Gaúcho está há quase 100 dias desempregado. O ex-técnico do Vasco planeja voltar a trabalhar o mais rápido possível. O objetivo no momento é receber o que o clube lhe deve e seguir a vida longe das decepções sofridas em São Januário. O profissional até procura esquecer, mas se recorda quando questionado sobre os desentendimentos com o ex-diretor executivo de futebol René Simões. Ele também admite a amizade abalada com o presidente Roberto Dinamite após 44 anos.
O ex-treinador cruzmaltino considera que o seu ciclo estava por encerrar em São Januário no início da Taça Rio. Porém, houve um acordo de que qualquer decisão só seria tomada em uma reunião no dia seguinte da derrota por 2 a 0 para o Nova Iguaçu. Não foi o que aconteceu. René Simões compareceu para a entrevista coletiva no estádio Raulino de Oliveira e decretou o fim do trabalho de Gaúcho no Vasco.
“Sabia que meus dias estavam contados e conviver era difícil. Nada acontecia com uma gerência correta. Confiei nas pessoas e não me dei bem. O Vasco prestigiou pessoas erradas. Blindaram quem era de fora e esqueceram um funcionário da casa. O futebol se torna difícil por causa disso. Existem traições. O René não é mágico, não sabe mais do que outros e não é Papa de nada. Tenho muitos anos como técnico e voltei ao Vasco em 2008 para ajudar na reestruturação. Sou um profissional, mas infelizmente isso ainda vai acontecer”, afirmou o ex-técnico do Vasco ao UOL Esporte.
Pouco mais de dois meses depois de sua saída, Gaúcho acompanhou pela imprensa a demissão de René Simões do cargo de diretor executivo. Ricardo Gomes assumiu o posto, algo considerado extremamente positivo pelo profissional para que o clube retome o caminho das vitórias.
“O Vasco ganhou muito com a saída dele [René Simões]. É a única certeza que tenho. O Ricardo é uma pessoa limpa e vai colaborar bastante. A passagem do antecessor durou muito pouco e os erros apareceram. Não é magoa, mas não tenho o que falar mais sobre essa pessoa. Converso com o Ricardo até hoje. Ele é o único com quem falo no Vasco. Conheço todo mundo lá. É bom evitar”, comentou.
As restrições no relacionamento com funcionários do Vasco chegam ao amigo Roberto Dinamite. Gaúcho e o presidente do Vasco mantêm uma amizade há 44 anos e dividiram quartos nas concentrações. Os dois se falavam diariamente. Entretanto, desde a demissão houve apenas um contato entre as partes.
“Ele é presidente de um clube com expressão mundial. Fui pego de surpresa pela forma como as coisas aconteceram. Isso me incomoda até hoje. Não gostei, mas não vou julgar. O René foi autorizado pelo Roberto e me demitiu. Não nego que fiquei chateado. Estive junto com o Roberto uma vez e lavamos a roupa suja. Só resta esquecer, mas foi um erro claro. Conversávamos muito e a amizade continua. Porém, agora é um cenário diferente. Estamos em caminhos opostos”, disse.
O tempo sem trabalhar fez Gaúcho analisar a passagem pelo Vasco e detectar erros na condução do time. Ele lamenta não ter participado de forma efetiva da montagem do elenco e revela ter impedido uma nova greve de concentração em parceria com o amigo Ricardo Gomes.
“Tivemos uma sequência de saídas ao final de 2012. Pessoas que não mereciam montaram um time e complicaram tudo. Não usei a força que tinha. Contrataram atletas que não precisávamos e deixamos de usar mais a base. A verdade é que fizeram o que quiseram. O grupo acusou isso e se sentiu desvalorizado com salários atrasados. Passamos por momentos difíceis e impedimos uma nova greve de concentração. Nunca divulgamos isso e tentamos levar na boa. Tivemos um grupo de torcedores vaiando os atletas na véspera da final da Taça Guanabara. Se não estivéssemos lá, o Vasco poderia ter quebrado. Apagamos o fogo em um momento delicado”, revelou.
Gaúcho se reúne frequentemente com o diretor geral Cristiano Koehler. A expectativa é firmar o acordo para a rescisão de contrato. O Vasco lhe deve FGTS, salários atrasados e premiações. “Quero solucionar o meu desligamento o mais rápido possível para seguir a carreira. As coisas estão andando e devemos ter novidades na semana que vem. Recebi propostas de trabalho e estou aguardando. Não tem como continuar no Vasco. Sou funcionário, tenho contrato até 2014, mas não existe possibilidade. O acordo vai sair e quero seguir a minha vida”, encerrou.
Fonte: UOL