos, numa final de Libertadores, final de Copa, reta final de competição, quando talvez você precisa dar atenção especial a alguns jogadores machucados, aí você não vai prender uns e deixar outros soltos. Mas concentração já está ultrapassada. Não tem função nenhuma hoje no futebol. Até porque ninguém fica no quarto com jogadores, então cada um pode fazer o que quer. Se o cara não quiser jantar e não quiser almoçar, se ele quiser encher a pança dele para comer? Então não tem mais espaço para para isso. Está comprovado que se dorme muito melhor na sua casa do que em qualquer hotel cinco estrelas do mundo - disse.
No Vasco, a questão é tratada como natural. Outro com experiência de jogador e técnico na Europa, Ricardo Gomes admitiu que a questão ainda não é algo fácil, no que se refere ao futebol brasileiro. Mas garante que a experiência adotada em São Januário tem sido positiva.
- Na Europa isso acontece, mas não existe uma norma. Não estamos inventando nada. Uma semana e meia depois de chegar, o Dorival identificou que era possível adotar esse procedimento. Até o momento tem sido tranquilo. Tem grupo que dá para fazer isso e grupo que não dá. No atual grupo do Vasco isso é possível - explicou o diretor de futebol do clube.
No início do ano passado o Vasco chegou a fazer o mesmo – inclusive antes de sua estreia na Libertadores –, mas como forma de resposta aos salários atrasados. Depois de ser matematicamente eliminado da Taça Rio de 2013, o grupo então comandado por Paulo Autuori também deixou de concentrar antes de alguns jogos em São Januário.
Juninho reconhece que o procedimento deve ocorrer de acordo com o perfil do elenco. Mas também acredita que um grande tempo de reclusão pode influenciar negativamente o desempenho da equipe no campo.
- Claro que reconheço que há companheiros que ainda não conseguem entender o que significa uma véspera de jogo em termos de sono, alimentação. Então existem ainda uns que puxam para o lado negativo. Mas, na minha opinião, um jogo às 21h e você fica preso um dia antes, você pode começar uma partida ruim porque ainda está com sono. Você passa a manhã dormindo, a tarde dormindo e os 15 primeiros minutos dormindo ainda.
Dessa forma, o jogador de 38 anos acredita até que seja possível aproveitar o tempo de concentração no dia da partida para uma movimentação que, em tese, poderia ser uma espécie de “despertador” para os atletas.
- Então isso já se faz na Europa, e as pessoas sempre citam Europa porque lá eles querem saber o melhor a ser feito. Já se faz lá em jogos à noite ou a partir das 17h um treino para despertar, para fazer movimentação, para que o músculo acorde. Existem estudos científicos comprovando que isso é melhor. Seria melhor se apresentar depois do café, fazer movimentação, depois ir para o hotel e seguir para o estádio. Melhor do que passar um dia todo no hotel. Tem gente que acha “ah, está descansado”, pelo contrário, dormiu mais do que era pra dormir - observou.
Por fim, o capitão do Vasco lembrou que a redução do período de confinamento em hotéis também representaria a redução de custos para os clubes.
- É um assunto que só é tratado de forma mais polêmica ainda no Brasil. Não que vá ser banida a concentração, mas são gastos extras para os clubes, que se colocar na ponta do lápis, a economia vai ser muito grande. Poderia usar esse dinheiro para a base, por exemplo - analisou.
Fonte: GloboEsporte.com