Pedro Ken prefere sempre ser discreto. Em campo, vem cumprindo as funções determinadas pelo treinador e, mesmo sem chamar a atenção, mostra-se firme na luta para se manter como titular. Com isso, é o jogador do elenco que mais atuou na temporada - 31 das 34 partidas de 2013. Longe dos gramados, foge aos padrões boleiros. Por exemplo, dispensa tatuagens, opta por roupas pouco chamativas e prefere o clima intimista do bairro do Leblon, na Zona Sul, à informalidade da Barra da Tijuca, escolhida como residência pela maior parte dos jogadores que atuam no Rio de Janeiro.
Hoje com 26 anos, Pedro Ken chegou a iniciar a faculdade de Educação Física na PUC de Curitiba, cidade onde nasceu. Mas o fato de ter dado prioridade ao futebol para deixar os estudos para o futuro não significa que seu pensamento está unicamente voltado para o esporte. Além de prezar pela convivência com pessoas de fora do mundo da bola, ele decidiu há pouco tempo expandir suas atividades comerciais, já pensando numa estabilidade financeira e profissional.
Para ele, a boa educação recebida desde a infância tem sido importante para construir o futuro, mas igualmente necessária para conviver com a pressão de defender grandes clubes, enfrentando críticas, elogios, assédios e crises. Mas segundo Pedro Ken, a experiência vivida no Vasco, que passa por altos e baixos, deve e pode ser mantida. Quem sabe até com uma extensão de seu contrato de empréstimo pelo Cruzeiro.
GLOBOESPORTE.COM - Você marcou o gol da última vitória do Vasco no Brasileirão (1 a 0 sobre o Coritiba) e vem se firmando entre os titulares de Dorival Júnior. O bom momento vem na carona do crescimento da equipe ou se trata também de uma fase positiva individual?
Pedro Ken – Uma coisa leva à outra. O time vem crescendo, e a tendência é que a individualidade apareça. O momento é legal. Depois da chegada do Juninho eu venho atuando mais adiantado, e com isso o jogador acaba aparecendo mais. O time está se encaixando, e acredito que tenho ajudado fazendo gols e participando das jogadas.
Agora você a ter a concorrência de Montoya. É uma situação que preocupa ou vê isso como algo saudável?
Penso no Vasco e pelo que ele pode brigar neste ano. Existe essa disputa direta com o Montoya, mas eu também brigo com quase todos os jogadores de meio-campo, já que posso atuar como segundo, terceiro ou quarto homem. De qualquer maneira, tenho atuado com regularidade desde o início do ano e provei que tenho jogar no Vasco. Seja em qual posição for, estou preparado.
E até que ponto sua adaptação ao Rio de Janeiro contribui para que as coisas deem certo dentro de campo?
Ajuda bastante. Não tem como não se adaptar e não gostar do Rio. Aqui tudo é muito bom. O ambiente, o astral... O ambiente do Vasco também é saudável, e isso contribui para ganhar confiança.
Por que a opção por morar no Leblon, enquanto a maioria dos jogadores prefere a Barra da Tijuca?
Já tinha vindo ao Rio algumas vezes a passeio e conhecia bem a região. Sou solteiro e moro sozinho, então faço tudo a pé: vou a restaurantes, supermercado, farmácia. Além disso, moro perto da praia, onde costumo ir para relaxar e aliviar a pressão. Para mim é perfeito morar no Leblon, uma escolha da qual não me arrependo (risos).
O que gosta de fazer no bairro?
Costumo ir à praia no Posto 12, quase em frente à minha casa. Também frequento os restaurantes da rua Dias Ferreira, vou aos shoppings, às livrarias, gosto de ir às casas de sucos durante o dia... É um bairro que oferece muitas opções e gosto de aproveitá-las.
As tentações também são muitas?
Isso existe em qualquer lugar. Lógico que existem tentações, mas o importante é ter equilíbrio, saber o momento de dar uma saidinha, ficar na rua até um pouco mais tarde... É uma questão de responsabilidade e consciência de fazer tudo na hora certa. Somos seres humanos, e é bom termos uma vida social para aliviar a pressão. Temos que saber lidar com as tentações, mas nunca tive problemas com isso na minha vida.
Você atribui esse equilíbrio à educação que teve desde a infância e à estrutura familiar?
Claro. Devo muito disso à minha família e à educação que eles me deram. Além disso, a maioria das minhas amizades é de fora do futebol, o que me ajudou a ter consciência de que é preciso distrair da profissão, mas ao mesmo tempo cuidar do corpo e saber que você é público.
Qual a importância para você de cultivar essas muitas amizades de fora do mundo do futebol?
Eu prezo muito isso. Para mim, pelo menos, é muito importante. Essas amizades ajudam a me distrair e aliviar a pressão. Isso é bom para separar as coisas e chegar ao clube me concentrando somente no trabalho. Acho bom ter contato com outras pessoas com diferentes assuntos e conversas. Não acho legal ficar só no meio do futebol, embora eu tenha ótimo relacionamento com jogadores. Mas esse tempo fora do futebol me faz bem e eu não abro mão.
Você foge do estereótipo do boleiro. É algo intencional?
É uma questão de gosto. Cada um tem seu jeito, seu estilo. O meu é mais discreto, mais tranquilo (risos). Talvez o fato de conviver muito com o meio fora do futebol acabou me fazendo acostumar a isso.
Por falar desse mundo fora do futebol, você tem expandido sua vida profissional para outras áreas. Isso tem a ver com um planejamento para depois da carreira de atleta?
Nesse primeiro momento penso no futebol, porque ainda tenho muito tempo de carreira. Mas aos poucos venho montando uma base. Agora montei uma empresa com mais três sócios, abrindo em Curitiba uma franquia de uma empresa alemã de tratamento contra o tabagismo. Estou fazendo esse tipo de coisa para ir vendo o que gosto e com o que me adapto melhor. Mas não descarto ficar no futebol ou no esporte.
Ainda em relação ao planejamento de carreira, como foi a decisão de trocar um clube estruturado e financeiramente estável como o Cruzeiro pelo Vasco, que vive dificuldades? A prioridade foi a busca por uma regularidade em campo?
Quando vim para o Vasco, sabia dessa dificuldade, mas acreditei muito no clube e no projeto. Além disso, o Vasco tem camisa, velho. É um clube grande, de tradições e vitórias. Vim querendo participar desse momento de reformulação, conquistando eu espaço. Muitos me falaram que seria uma bagunça e que haveria problemas financeiros. Mas as coisas estão melhorando, e nisso eu acredito. Consegui jogar o ano inteiro e espero continuar ajudando o Vasco.
Por conta disso, gostaria de permanecer no clube após o fim do atual contrato de empréstimo, que vai até dezembro?
Ainda não tive essa conversa, pois ainda tem muita coisa para acontecer. Mas seria bom ficar aqui. Além de me sentir em casa, acredito muito no Vasco. É uma honra vestir essa camisa. Se for possível ficar, vai ser muito bom.
Como tem sido trabalhar com Juninho Pernambucano, a quem você devolveu a camisa 8 quando ele retornou ao clube?
Só o fato de ele ter me agradecido por isso mostra como é uma pessoa simples e humilde. Quando eu soube que ele voltaria, tinha a certeza de que ele ficaria com a 8. Näo tem outro jogador que poderia vestir essa camisa no Vasco que não seja ele. É um ídolo do clube e uma referência para qualquer jogador.