Com lançamentos e passes, Rafael Vaz comemora estilo 'zagueiro-volante'

Terça-feira, 23/07/2013 - 15:22

O bonito gol que André marcou saiu dos pés de Juninho, um meia raro em atividade no futebol brasileiro - pela mistura de qualidade técnica, idade avançada e identificação com um clube. Mas outro jogador vascaíno que fez de tudo para ajudar o camisa 9 a marcar gols também não é dos mais comuns. O zagueiro Rafael Vaz, com pouco mais de um mês em São Januário, firma-se rapidamente como um dos pilares do time do Vasco. Sem medo de arriscar e de se lançar ao ataque, ele já fez um gol pelo clube e poderia ter, no mínimo, uma assistência se André não tivesse desperdiçado as três chances - dois passes precisos e um lançamento primoroso - que a canhota elegante do número 19 vascaíno lhe ofereceu.

Um dia após a bela atuação e a boa vitória do Vasco, Rafael Vaz lembrou um pouco da carreira, das dificuldades desde as divisões de base de Corinthians e Palmeiras e as passagens por times de menor expressão até finalmente desembarcar em São Januário. E citou o conselho que serviu para alavancar sua trajetória no futebol.

- O professor Jorginho (ex-jogador, que era técnico do time B do Palmeiras) sempre falava para mim: você pode ser um volante igual a muitos outros ou pode ser um zagueiro com um baita diferencial - lembra o paulista Rafael Vaz dos Santos, de 24 anos.

Mas os avanços de cabeça erguida, os longos lançamentos e os passes quase sempre verticais e na diagonal nem sempre contaram a favor de Vaz. Em certos momentos, ele recorda, alguns treinadores não entendiam aquele estilo “menos conservador” de zagueiro que, inevitavelmente, provoca algum perigo para a própria defesa.

- No começo, eu tive treinador que falava que eu estava brincando, que tinha que jogar sério, essas coisas, mas depois entendiam que era meu jeito de jogar. Aprendi a atuar assim quando era volante, que acaba invertendo bola a todo momento, que mantém a posse de bola. Sempre tive essa vontade de querer armar o time - diz Rafael Vaz, que tem consciência dos riscos que corre a cada vez que tenta apoiar o ataque. - Sei que jogar assim pode ter as suas consequências. No começo do jogo (contra o Fluminense) errei um passe. Mas isso é normal. Tento fazer sempre alguma coisa diferente. Vai ser bom para mim se acertar o passe e vai ser bom para o time também.

Destaque no campeonato estadual pelo Ceará, em que foi campeão e eleito um dos melhores zagueiros, Rafael Vaz soube do interesse de Paulo Autuori pelo seu futebol. Era início de ano, e a novela se estenderia até o Vasco finalmente conseguir pagar cerca de R$ 300 mil ao clube cearense e contar com o futebol do zagueiro, definido por Autuori como um jogador de “qualidade técnica e ousadia”. Apresentado no dia 12 de junho, Vaz também ouviu elogios do diretor executivo e ex-zagueiro Ricardo Gomes, outro canhoto que mostrava qualidade com a bola no pé.

O camisa 19 vascaíno pouco viu Ricardo jogar. Mas o pai, Ademar, que normalmente acompanha in loco alguns jogos do filho, puxa a sardinha para o lado da família.

- O Rafael é mais habilidoso do que o Ricardo era. Ele era grandão, chegava junto, mas também era muito bom - opina seu Ademar, que é feirante em São Paulo.

Rafael jogou nas categorias de base do Corinthians dos 9 aos 14 anos. Nesse tempo, dividia as horas do dia entre o futebol, o colégio e a feira, onde ajudava o pai a vender legumes. No dia a dia de treinamentos, quem fazia companhia no trem e no ônibus, na viagem de uma hora de Caieiras, município que fica a 40 km de São Paulo, eram sua mãe, Sandra, e a irmã, Nathália, sete anos mais jovem. No domingo, a família inteira esteve no Maracanã.

- Já cheguei no Maracanã muito emocionada. Depois chorei muito vendo o Rafael em campo - conta a mãe, que vai ficar a semana toda no Rio, ao lado do filho, que mora sozinho na Barra da Tijuca.

Junto com a filha, a irmã Nathália, que se diz “grudada” no zagueiro do Vasco, a mãe vai fazer a lasanha à bolonhesa de que o filho tanto sente falta.

- Sei fazer um arroz, fritar um bife, mas para por aí também - conta, aos risos, o zagueiro.

Desde os 17 anos fora de casa, Vaz retribui todo o apoio e a confiança que recebeu da família. Após a base do Corinthians, o zagueiro passou pelo Paulista, depois Grêmio Barueri e terminou a base no Palmeiras, clube em que ficou três anos como volante e somente um na posição na qual acabou se firmando - com 16 para 17 anos no Palmeiras B. As idas e vindas entre clubes grandes, medianos e pequenos até finalmente a chegada ao Vasco deixaram o confiante zagueiro, que às vezes aposta até demais na canhota a ponto de provocar lances perigosos contra sua própria defesa, um pouco reflexivo com a sequência da carreira.

- É complicado quando você sai de um clube grande para uma equipe de menor expressão. Você fica pensando se vai dar certo ou não, se vai atingir seus objetivos, essas coisas. Agora que cheguei ao Vasco, um dos maiores clubes do Brasil, que joguei no Maracanã, vejo que as coisas, graças a Deus, estão no caminho certo - diz Vaz.

O zagueiro aspira defender a Seleção, admira o futebol do ex-tricolor Thiago Silva e fez um lance à la David Luiz ao salvar o chute de Rafael Sobis no início do jogo. Este lance, com apenas dois minutos de bola rolando, mais os passes para André e o chute que obrigou Cavalieri a uma grande defesa no segundo tempo foram os lances que ficaram na memória dele, da família e da torcida vascaína.

Família orgulhosa: os pais Sandra e Ademar e a irmã Nathália na Barra com Rafael Vaz


Fonte: GloboEsporte.com