Dificilmente um jogador caiu nas graças de uma torcida tão rapidamente como aconteceu com Edmundo em sua chegada ao Palmeiras, no início de 1993. O jovem carioca desembarcou em São Paulo com o peso de ser uma das principais estrelas contratadas pela Parmalat e hoje, 20 anos depois, ainda vive uma grande história de amor com o Verdão.
A identificação quase instantânea com a arquibancada alviverde nem o próprio Edmundo consegue explicar. Talvez pela dedicação dentro de campo e por defender com tanta luta as cores do clube. Mas é inegável que a conquista de 93, com a quebra do jejum de títulos, teve grande participação no sucesso desse relacionamento.
– Não tem muita explicação, mas é gratificante. Eu fui bem recompensado por isso, economicamente e profissionalmente, mas o que ficou mesmo dessa relação com o Palmeiras, do fundo do meu coração, foi o sentimento. Nada vai tirar isso de mim – diz o ex-jogador, em entrevista numa cantina italiana, a poucos quilômetros da sede do clube, em São Paulo.
– Quando cheguei aqui incorporei o espírito do torcedor. Parecia que era eu que estava tanto tempo sem conquista. E sentia que tinha a responsabilidade de dar ao torcedor do Palmeiras a alegria de sair daquela fila, daquele sofrimento – completa.
Idolatrado pela torcida alviverde, Edmundo sempre era motivo de festa. Qualquer drible ou provocação irreverente era comemorada como um gol de placa pela arquibancada. Até mesmo as polêmicas enfrentadas pelo atacante ao longo da carreira serviram para fortalecer essa relação.
– Eu fui de arquibancada, ia aos jogos do Vasco, por isso sei bem o que o torcedor quer dentro de campo. Às vezes exagerava e extrapolava, eu sei disso, mas o mais legal é que havia uma cumplicidade... Eu me emociono porque é muito forte pra mim. O torcedor do Palmeiras entendia que quando eu fazia alguma besteira era por excesso de vontade, não era por irresponsabilidade – conta.
Edmundo reconhece que pouco conhecia da história palmeirense até a sua contratação. Diz que nem sabia que o clube enfrentava um jejum de quase 17 anos sem títulos. Mas garante que sua vida mudou já no aeroporto, na capital paulista.
Revelação do Vasco, o promissor atacante de 22 anos foi contratado por US$ 2 milhões – a maior transação entre clubes brasileiros da época – e recepcionado na capital paulista por Marcos Bagatella, funcionário da Parmalat na época. De lá, os dois foram para um encontro com Gianni Grisendi, presidente da multinacional italiana no Brasil.
– Eles me mostraram a importância do valor que tinham pago e que estavam depositando uma confiança muito grande. Você tem de recompensar e acho que era isso o que eu tentava fazer. Isso foi ponto principal, era uma questão de honra – recorda o ex-atacante, sem evitar as lágrimas ao falar da oportunidade que o seu primeiro contrato com o Verdão proporcionou para a sua família.
– Minha vida sempre foi muito difícil. Sempre lutei muito pelas coisas. Venho de família pobre e o Palmeiras me deu uma condição de ajudar meus pais, de poder ter uma casa própria, essas coisas que um garoto de periferia sonha ter – conta.
Inacreditável Futebol Clube em 1993
Evair faz jogada pela esquerda e passa de calcanhar para Roberto Carlos. O lateral-esquerdo avança até a linha de fundo e cruza rasteiro. A bola passa por toda a grande área e encontra Edmundo, livre na pequena área. E ele erra. O gol certo para muitos renderia ao Animal a camisa do Inacreditável Futebol Clube nos dias de hoje.
A primeira bola da segunda final do Paulistão de 1993 poderia ter adiantado o fim do sofrimento palmeirense em 35 minutos. Se não serviu para abrir o marcador, a jogada alertou Edmundo para um velho problema: as finalizações.
– O Carlinhos Neves era nosso preparador físico e ele insistia muito que eu treinasse finalização, antes da final. Não era o meu forte. Eu jogava pelo lado, meu forte era criar jogada para o Evair. No dia-a-dia, o Carlinhos pegava muito no meu pé para treinar depois dos treinos. Depois daquilo ali eu vi que realmente precisava – conta.
Os treinamentos parecem ter dado resultado. Edmundo se despediu dos gramados como terceiro maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro, com 153 gols.
Sonho de retornar ao Palmeiras
Edmundo teve duas passagens com a camisa do Palmeiras: entre os anos de 1993 e 1995, e depois entre 2006 e 2007. No total, foram 223 jogos (125 vitórias, 50 empates e 48 derrotas) com a camisa alviverde, com 99 gols e cinco títulos expressivos (Paulistão de 1993 e 1994, Brasileirão de 1993 e 1994 e Torneio Rio-São Paulo de 1993).
Apesar do ótimo currículo, o ex-atacante garante que ainda sonha em participar do dia a dia do clube mais uma vez. A única crítica que o Animal faz é aos dirigentes que hoje comandam o clube e não ajudam a manter viva a identidade do ídolo com o clube.
– Minha grande passagem profissional foi com a camisa do Palmeiras. Apesar de o clube ser muito grande e maior que os atletas, gostaria de fazer parte do dia a dia do clube, de estar lá presente e ajudar de alguma maneira – diz.
– Talvez as pessoas que comandem o Palmeiras ignorem um pouco os ídolos, a história, as pessoas que fizeram pelo clube. Independentemente das pessoas que estão à frente do Palmeiras me valorizarem ou não, nunca vou deixar de gostar do Palmeiras. É tudo para mim. O Vasco é minha mãe e o Palmeiras, a minha mulher, que eu aprendi a amar depois de adulto – completa.