Confira entrevista concedida em 1969 pela torcedora-símbolo do Vasco Dulce Rosalina

Segunda-feira, 17/06/2013 - 07:22

TOV 1969: SÍMBOLO DO AMOR A UMA CAMISA DULCE ROSALINA QUASE DEU A VIDA PELO VASCO

Depois do desastre que quase a leva a morte, Dulce disse que não teme nada, nem viagens e ainda é mais Vascaína e seu amor a camisa Cruzmaltina ainda é maior.

Dulce Rosalina, esposa do falecido Ponce de Leon, craque que tem o seu nome ligado a história do futebol brasileiro, pois jogou pela seleção paulista de novos contra os cariocas, na inauguração do então Estádio Ângelo Mendes de Moraes, mais tarde na intimidade do torcedor, carinhosamente Maracanã e por decisão do legislativo guanabarino, hoje Mário Filho é talvez a única torcedora que tem a incumbência, insana e sacrificada mesmo, de dirigir uma Torcida Organizada.

E de um Clube de massas como são ser o Clube de Regatas Vasco da Gama, um dos orgulhos do futebol nacional, de tantas glórias e de tamanho patrimônio histórico e material.

Esta é a história de Dulce Rosalina, Chefe da Torcida Organizada do Vasco, que remota ao tempo em que o brado de guerra e do incentivo aos seus favoritos no campo da luta, era feito das sociais, com os gravatinhas e os chapéus de palhinha, não existia o tom da Escola de Samba, embora o calor humano do aplauso e do entusiasmo fossem os mesmos de hoje.

E esse fanatismo autêntico pelas cores do Vasco, quase leva a única mulher, Chefe de Torcida, a morte em pleno trabalho.

TRANQUILIDADE

Fizemos com Dulce Rosalina, um pingue pongue.

Diário de Notícias: Que acha do Vasco de Pinga.

Dulce: O Vasco esta muito bem. Só precisa de paz e tranqüilidade para que Pinga possa trabalhar e dar o Título de 1969. O Evaristo está lá para cuidar de outras coisas, Pinga é o nosso Técnico e a ele daremos todo o nosso prestígio. Quem quiser fofoca que espere as eleições.

Diário de Notícias: Por que o Vasco precisa de tranqüilidade? Ele não está tranqüilo?

Dulce: Estou sentindo que querem tumultuar o Vasco e é lamentável que certa emissora de rádio esteja chefiando essa campanha. Para falar mal do Vasco, é melhor não falar nele. E quem está pedindo isso é a Torcida, que eu represento.

Diário de Notícias: Que acha da atual administração?

Dulce: Ótima. Temos um Senhor Presidente. O Dr Reinaldo Reis tem elevado o Vasco a uma posição de destaque e se não deu o título em 1968, foi por pura fatalidade e falta de sorte. Mas com ele já fomos vice campeões Carioca e vice campeões Brasileiros no último Robertão. E este ano o título será nosso. E tem prestigiado a Torcida, porque tem sido um Presidente de arquibancada.

Diário de Notícias: Gosta do elenco de profissionais?

Dulce: Nosso elenco é excelente, mas repito, só precisa de paz para mostrar todo o seu valor.

COMEÇOU EM 1956

Dulce tem 33 anos de associada do Vasco e já tem direito a uma aposentadoria especial. Ela começou como Chefe de Torcida em 1956, levada pelo Presidente Artur Pires. E recorda que no primeiro jogo em que ficou comandando os torcedores, o Técnico Martin Francisco, compadre de Dulce, lhe disse:

“Organize a Torcida que eu lhe darei o campeonato”. E, realmente isso aconteceu, pois os Vascaínos foram campeões com uma antecipação de duas rodadas. Doze Vascaínos já chefiaram a Torcida do Vasco.

Dulce relembra João de Lucca e Mário, este apenas um ano. Era a época que o comando vinha das sociais. Mas Dulce, iniciando um movimento para arrebanhar novos sócios, decidiu que, das arquibancadas, a coisa funcionava melhor.

A MORTE DE PERTO

Dulce sofreu aquele horrível desastre, em pleno trabalho, quando conduzia a Torcida para São Paulo, a fim de incentivar o time contra o Corinthians. O ônibus que viajava, com alguns torcedores, caiu num rio de relativa profundidade e ela, por verdadeiro milagre, não morreu.

Felizmente, seu filho, viajava no que vinha atrás e nada sofreu. Dulce até hoje esta de braço na tipoia. Melhorou muito, graças aos cuidados de um médico de Clube adversário, e de cuja competência ninguém duvida: o Dr Lídio Toledo, agora também da Seleção Brasileira. E perguntamos-lhe:

Diário de Notícias: Depois do desastre, você continua a mesma fervorosa torcedora?

Dulce: Acho que sou mais Vascaína do que antes. O que aconteceu já estava previsto. Graças a Deus, ninguém morreu. Há 12 anos, que viajo, pois como você sabe, nossa Torcida é móvel e não atua só na Guanabara.

Já fomos até a Bahia. Só agora é que os outros Chefes de Torcida estão saindo. Aliás, falando dos Chefes das Torcidas co-irmãs, quero agradecer a todos que me confortaram e me visitaram: a imprensa, falada e televisada, a Abílio, Gilson, Faria, Vanderlei, os Conselhos do Vasco, Deliberativo e de Beneméritos, a João Silva, José do Amaral Osório e ao meu Presidente Reinaldo Reis.

E quero também destacar a atuação de Tarzã, Juarez, Paulista e todos os meus colegas de Torcida, que, como eu, lutam pelo engrandecimento do futebol Carioca e Brasileiro. Quero que permaneçamos como até hoje, isto é, unidos em torno de suas bandeiras, mas com esse ideal comum e o respeito mútuo que sempre existiu entre nós.

OPERAÇÃO

Nova operação foi determinada pelo Dr Lídio Toledo. Ele estava tentando evitar esse ato cirúrgico, porém chegou a conclusão de que é melhor operar o braço esquerdo de Dulce e, dentro de 15 dias fará nova radiografia.

Ela já está quase totalmente recuperada. O único empecilho é o braço, mas, promete o seu Médico, brevemente estará bem.

Todavia, teimosa, Dulce desobedeceu o Dr Lídio, que proibiu-a de chefiar sua Torcida, enquanto não fosse liberada. E foi ao Maracanã, incentivar os craques Vascaínos contra o Bangu e Olaria.

Aproveitando esta reportagem, Dulce pediu para agradecer também aos seus auxiliares imediatos na chefia da Torcida do Vasco, que no entender, tiveram um comportamento exemplar, como se lá ela estivesse.

E pede que o repórter, faça um esclarecimento ao público e a Torcida do Vasco, contra uma injustiça que mal intencionados querem cometer contra o Presidente Reinaldo Reis, os pagamentos de a família do extinto Jorge Luís estão em dia. Inclusive as gratificações de vitória e empate que o Presidente havia prometido, estão sendo pagos até o final de seu contrato.

Apenas esses pagamentos são feitos a genitora do craque falecido. O Vasco não aceita intermediários.

Fonte: Jornal Diário de Notícias 30 de Março de 1969



Fonte: Blog Torcidas do Vasco