Antes que a realização do segundo Mundial no Brasil reviva fantasmas do primeiro, a Copa das Confederações oferece a chance de fazer diferente. Ao contrário da Copa de 1950, em que goleou a Espanha antes de perder para o Uruguai, desta vez o Brasil venceu os sul-americanos para decidir com os europeus. Ao refazer caminhos bloqueados pelo trauma, a seleção voltou ontem a São Januário, onde todo o oba-oba antes da final de 1950 acabou virando receita para o fracasso. Apesar do estigma da derrota, na época em que o Vasco era a base da seleção, o velho estádio é inspiração para os novos tempos.
— O ambiente do Vasco só pode trazer coisa boa — disse Angelina Oliveira, que trabalha há 35 anos para que a luz das conquistas exorcize memórias sombrias. — Cuido dos troféus. São mais de 7,5 mil. Deixo tudo brilhando.
A cada duas semanas, o trabalho se repete para não deixar a ferrugem tomar conta das melhores lembranças. Mesmo que os padrões da modernidade insistam em fechá-lo para clássicos, o estádio está aberto para horizontes grandiosos. Além de boa sorte, sua forma de ferradura deixa entrar as bênçãos do Cristo e os ventos que vêm do litoral.
Sob astral leve, apenas os reservas da seleção treinaram com bola. Mesmo que os titulares tenham entrado depois, nenhuma estrela era maior do que Romário. No pedestal reservado a quem marcou mais de mil gols, a imagem do craque do tetra lembrava aos jogadores o que ainda precisam fazer para virar estátua. Em busca de força para superar a sequência de jogos e levantar a taça, o capitão Thiago Silva ficou na musculação. Gripado, Paulinho foi poupado.
DANIEL, O INFORMANTE
Enquanto os titulares se divertiam jogando bobinho, Felipão se cercava de cuidados para o Brasil não ficar na roda. Por dez minutos, conversou com Daniel Alves, que é companheiro no Barcelona de sete titulares da Espanha. De São Januário, a seleção tirou outras lições. Celebrada no hino do Vasco, a união Brasil-Portugal aproxima o confronto continental da rivalidade ibérica.
Ao contrário de 1950, não houve assédio de políticos, à exceção do presidente do Vasco, Roberto Dinamite, que é deputado estadual. Embora o clube tenha sido pago pela cessão do estádio, a seleção tem gratidão histórica com o clube. Na Capela de Nossa Senhora das Vitórias, uma placa da antiga CBD, atual CBF, homenageia a padroeira pela conquista de 1958. A fé serve para remover o peso do passado e manter de pé a mística. Apesar do entorno acanhado, São Januário fica no caminho para grandes glórias. Revisitar o templo é voltar ao período em que o futebol brasileiro tinha tudo pela frente.
Fonte: O Globo