Vasco é o clube grande do Rio que menos utilizou a base nos últimos anos

O atual momento financeiro vem impedindo o Vasco da Gama de reforçar sua equipe da maneira que gostaria. Além de não ter dinheiro para contratar grandes nomes, o Gigante da Colina vem enfrentando dificuldades para manter os salários em dia. Ciente desses problemas, a atual comissão técnica, liderada por Paulo Autuori, declarou ao assumir que irá observar com mais carinho os jogadores que integram as categorias de base do clube.

A ideia de Autuori vai de encontro com a do CEO Cristiano Koehler, que sonha em ver o cruzmaltino com um elenco repleto de pratas da casa. Para alcançar esse objetivo, porém, os profissionais precisarão dar fim a uma incômoda marca. Isso porque o time de São Januário é o clube carioca que menos lançou jogadores nos últimos três anos. Enquanto Botafogo, Flamengo e Fluminense lançaram mais de 14 jogadores nas temporadas 2011, 2012 e 2013, o Vasco promoveu apenas nove atletas.

Há quem diga que o péssimo desempenho do sub-20 nos últimos anos seja responsável por esse aproveitamento baixo. Nas últimas temporadas, o Gigante da Colina não conseguiu ir bem nas competições que disputou nessa categoria. Já os rivais conquistaram títulos e tiveram boas participações em campeonatos importantes, como a Copa São Paulo.

O momento ruim, porém, não apaga o fato de bons jogadores não terem sido aproveitados. Os volantes Arthur e Elivélton e o meia Luciano, todos da geração 92, deixaram o cruzmaltino sem receber nenhuma chance no time de cima. O mesmo vale para o atacante Lipe, artilheiro do Vasco em sua última conquista no Estadual sub-20, e o volante Renato Augusto. Outro detalhe a ser levantado é que os jogadores lançados pelo clube nos últimos anos não recebem muitas oportunidades.

Os nove promovidos totalizam juntos 67 partidas disputadas, número que é inferior a soma de jogos de duas promessas do Botafogo. O zagueiro Dória e o volante Gabriel, lançados nos mesmo período, possuem juntos 76 jogos pelo alvinegro. Os jovens Marcos Júnior e Samuel, lançados pelo Fluminense em 2012, somam juntos 81 partidas no profissional. Luiz Antônio, do Flamengo, subiu em 2011 e já disputou 68 partidas pelo time de cima.

Outra diferença que vale a pena ser citada no que diz respeito ao aproveitamento de jovens da base é a idade com que eles recebem oportunidade. Enquanto os rivais costumam dar sequência de jogos para atletas com menos de 18 anos, o Vasco prioriza o lançamento de jovens acima dessa faixa etária. Apesar de Jhon Cley ter sido lançado em 2012 com apenas 17 anos, o mesmo só conseguiu ter uma sequência no time titular após completar a maioridade. O último jogador vascaíno abaixo de 18 anos a ter uma sequência de jogos superior a dez partidas no time profissional foi Phillippe Coutinho, que brilhou no Campeonato Carioca de 2010.

Além do momento conturbado da equipe, um dos fatores que dificultam a utilização de jovens é o fato do elenco profissional possuir um grande número de jogadores. O maior exemplo disso é o ataque, que atualmente possui quatro jogadores com passagens por grandes clubes do futebol brasileiro. Tal fato impede, por exemplo, que Thalles, artilheiro do Vasco no último Estadual sub-20, receba uma oportunidade.

A demora para o lançamento de Luan, criticada por Dedé durante sua saída da Colina, evidencia a lentidão com que tem sido feita a transição base-profissional nas últimas temporadas. Antes de lançar o atual titular, o cruzmaltino utilizou seis defensores e nenhum deles conseguiu conquistar a torcida. O exemplo mais recente é o de André Ribeiro, que teve uma sequência entre os onze iniciais primeiro que o camisa 14.

Jornalista aponta falhas do Vasco nos últimos anos

O insucesso do Vasco nas recentes temporadas na categoria sub-20 e consequentemente na revelação de jovens talentos foi ocasionado também pela péssima passagem do antigo treinador. De acordo com Pedro Venâncio, repórter do Correio Braziliense, os jogadores foram vítimas do trabalho ruim realizado por Galdino e pelas condições oferecidas pelo clube em termos de estrutura:

- No momento que a base do Vasco esteve com o Galdino ela esteve praticamente abandonada. Muita gente brincava e dizia que o CT da base do Vasco era a estátua do Romário. Isso porque muitos treinos foram realizados naquela parte de trás de São Januário. Muitos treinos do juniores foram realizados naqueles campos sintéticos. Isso serve para que se tenha uma ideia de como as coisas funcionavam. Até a preparação da Copa São Paulo foi feita ali. Muita gente se perdeu nesse período. No tempo do Galdino, os próprios jogadores ficavam chateados. O fato do clube ter 60 jogadores no juniores num dado momento também prejudicou. O ônibus do clube tinha apenas 45 lugares para levar os jogadores para o local de treino. Ficavam 15 jogadores sem treinar e isso é um absurdo. Absurdo primeiro é você ter 60 jogadores e depois é você ter 15 sem treinar por conta da falta de um lugar no ônibus. Tudo isso prejudicou o processo de formação de alguns jogadores e até mesmo a sequência de carreira deles. Talvez alguns se recuperem lá na frente, mas é muito complicado - afirmou o jornalista, que durante muito tempo fez parte do portal "Olheiros.net", o mais especializado em categorias de base do Brasil.

O Gigante da Colina, segundo Venâncio, deixou de aproveitar bons nomes nos últimos três anos. Na análise do jornalista os mais prejudicados foram os jovens da geração 92. Nomes como Arthur, Luciano, Willen e Washinton não foram aproveitados da maneira que deveriam pelo clube:

- Acho que o Cícero, hoje no Santos, era um jogador que o Vasco poderia ter aproveitado. Outro jogador que gosto muito é o Guilherme, que é um jogador que o Autuori conta. Falaram bem do Guilherme para o Autuori. O Luan já subiu e acho que hoje ele não é mais promessa. Ele já é uma realidade. Se algum zagueiro for contratado e ele acabar indo para a reserva, você pode colocá-lo no jogo sem muito problema. Outros jogadores poderiam ter sido utilizados. Não vejo futuro na geração 93, que realmente nunca foi a melhor geração do clube. Você tinha uma geração 92 muito boa, que possuía vários nomes interessantes, como o Arthur, o Washinton, o Willen e o Luciano. Muitos jogadores de qualidade acabaram não tendo a formação final bem feita no juniores. O melhor técnico da base hoje, dentro os que eu conheço, é o Cássio. Ele é um técnico que todo mundo fala bem. É um treinador ponderado e que apesar de ter sido boleiro possui um discurso interessante. Do elenco atual acho que o goleiro Jordi poderia receber chances no time principal. Eu gosto muito do Jordi. Eu diria que o Marquinhos do Sul e o Yago se alternam muito. Eles vão alternar altos e baixos - disse o repórter do Correio Braziliense.

Dos citados, apenas o atacante Willen chegou a atuar pelo time profissional. O jovem disputou uma partida da Série B contra o Duque de Caxias. Os outros, apesar de terem sido campeões do Estadual Júnior com apenas 18 anos, nunca jogaram no time de cima:

- O Vasco tinha o Luciano, o Naninho, que começou jogando de lateral-direito. Num treino em 2009 ele arrebentou. Ele jogava bem desde 2009 nos treinos e nunca teve chance, nunca teve oportunidade nenhuma no Vasco. Ele foi emprestado para o Bangu e agora o contrato dele acabou e não foi renovado. Não teve chance. Ele é um jogador interessante, que atua nos dois lados do campo e que é intenso. Hoje o futebol cobra intensidade dos jogadores. Mas ele não teve a oportunidade que merecia - lamentou o jornalista.

Vasco vem adotando medidas para mudar esse quadro

O Vasco da Gama vem adotando estratégias para melhorar esses números e voltar a ser um clube revelador de talentos. Desde a chegada de Mauro Galvão, que assumiu a diretoria-executiva da base no segundo semestre de 2012, o cruzmaltino implantou o rodízio de atletas da base no time profissional. O meio-campo Guilherme Costa e atacantes Yago, Marquinhos do Sul e Thalles já fizeram treinamentos com o plantel principal, mas nenhum deles ainda foi utilizado em jogos oficiais.

Nas próximas semanas outros jovens devem se juntar ao elenco profissional e passar pelo mesmo processo de maturação. Conforme já divulgado por este Blog (relembre), o clube pretende dar uma atenção especial aos jogadores que hoje integram a categoria juvenil e não será surpresa se algum deles for convocado para realizar treinamentos com o técnico Paulo Autuori.

Além de promover esse rodízio, o cruzmaltino tem concentrado suas forças na captação de atletas para a sua base. Destaca-se nesse sentido o projeto dos "Núcleos Oficiais", que observa jogadores de todas as regiões do Brasil. Membros das comissões técnicas e olheiros também analisam jogadores de várias competições importantes do país.

A estrutura oferecida para os atletas também melhorou. Se antes os jogadores da categoria sub-20 concentravam suas atividades em São Januário, agora eles treinam diariamente no Centro de Treinamento de Itaguaí com tudo que é necessário para a melhor prática do esporte. O local possui bons campos, academia, refeitório, dormitório e uma série de profissionais capacitados para atender a necessidade de todos os integrantes do plantel:

- Temos hoje estrutura que permite que as nossas comissões técnicas desenvolvam um bom trabalho. Acreditamos que o Vasco tem a melhor estrutura para trabalhar do Rio de Janeiro, pois temos campo, alimentação adequado e não nos faltam nada. Xerém tem uma estrutura boa? Tem, mas a qualidade de campo para treinar que nós temos eles não têm não. Isso aí nos credencia a melhorar todos esses atletas, que possuem qualidade e muito talento. Temos jogadores de qualidade no mirim, no infantil, no juvenil e no juniores. Estamos procurando personalizar o trabalho em cima desses atletas e melhorar o desempenho deles - afirmou Mário Reigota, Gerente de Área Técnica do Vasco, no mês passado ao programa "Só dá Base".

O grande problema hoje é o atraso de salários, algo que também acontecesse com frequência com o time profissional. O objetivo da diretoria do clube, liderada pelo CEO Cristiano Koehler, é a de solucionar esses problemas com fechamento de alguns patrocínios neste segundo semestre.

Principais jogadores da base promovidos nos últimos anos*

2013-Guilherme Costa e Fábio Lima;
2012- Luan, Jhon Cley, Jonatas Paulista, Dieyson, Romário e Maicon Assis;
2011- Jomar;
2010- Jonathan, Ari, Nilson, Max, Renato Augusto, Jéfferson Silva, Diogo, Romulo e Elivélton;
2009- Allan, Phillippe Coutinho, Willen e Carlos Antônio;
2008- Edu Pina, Bruno Gallo, Alex Teixeira, Souza, Matheus, Carlinhos, Byro, Victor, Pablo, Rodrigo Antônio e Éder;
2007- Vilson, Alan Kardec, Guilherme e Gustavo Breda;
2006- Léo Borges, Sandro, Thyago Fernandes, Alberoni, Chiquinho, Espíndula, Hugo e Mádson;
2005- Bruno Meneghel, Ives e Osmar;
2004- Diego, Júnior, Rafael, Silva, Thiago Maciel e Allan Barreto;
2003- Coutinho, Ygor e Daniel;
2002- Morais e Claudemir;

*O levantamento leva em conta o ano do jogo de estreia de cada jogador no time profissional. A fonte da pesquisa é o site NETVASCO.

Com informações do Programa "Só dá Base/Só Dá Vasco".

Fonte: Blog Meninos da Colina - Supervasco