Ele fez parte de uma das gerações mais vitoriosas das categorias de base do Vasco e durante anos defendeu o time profissional do cruzmaltino. Com mais de 180 jogos com a camisa vascaína, o volante Ygor foi um dos jogadores da famosa "Geração 84" que mais obteve sucesso no futebol. Apesar de nunca ter sido unanimidade dentro da Colina, o gaúcho de Santana de Livramento conseguiu desempenhar bem seu papel dentro de campo e foi um dos líderes do elenco que fez um bom Campeonato Brasileiro e foi vice-campeão da Copa do Brasil em 2006.
Deixou o Gigante da Colina em definitivo no ano de 2007, rodou por alguns clubes e hoje defende as cores do Internacional. Em meios aos compromissos com o Colorado, Ygor arrumou um tempo para conversar com a reportagem do "Programa Só dá Base" e relembrar alguns momentos de sua passagem pela Colina histórica. O volante de 28 anos discorreu sobre a Geração de 84, deixou mensagem para os atletas que hoje integram as categorias de base do cruzmaltino e revelou detalhes de sua trajetória em São Januário.
Confira a transcrição da entrevista:
O que você poderia falar sobre a geração de 84?
"Foi uma geração que dentro da base marcou e de quem se esperava muito nos profissionais. A gente conquistou vários títulos na base e ficamos quatro anos invictos. A grande maioria dos jogadores frequentou as Seleções de Base e chegaram até a jogar Mundiais e Sul-Americanos. Quando a gente chegou ao profissional o momento estava conturbado. Na ocasião o Eurico se reuniu com a gente. Estava eu, o Wescley, o Morais, o Daniel, o Claudemir, o Diego, o Anderson e o Rubens. Na oportunidade ele falou que o Vasco estava atravessando um momento complicado financeiramente e que estava havendo uma cobrança muito grande pela nossa utilização no elenco. Ele disse que o destino do Vasco estava nas nossas mãos. Na época o Vasco estava brigando para cair e a gente com entrosamento e força de vontade conseguimos mudar essa situação. A gente sabia como funcionava as coisas no clube, diferentemente de outros jogadores. Às vezes um outro jogador chega ao clube, não conhece a história do clube, e acaba não tendo um comprometimento tão grande como os jogadores que são oriundos das categorias de base. Naquele ano não deixamos o Vasco cair e na temporada seguinte tivemos a felicidade de disputar um final de Campeonato Carioca contra o Flamengo. Acabamos perdendo, mas tivemos sequência durante os outros anos. Acho que o principal momento da Geração 84 foi em 2006, quando a gente chegou na final da Copa do Brasil e fez um bom Campeonato Brasileiro. Ficamos a apenas um ponto de entrar na Libertadores. Acho que foi um saldo positivo, até porque a gente subiu num momento complicado. Eu dei sequência na minha carreira, assim como o Morais e outros jogadores".
Acredita que o momento conturbado do Vasco atrapalhou vocês?
"Não digo que tenha prejudicado, pois por um lado a gente acabou aparecendo. A gente estava vestindo a camisa do Vasco e jogar no Vasco faz você aparecer para o mundo todo. Foi assim com o Alberoni e com o Thiago Maciel, que tiveram a chance de jogar na Europa. Na nossa época não tinha muito de ser vendido na base. Acredito que se a gente tivesse tido hoje o número de convocações que a gente teve naquele período teríamos dado um lucro maior para o Vasco. Falo isso usando os exemplos do Phillippe Coutinho e do Alex Teixeira, que acabaram saindo e foram bem valorizados graças a passagem por Seleções de base. Eles jogaram pouco no profissional. Às vezes o momento atrapalha alguns e ajuda outros. Eu particularmente soube tirar proveito desse momento. Nunca abaixei a cabeça, independente de críticas e elogios. A gente pegou uma equipe que já vinha um momento complicado, mas o Eurico nos abraçou e a gente conseguiu dar sequência na nossa carreira".
Você fez sua estreia em 2003 no Macaranã e teve que marcar logo de cara o Carlos Alberto, que na época era considerado um dos principais jogadores do Brasil. Como foi para você essa estreia? O que poderia falar sobre sua trajetória no Vasco?
"Na época o Antônio Lopes era o treinador e me relacionou para a partida. Eu não estava levando muita fé, não acreditava que iria jogar. Estava tendo uma cobrança muito grande na época. Muita gente dizia que os jogadores da base precisavam ser relacionados. A gente vinha num momento muito bom na base e fazíamos as preliminares dos jogos do profissional. Hoje não tem muito isso, mas na nossa época isso foi fundamental para que a gente conhecesse o ambiente. Foi importante também para o torcedor conhecer os jogadores da base e cobrar o aproveitamento desses jogadores. Fui relacionado e quando vi meu nome estava entre os que iriam para o jogo. Acabei entrando no segundo tempo. Já conhecia o Carlos Alberto, que era meu amigo e conviveu comigo nas Seleções de base. Eu já conhecia o estilo dele, até porque a gente se enfrentou diversas vezes nas divisões de base. Para um jogador pode estrear no Maracanã e num clássico não tem coisa melhor. É uma situação muito marcante para mim. Logo após o meu primeiro jogo como profissional, nós fomos enfrentar o Cruzeiro na Copa do Brasil e eu tive a oportunidade de marcar o Alex, que dispensa comentários. Ele está com quase 40 anos e está jogando o fino da bola no Coritiba. Não tive tarefas fáceis não. Nessa trajetória, nesses mais de 180 jogos pelo Vasco, eu pude aparecer, me valorizar e recompensar o Vasco por isso, pois fui vendido em 2006. Agradeço ao Vasco pela passagem e por tudo. Se hoje eu estou no Inter é graças a base que eu tive no Vasco".
Que conselho você deixaria para os jovens que hoje estão tentando a sorte nas categorias de base do Vasco?
"Acho que eles precisam aprender a gostar do clube, eles precisam conhecer o clube. Hoje em dia existe muito mais transferências dentro da base do que no próprio profissional. Às vezes um jogador chega num clube e já pensa em jogar em outro. Eu na minha época tinha o objetivo de jogar nos profissionais do Vasco, pois sabia que jogando lá eu poderia despertar o interesse de outros clubes. O primeiro foco tem que ser se dedicar nos treinos e se dedicar aos estudos, se der para conciliar seria ótimo. É preciso estar com a família por perto também. A gente sabe que o Rio de Janeiro possui muitos atrativos e que vários jogadores costumam fazer amizades mais por aparência do que por outra coisa. O que eu posso passar é que eles precisam ter foco e ter em mente que estão num grande clube. O momento é ruim financeiramente? Pode até ser, mas a camisa do Vasco representa muito".
Com informações do Programa "Só dá Base/Só Dá Vasco".