Na foto de fundo de tela de seu celular, o ex-atacante Jardel, de smoking, segura uma chuteira de ouro, prêmio do fim dos anos 90, quando brilhava pelo Porto, de Portugal. Hoje, encerrados os anos dourados, torcer pela seleção brasileira em sua terra, o Ceará, é o melhor programa. Ex-jogador com passagem marcante também por Vasco e Grêmio, Jardel levou seu abraço a Felipão nos treinos da seleção, como um dedicado embaixador cearense. Fora de campo, seu desafio é bem maior do que o do Brasil: diariamente, Jardel tenta evitar uma recaída na luta contra a cocaína, vício que consumiu sem moderação em 2006, quando estava no auge. Uma overdose, há dois anos, depois de cheirar o maldito pó durante oito dias, mudou sua vida. Hoje, torcer é o melhor remédio. Pela seleção e por sua própria vida. Jardel busca o maior golaço de sua vida.
Você está morando em Fortaleza ou Porto Alegre?
Estou morando em Porto Alegre. Tenho um imóvel aqui também, mas prefiro ficar lá no Sul. Aqui, eles não me respeitam. O pessoal chega e fica me oferecendo droga na rua.
Fazem isso exclusivamente com você ou é um fato normal?
Fazem isso comigo porque sabem que já usei pó.
Você parou de cheirar cocaína?
Parei há dois anos.
Está curado?
Estou na luta.
Como assim? Você faz tratamento?
Não, não é isso. Tenho que dizer que estou na luta porque pode haver uma recaída. Nunca se sabe. Mas não uso há dois anos. Abandonei as más companhias...
Como conseguiu abandonar o vício? Internou-se em alguma clínica?
O que me salvou foi a igreja.
Posso publicar isso?
Pode. De repente, você até me ajuda. Estou desempregado e gostaria de ser comentarista em alguma emissora. Estou zerado.
Mas, já conseguiu parar alguma vez e teve recaída?
Já. Fiquei um tempo sem usar cocaína. Mas, depois, cheirei oito dias direto e tive uma overdose. Depois disso, nunca mais... Esse aqui é meu amigo e sabe o que passei (apresenta o amigo, Ueyllon Pinto). (O amigo conta que Jardel ficava vinte dias sem usar a droga. Mas, que, em seguida, voltava a cheirar durante três ou quatro dias seguidos).
Você vive de quê?
Faço eventos. Sou uma espécie de embaixador do Grêmio.
O Vasco nunca te ajudou?
Não (risos).
Você passa por dificuldades financeiras?
Não. Eu tenho um imóvel em Fortaleza, um em Porto Alegre, além de Portugal. Guardei um dinheirinho...
O que você, nordestino, acha desse isolamento da seleção brasileira?
Acho que a seleção não pode ficar se expondo por aí. É uma questão de segurança. E muita gente em cima acabando tirando a concentração do jogador de futebol, que, aqui, deve se preocupar somente com a Copa das Confederações. É uma situação normal. O povo e a imprensa têm que compreender.
Acha que dá para o Brasil ser campeão da Copa das Confederações?
Olha, o que a Espanha está jogando não é brincadeira, não...