Presidente da escola de samba Gigante da Colina lamenta falta de apoio do Vasco

Domingo, 14/07/2013 - 12:32

Luta contra o preconceito, abrigo e apoio aos mais necessitados, adversidades e conquistas. Assim surgiu o Club de Regatas Vasco da Gama. Coincidência ou não, com uma trajetória bem similar, vascaínos apaixonados pela Cruz de Malta fizeram do sonho uma realidade e em Brasília, a "Capital do Rock", fundaram há quatro anos a Gigante da Colina, a primeira escola de samba do Brasil em homenagem ao Cruz-maltino.

Assim como a fonte de inspiração, o começo foi de superação de barreiras. "Ligados" a um clube, receberam uma negativa dos organizadores do carnaval brasiliense, que não queriam ver a associação futebol/samba. Então, como o Vasco, foram para uma outra liga recém-criada e por lá fizeram barulho sendo campeões. Veio então o reconhecimento e o convite para integrar a elite.

Começou na espécie de "terceira divisão", subiu e agora está a um passo do grupo especial. Sobrevivendo de um forte trabalho de ação social, comandado pelo músico e presidente Fabiano Duarte, literalmente "se viram nos 30".

Sim, se engana quem pensa que por ter surgido em homenagem ao Vasco, a escola virou a "menina prodígio" do clube. Segundo Fabiano, nunca o Cruz-maltino deu apoio e viabilizou recursos para a agremiação.

- Aí é que está a raiva que eu tenho. Dediquei minha vida toda pelo Vasco, criamos a escola de samba e o Vasco nada. Para nós é muito doído, porque sempre quando o Vasco precisou, estávamos lá. E nunca recebemos um centavo. Tudo do nosso bolso. Cada ensaio sai a quase R$ 500, com transporte de instrumentos, dos ritmistas, os lanches... Minha mulher faz mais de 40 sanduíches para os meninos - diz Fabiano, que mesmo com um salário apertado como professor, faz praticamente tudo sozinho, inclusive o apoio financeiro.

O músico, porém, não tem tempo para se lamentar. Além da paixão pelo Vasco e pelo samba, dedica sua vida a ajudar. A maioria dos integrantes da escola é formada por crianças e adolescentes das regiões carentes do Varjão e de Samambaia. O próprio Fabiano é quem dá as oficinas de percussão (em outros períodos chegou a dar aulas de japonês, pois morou três anos por lá). O professor, aliás, carrega consigo um lema:

- Minha missão na terra é fazer essa escola crescer e ter ajudar pessoas com os projetos sociais - faz destacar ele, que hoje já possui a bateria mais numerosa dentre as 20 escolas de samba de Brasília.

Mesmo com a decepção pelo abandono do Vasco, Fabiano Duarte sonha alto, e com convicção:

- Costumo falar para a galera que é Vasco da escola que, da mesma forma que há 115 anos, os caras que fundaram o Vasco não tinham noção nenhuma que o Vasco ia ter 18 milhões de torcedores e ser o clube que é, eu tenho certeza absoluta que a Gigante da Colina vai ser a segunda maior instituição vascaína do país. Tenho certeza absoluta!

Tristeza e mágoa por meninos ficarem de fora do clássico

A angústia maior Fabiano Duarte teve na última quinta-feira, quando foi divulgado que instrumentos não poderão entrar no clássico deste domingo no Mané Garrincha. O músico havia selecionado os 40 melhores percussionistas da escola para que fossem ao jogo passar apoio ao Vasco e os meninos, que em sua maioria nunca chegaram nem perto do estádio, vivam uma enorme expectativa.

- É muito triste não poder entrar no jogo de domingo. Imagine, você tem 40 "filhos", que é o grupo de elite. Aí tu fala do Vasco, Vasco, Vasco...conta a historia do clube, que lutou contra o preconceito racial e tudo mais...beleza. O Vasco pede inauguração da loja? Estamos lá. Receber jogador? Estamos lá. Tudo dinheiro do nosso bolso. Aí quando tem a chance de dar uma alegria para esse meninos, somos impedidos. Eles mereciam pois já fizeram muito pelo Vasco.

Fabiano, relatou, por exemplo, um dos momentos mais marcantes:

- Após o desfile, esses meninos receberam R$ 670. Fiz questão de ir na casa de cada pai deles pagar. Foi impressionante vê-los brincando porque não tinham nunca recebido uma grana dessas. Tem alegria melhor que essa? - indaga.

Pedidos para desfilar

Enquanto no glamouroso carnaval do Rio de Janeiro pessoas disputam e pagam fortunas para desfilar nas escolas de samba, Fabiano Duarte encontra uma situação totalmente contrária. Como o carnaval de Brasília tem pouca tradição, ele tem, literalmente, que caçar pessoas nas ruas dispostas a desfilar. Em muitos dos casos, chega ao ponto de pagar.

- Às vezes falamos com estas quadrilhas de festa junina. Acabamos fazendo uma troca. Eu os ajudo na fabricação de fantasias deles e, em troca, eles desfilam para nós - conta.



Fonte: Lancenet