O nó da gravata está apertado, mas a partir deste domingo, na reabertura do Maracanã, o Fluminense passará a contar com uma nova fonte de renda, que deve aliviar a emergencial situação financeira do clube. O tricolor definiu em R$ 60 (meia entrada a R$ 30) o preço dos ingressos atrás dos gols e escanteios, cuja renda vai toda para o clube. O Vasco rejeitou acordo de dividir meio a meio a renda deste clássico e o do segundo turno. Os vascaínos preferem ficar com toda a renda do jogo de volta, quando serão mandantes e poderão aceitar ofertas para jogar fora do Rio, por exemplo. A torcida vascaína, porém, terá direito a todo o espaço atrás do gol e dos escanteios à esquerda das cabines de rádio e TV.
A venda para integrantes do programa de sócio-torcedor do Fluminense, pela internet, já começou ontem. Amanhã, será aberta a venda pela internet para o público em geral e, na quinta-feira, começará a comercialização nos pontos de venda. O clássico deste domingo dará a primeira medida do potencial de lucro que o tricolor poderá ter no estádio, depois de assinar com o consórcio Maracanã S. A. o contrato que lhe alivia as despesas de jogo e lhe garante a renda de 43 mil lugares do estádio. Numa conta aproximada, o Fluminense pode lucrar pelo menos R$ 1,5 milhão se os setores atrás dos gols e dos escanteios tiverem lotação esgotada. Será um bom montante para um clube atualmente com o caixa vazio.
Não são poucos os problemas. Mesmo depois de ter pago um mês de salários, o clube ainda deve aos jogadores o mês de junho (pouco menos de R$ 2 milhões, já que a maior parte dos vencimentos dos atletas vem da Unimed, via contratos de direitos de imagem). Obrigado a vender alguns jogadores, o tricolor ainda não viu o dinheiro das mais recentes transações.
O clube tem a receber cerca de R$ 15 milhões por 60% dos direitos de Wellington Nem, mas a Justiça concedeu a penhora deste valor à Fazenda Nacional, por causa de dívidas tributárias. Desde então, o Fluminense está protelando junto ao Shakhtar Donetsk o recebimento do pagamento para que o montante não seja imediatamente penhorado, enquanto tenta acordo com a procuradoria da Fazenda. Já Thiago Neves deve render outros R$ 3,5 milhões.
Variáveis da bilheteria
É possível estimar um valor aproximado do lucro do clube no domingo, admitindo-se que os torcedores tricolores e vascaínos esgotem os 43 mil ingressos com renda revertida para o mandante. O tricolor tem, atualmente, dois programas de vantagens. Os sócios do clube podem aderir ao Pacote Futebol e ganham direito a ingresso gratuito. São, hoje, cerca de 5 mil nesta condição. Se todos reservarem sua entrada, o Fluminense fará dinheiro com a venda dos 38 mil ingressos restantes.
Nos últimos anos, no Engenhão, cerca de 40% dos ingressos dos jogos do clube eram vendidos à meia entrada, incluindo os integrantes do outro programa de vantagens (o de sócio-torcedor) e os que usam carteira de estudante para ter o desconto. Se esta taxa se mantiver no domingo, a renda bruta chegará a R$ 1,8 milhão.
Mas é provável que a proporção de meia entrada seja maior que os 40% habituais. Com a reabertura do Maracanã, o projeto sócio-torcedor tem crescido muito. Só no último fim de semana, 700 tricolores se associaram, e o número total está em cerca de 17 mil. Todos têm direito à compra antecipada e a pagar meia entrada (se pagarem com cartão Itaú, o desconto é de 75%). Se todos exercerem seu direito para domingo e, nos ingressos que sobrarem para o público geral, houver 30% de venda para estudantes, a renda para o Fluminense ficará em pouco mais de R$ 1,58 milhão, um cenário mais provável.
Descontados os 5% da taxa da Ferj, mais pagamentos ao árbitro e ao delegado do jogo, e impostos, é possível estimar que o Fluminense leve para as Laranjeiras quase R$ 1,5 milhão. Dá quase para pagar a folha salarial que está em atraso. Mas depende do torcedor tricolor (e do vascaíno) comparecer à reabertura do Maracanã no domingo. A péssima fase do Vasco pode fazer com que sua torcida não lote sua parte.
Aval para bandeiras e bumbos
Os torcedores estão perto de uma boa notícia. Representantes das torcidas organizadas se reuniram ontem com o secretário estadual de Esportes, André Lazaroni, para discutir o que será permitido nas arquibancadas do Maracanã.
Os torcedores pedem que as regras que valiam no Engenhão — ou seja, liberação de bandeiras com mastros, faixas e bumbos — sejam mantidas. O secretário concorda e quer reunir todos os envolvidos. Hoje, os torcedores se encontrarão com o comandante do Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios da PM). Mas a polícia, assim como o Fluminense, já disse que não se opõe à manutenção das regras. Com o “nada a opor” das demais instâncias envolvidas, é pouco provável que o consórcio assuma o ônus de proibir sozinho a festa dos torcedores no estádio.
Após a derrota para o Internacional, os jogadores do Fluminense treinaram ontem, nas Laranjeiras. A partir de hoje, o técnico Abel Braga deverá começar a definir se faz mudanças no time que vem de três derrotas seguidas.
Fonte: O Globo online