“Domingo, eu vou ao Maracanã, vou torcer pro time que sou fã. Vou levar foguetes e bandeiras, não vai ser de brincadeira, ele vai ser campeão...”. Está difícil para o torcedor carioca cantar o samba “O Campeão”, composto nos anos 70 por Neguinho da Beija-Flor. Por enquanto, o Maracanã continua sem fazer parte da rotina da cidade, e visto com saudosismo. O "Clássico dos Milhões", entre Flamengo e Vasco, é um símbolo disso. Com o Engenhão fechado e São Januário sem condições ideais de segurança para a partida, pela primeira vez os dois times vão se enfrentar fora do Estado do Rio, em uma competição oficial. No caso, o estádio Mané Garrincha, em Brasília, no domingo, às 18h30m, pelo Brasileirão.
Rubro-Negros e vasacínos famosos lamentam que um clássico dessa importância aconteça longe do Rio.
- Eu entendo a situação, porque o Flamengo está de administração nova, tentando fazer um trabalho para que o clube não saia prejudicado. Claro que a minha vontade é que o jogo fosse no Maracanã. Infelizmente não tem acordo entre o Flamengo e os novos gestores do estádio. Mas é bom para mostrar a força da nossa torcida. E lá também teremos uma boa arrecadação - conforma-se o sambista Dudu Nobre, torcedor do Flamengo.
Já para o vascaíno Antônio Pitanga a situação atual entre Maracanã e os torcedores cariocas é similar à da música "Cidadão", famosa na voz do cantor Zé Geraldo no fim dos anos 70, na qual um operário da construção civil ergue monumentos, mas não pode utilizá-los depois de prontos.
- O Maracanã deixou de ser popular, passou a ser da elite. E se alguém for a Brasília, vai gastar uma grana com passagem, hospedagem e ingressos... O povo não pode mais ir. Perdeu seu direito. As pessoas que moram no Rio estão sendo privadas do maior espetáculo da terra. É uma falta de respeito você ter que deslocar um clássico carioca para outro lugar. E a alegria do povo, onde está? É uma situação kafkiana. A população carioca construiu o estádio, mesmo que indiretamente, com o dinheiro público, e não pode assistir aos jogos. É como na música "Cidadão" do Zé Geraldo. "Está vendo aquele estádio? Eu também trabalhei lá, mas não posso usar..." - comentou, adaptando a letra da canção.
Ainda no campo da música, Martinho da Vila também reclama da situação, mas aponta outros culpados: os cartolas. Para ele, cada clube deveria ter sua própria casa.
- Essa situação de ter que jogar em Brasília é meio absurda. Mas isso é por causa da má administração dos clubes. Os clubes até hoje não têm campo para jogar. Todos os clubes grandes do mundo têm. E aqui, tirando o Vasco, todos os outros não têm. É uma coisa que não dá para explicar. Culpa dos próprios clubes, eles não têm do que reclamar - comentou o vascaíno mais conhecido de Vila Isabel.
Para o apresentador do programa Video Show, da TV Globo, André Marques, apesar da saudade, é importante para o seu Flamengo jogar fora do Rio, pois assim torcedores de outras partes do Brasil podem curtir o time.
- Sempre frequentei o Maracanã. Vou desde os 10 anos, quando minha mãe, Selysette, me levou pela primeira vez. Acho que o fato de o Flamengo jogar em Brasília tem um lado bom e um lado ruim. O bom é pela receita. É também uma grande oportunidade de os rubro-negros fora do eixo assistirem ao time jogar. A gente não pode ser egoísta. O lado ruim é que sinto saudade. É a carência. Pois ainda não fui nesse novo Maracanã. E só vou quando meu time jogar.
Dos 359 clássicos, 238 tiveram o Maracanã como palco. Cerca de 66%. Mas rubro-Negros e vascaínos tiveram embates por vários cantos do Rio antes da inauguração do "Maior do Mundo", em 1950. O primeiro jogo, por exemplo, aconteceu no dia 29 de abril de 1923, no estádio da Rua Paysandu. O Vasco venceu por 3 a 1, pelo Campeonato Carioca. Incluindo a estreia, desde então, passando pelo Maracanã, os rivais jogaram em 26 locais diferentes.
Tem Flu x Vasco no Maracanã dia 21
Em amistosos e torneios, os dois clubes mais populares do Rio rodaram pelo Brasil: atuaram em lugares como Aracaju-SE, Goiânia-GO, Governador Valadares-MG, Itabuna-BA, Manaus-AM, Natal-RN, São Luís-MA, Vitória-ES e Vitória da Conquista-BA. No Estado do Rio, em Arraial do Cabo, Cabo Frio e Niterói. Em Brasília mesmo não será a primeira vez. Em amistosos em 1966 e 1967, o Vasco venceu o Flamengo pelo mesmo placar, 2 a 1, no Distrito Federal.
Reinaugurado no mês passado para a Copa das Confederações, depois de quase três anos fechado para reforma, o novo Maracanã ainda não recebeu nenhum jogo entre clubes. O que só vai acontecer no próximo dia 21, quando o Fluminense (primeiro dos grandes a assinar contrato com o consórcio administrador do estádio) enfrentará o Vasco.
Fonte: O Globo online