O ocaso de Adriano revela, em seus bastidores, mais um capítulo de tentativa frustrada de resgate de sua carreira. A investida foi de Mário César Zagallo, empresário no universo do futebol e filho do tetracampeão mundial Mário Jorge Lobo Zagallo. O objetivo de Mário César era agenciar o atacante, desde que ele se dispusesse a recuperar a imagem, cuidando do peso e deixando de lado bebida e noitadas.
A cartada foi em vão: “Tentei começar uma relação, mas desisti no meio do caminho. Nem começamos a trabalhar juntos. Minha mulher, vendo que eu teria de ficar de babá do jogador à noite, disse que ou era ela ou ele. Os amigos próximos do jogador tentam te derrubar. No fim das contas, escolhi que não queria. Não são só os jogadores que dizem não, o empresário também tem o direito de dizer não”, conta Mário César.
Fã do futebol de Adriano, a quem chamava de “bom garoto” nas vezes em que trabalharam juntos – no Flamengo e na Seleção Brasileira -, o próprio Zagallo empenhou seu prestígio para tentar convencê-lo a retomar o trilho. “Disse a ele: garoto, existe o caminho certo e existe o caminho errado. É só ir pelo caminho certo”, conta o Velho Lobo, que guarda na memória um momento especial da trajetória de Adriano com a Amarelinha:
“Sempre lembro daquele golaço que ele fez contra a Argentina na final da Copa América (de 2004, na qual o Brasil empatou no fim, em 2 a 2, e ganhou nos pênaltis). Tevez ficou provocando, pisando na bola. Quando a recuperamos, na sequência, gritei: ‘Joga na área’. O Adriano ajeitou e girou de canhota (faz o gesto com a mão da batida dele em gol). Hoje, se estivesse aí, não teria para ninguém: é o melhor de todos na posição”, opina.
Mário César já agenciou a carreira de jogadores consagrados, como o goleiro Júlio César e o zagueiro Juan. Hoje, trabalha com pouco mais de 10 garotos das categorias de base, a partir dos 15 anos. Atividade que concilia com a assessoria que presta ao pai – as entrevistas com Zagallo são marcadas através do filho. E garante não ser tarefa fácil a de lidar com jovens, pois a maioria se deslumbra facilmente.
“Até o empresário conseguir fazer dinheiro, enfrenta muitas situações complicadas. Já saí da casa de jogador às 10h da noite para evitar que ele não se descuidasse para um jogo dois dias depois, e foi só eu ir embora para ele se mandar para a rua enfrentar as tentações”.
Um exemplo de parceria que não deu certo foi com o zagueiro Renato Silva, hoje no Vasco. “Desse eu desisti. E olha que ele já me pagou R$ 12 mil por mês, na época em que ele ganhava R$ 120 mil no Fluminense. Mas chega uma hora que o dinheiro não é tudo. Passei a receber ligações de madrugada com pedido de ‘me socorre aqui!’. Foram muitos problemas em boates. Houve casos em que ele chegou bêbado para treinar, tanto no Flamengo como no Fluminense. Depois, o salário dele caiu para R$ 15 mil por mês no Botafogo. Perdeu boas chances, era um bom zagueiro. Se tivesse disciplina, teria sido de ponta. Torço para que se firme no Vasco.”
Não foram poucos os que fizeram ouvidos de mercador para o empresário. Como por exemplo Júnior, um volante revelado pelo Flamengo, campeão da Copa do Brasil em 2006. “Ele parou de jogar há pouco mais de um ano. Juntou uns R$ 4 milhões na carreira, mas não soube administrar. Hoje, vende roupa. Ao encontrar comigo, admitiu que deveria ter me escutado mais”, relata Mário César.
Enquanto não volta a gerenciar profissionais – recentemente, por pouco não chegou a um acordo com Jorge Henrique, do Internacional -, Mário César diz estar na torcida pela recuperação de Adriano. “Espero que ele reencontre o seu caminho. O meu pai gosta muito dele”.
Fonte: Blog Ponta de Lança - GloboEsporte.com