O Vasco da Gama entrou em campo na noite desta quinta-feira, contra a Ponte Preta, pelo Campeonato Brasileiro, vestido para uma noite de gala, todo de preto. Era uma homenagem aos “camisas negras” que conquistaram o primeiro título Carioca, em 1923, na estreia do time na elite do futebol do Rio de Janeiro. Nas costas dos jogadores constava o nome dos campeões de 90 anos atrás: Nélson, Leitão, e Mingote; Nicolino, Claudionor e Artur; Paschoal, Torterolli, Pires, Cecy e Negrito.
Durante a semana, o clube pediu que a torcida comparecesse ao estádio vestindo camisas negras, mas não foi ouvida pelos vascaínos, que na grande maioria vestiu a tradicional camisa branca com a faixa preta atravessada.
O funcionário público, Ricardo Silva, afirmou que não sabia do pedido da diretoria e por isso veio com a camisa tradicional. “Não sabia que havia essa campanha e homenagem. Não li nada sobre isso. Se soubesse teria vindo numa boa” afirmou o torcedor.
Em São Januário a cor não simboliza o luto, mas sim a celebração a uma vida nova. Com uma das histórias mais antigas e belas do futebol brasileiro, o "Gigante da Colina" foi o precursor em colocar um time racialmente misto em campo, além de jogadores que não faziam parte da elite, na década de 20.
Sua iniciativa gerou repúdio da burguesia, que dominava os clubes da então capital federal, e foi obrigado pela Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (Amea), a afastar 12 jogadores que haviam conquistado o título inédito, sob a alegação que tinham condição social inferior.
A resposta veio de forma surpreendente: a diretoria cruzmaltina pediu a sua desfiliação da Amea, através de uma carta, que é um marco dos direitos igualitários no futebol e no esporte, e que até hoje, guia o clube. Um dos principais trechos do documento assinado pelo presidente, José Augusto Prestes, declara:
“... Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se a AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do Campeonato de Futebol da Cidade do Rio de Janeiro de 1923. São esses doze jogadores jovens quase todos brasileiros no começo de sua carreira, e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu nem sob o pavilhão que eles com tanta galhardia cobriram de glórias. Nestes termos, sentimos ter de comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.”
Fonte: Terra