Na expectativa para o clássico, torcedores de Vasco e Urubu visitam o Mané Garrincha

Sexta-feira, 12/07/2013 - 19:34

A medida do amor, para eles, é sem tamanho. Para um, o clube do coração é religião. O outro tem o time que escolheu para torcer como um membro da família. O vermelho e o preto e o preto e o branco os fascinam. De perto ou de longe, dois moradores de Brasília cultivam a paixão por Flamengo e Vasco. Matheus Alves Lemos, de 25 anos, e Antônio Lima, de 33, vivem na capital federal e convivem com a distância das equipes. Vez ou outra vão ao Rio para matar saudades e até já viram grandes jogos do Rubro-Negro e do Cruz-Maltino nos estádios cariocas. Mas nos últimos dias só pensam e querem estar em um lugar: no Mané Garrincha.

Um dos palcos da última Copa das Confederações e da Copa do Mundo do ano que vem abre seus portões no próximo domingo para receber o Clássico dos Milhões. Os rivais vivem fase difícil e enfrentam-se pela sétima rodada do Brasileirão, às 18h30m. A expectativa é de casa cheia, mais de 30 mil ingressos já foram vendidos, e Matheus e Antônio estarão lá. Distantes um do outro, mas unidos pelo amor que cultivam por suas bandeiras.

O GLOBOESPORTE.COM passou uma tarde com a dupla. Primeiro, uma visita a Matheus. O analista de sistemas orgulha-se das mais de 15 camisas do Flamengo e tem carinho especial por cada uma delas. Duas são como tesouros. A primeira, um presente do pai que ganhou aos seis anos, a outra é uma peça que tem no peito o autógrafo de Zico.

- Minha família é carioca. Eu sou carioca, mas cresci em Brasília. Meu pai e meu padrinho me incentivaram a ser Flamengo. Com cinco anos vi o título brasileiro do Flamengo sobre o Botafogo, em 1992. Dali em diante virei Flamengo. O Flamengo para mim é uma religião, tem o poder de me deixar feliz, mas quando perde me deixa lá embaixo. Tem a mística da camisa, torcida, o mais querido do Brasil. É religião, é algo difícil de explicar.

Matheus decidiu virar sócio-torcedor para ajudar o Flamengo. À distância, pouco poderia aproveitar dos benefícios do programa. Até que o clube divulgou uma série de partidas em Brasília. Para quem foi tantas vezes ao Rio prestigiar o Rubro-Negro, uma recompensa.

- Assistir ao jogo no estádio e pela televisão é muito diferente. É muito melhor no estádio. Mas mesmo de longe a paixão continua a mesma. Em 2001, vi em casa o tri do Carioca com o gol do Pet (sobre o Vasco). Naquele jogo, fiz um altar com a imagem de São Judas Tadeu, padroeiro do Flamengo e santo das causas impossíveis. Quando ele colocou a bola no ângulo, eu peguei São Judas Tadeu e beijei para agradecer. Quando fiquei sabendo que o Flamengo jogaria aqui foi uma felicidade imensa. Agora, está valendo a pena usufruir do sócio-torcedor. E o presidente (Eduardo Bandeira de Mello) anunciou uma série de jogos aqui. Já pode virar Flamengo-DF (risos). Aqui tem muito flamenguista e muito vascaíno. A rivalidade é grande como em qualquer lugar. Para quem perde o clássico, é uma semana inteira de sofrimento.

O psicólogo Antônio já sofreu muito com a distância. Para amenizá-la, a casa do pai, Seu Pedro, virou o QG da família baiana que ama o Vasco. Na sala, um cantinho ganhou um apelido especial.

- Esse espaço aqui da sala nós chamamos de São Januário. Aqui é a concentração do Pedrão. O Vasco é associado ao sentimento de família. Vira um parente. Dá até uma embargada na voz. Está ligado ao sentimento de intimidade. A primeira vez que vi meu pai chorar foi por causa do Vasco. Meu pai iniciou a geração. Meu irmão mais velho e meu avô eram flamenguistas. Minha família veio da Bahia, mas todos são Vasco.

E quem não era Vasco decidiu mudar de time. Até a matriarca. Dona Ede jura que já foi Flamengo, mas depois de dizer “sim” a Seu Pedro não resistiu e virou a casaca.

- Eu me tornei vascaína por causa do meu marido. Fomos ver uma final entre Vasco e Flamengo no Maracanã e ali virei Flamengo. E o Vasco ganhou, pasmem (risos).

Seu Pedro tem uma leve desconfiança e alguns indícios de que a mudança não foi por completo.

- Os cinco filhos e os dez netos são vascaínos. Minha esposa diz que é vascaína, mas de vez em quando surpreendo ela cantarolando “Uma vez Flamengo...”.

Assim como o rubro-negro Matheus, Antônio vibra com a chance de ver o Vasco no “quintal de casa”.

- Estive em alguns momentos importantes do Vasco, como o Mundial de 2000 (o time foi derrotado pelo Corinthians na final, no Maracanã). Ver um jogo valendo aqui, em Brasília, é bom demais. Espero que o Vasco ganhe, que leve a melhor. Vou levar meus sobrinhos, todo mundo vai ao jogo comigo. Já tinha visto jogo do Vasco aqui, no antigo Mané Garrincha. O novo estádio está maravilhoso, o torcedor que fica na parte inferior está bem próximo do campo. É excelente receber esse clássico aqui. Tive o prazer de ver no Rio, mas era um sacrifício, tinha de ir de ônibus ou de avião. Do lado de casa é excelente.

No Mané, papo amigável, provocações e pedido de paz

Numa prévia do Clássico dos Milhões, Matheus e Antônio foram ao Mané Garrincha juntos. Não será assim no domingo, já que ficarão em setores diferentes, mas eles esperam que o clima entre os demais torcedores seja o mesmo. Por cerca de meia hora, conversaram sobre a nova arena, sorriram, trocaram provocações e pediram, a vascaínos e rubro-negros, que a paz e a calmaria reinem antes, durante e depois do jogo.

- Nunca imaginei assistir a um jogo entre Vasco e Flamengo aqui em Brasília. É um sonho. A rivalidade é grande como em qualquer lugar do Brasil. Estou um pouco receoso porque em alguns setores (inferior e VIP) as torcidas não serão separadas. Pode ocorrer alguma provocação, mas espero que tudo corra bem, na paz, sem confusão. E com vitória do Mengão – disse Matheus.

Antônio reforçou o discurso. Mas não por completo.

- Tirando a última parte, concordo com ele. Que seja na paz, como ele falou - disse, rindo.

Daí em diante, muitas provocações e dois palpites que beiram o absurdo.

- Vai ser 5 a 0 para o Vasco! – arriscou o vascaíno.

- Não vou ficar atrás, não. Vai ser 6 a 0 para o Mengão! – disse o rubro-negro, que depois caiu na real e apostou em vitória por 2 a 0, gols de Paulinho e Elias.

Matheus começa a se acostumar com a presença do Flamengo em Brasília. O time enfrentou o Santos e o Coritiba na cidade e teve maioria da torcida nas duas partidas. O vascaíno Antônio, que vai estrear nas cadeiras do Mané, garante que agora será diferente.

- Vão sentir a realidade, a força do Vascão. Vai ser meio a meio nas cadeiras do Mané Garrincha – garantiu.

- Vai ser realidade mesmo. Serão 90% do Flamengo e 10% do Vasco, alguns gatos pingados – retrucou Matheus, em tom de provocação.

E assim, com bom humor e respeito, a dupla seguiu na troca de brincadeiras até deixar o estádio. Domingo estarão de volta, cada um no seu canto. E diante da grandeza do Clássico dos Milhões e da imponência do Mané Garrincha, esperam que a rivalidade seja minúscula e inofensiva.



Fonte: GloboEsporte.com