Confira entrevista com Humberto Quintas, o astronauta vascaíno

Segunda-feira, 27/05/2013 - 16:29

O espaço sideral sempre foi visto como um enigma, uma terra distante, um mundaréu negro e insólito que muito nos faz questionar, mas faz pouco caso de nos responder. No transcorrer da história e das civilizações, está mais do que comprovada sua influência determinante sobre o comportamento social, sendo-lhe atribuídos fenômenos religiosos, místicos e até políticos.

Difícil é explicar os porquês de tanto fascínio, que passa de geração a geração e nunca se esgota. Dos jardins suspensos na velha Babilônia até os modernos telescópios da NASA, o homem sempre esteve inquieto sobre aquilo que repousa sobre nossas cabeças. Até por isso, é comum vermos crianças sonhando em serem astronautas, uma profissão criada a pouco tempo.

Falando em crianças, o sonho de trabalhar no espaço enfrenta um concorrente de peso: o de ser jogador de futebol. Vestir uma chuteira, colocar a camisa do seu time e fazer gols é um prazer indescritível, tão divertido quanto curtir o futebol em si, vibrar, chorar e, é claro, zombar dos maiores rivais.

Agora imagine que você tenha sido uma criança como essa, que sonha um dia estar em campo ou brincando no espaço, mas não tem recursos, nem qualidade técnica para tais empreitadas. Desistir, evidentemente, é a melhor saída. Mas esta não era uma opção para Humberto Quintas, um advogado carioca que já foi criança, mas nunca abriu mão dos seus sonhos. Ruim de bola, só restava ser astronauta. E ele correu atrás. Do Rio de Janeiro para a Rússia. Da Rússia, para a estratosfera. Da divisa espacial, uma certeza: ser Vasco da Gama no céu e na terra. Simbolizada em um gesto: levar consigo uma bandeira do Vasco e mostrá-la não só para a terra, mas para o universo.

Vascaíno da gema, daquele que vai ao estádio quando o time está mal, que compra camisa mesmo não gostando dela, Humberto tem ainda uma particularidade: foi o primeiro, e único, a levar seu time de futebol para o espaço. E isso ninguém tira dele. Com essa satisfação e orgulho estampada em seu gesto, Humberto Quintas concedeu uma entrevista exclusiva ao programa Caldeirão Vascaíno e comentou sobre sua façanha.

Sensação de voar até o limite da Terra com a bandeira do Vascão

Foi emocionante, o Vasco estava comigo, como uma espécie de amuleto, de proteção. Foi muito bacana o que eu fiz e a bandeira do Vasco vai mais alto ainda, vai para o espaço comigo, sempre com muita satisfação de divulgar o Vasco, de colocar o Vasco em evidência e destaque na imprensa. Independentemente do momento esportivo não ser o que a gente acha o ideal, a gente faz nossa parte aqui.

Repercussão na mídia

Foi muito bacana. Ficou uma tarde inteira na página principal da “globo.com”. O que me deixou mais feliz foi que, enquanto o rival maior trouxe jogador novo para o ataque, e o rival menor disputa a libertadores, quem teve destaque na “globo.com” foi o Vasco. Tinha uma foto pequena dos rivais e o Vasco estava em evidência com um fato que não era diretamente ligado ao futebol. E isso, evidentemente, deve ter deixado os rivais morrendo de inveja e de raiva.

Ser jogador de futebol ou astronauta?

Eu sempre quis ser os dois, astronauta e jogador. Aquela coisa de criança, que você planeja sem pensar muito. Infelizmente, o tempo vai passando e minha habilidade no futebol é uma mistura de André Ribeiro, com Renato Silva e Thiago Feltri; então eu não teria muito sucesso indo adiante numa carreira de jogador de futebol. Mas a paixão sempre existiu. Sou sócio do Vasco, sou torcedor, acompanho o time sempre que eu posso, mesmo quando não posso, escuto pela internet, pelo rádio. Vivo o Vasco, compro produtos oficiais, discuto Vasco no trabalho. Sempre tive essa questão da paixão pelo futebol e pelo Vasco muito arraigada.

Tinha outro sonho de criança também, que era ser astronauta. Muitas crianças tem esse sonho, só que é difícil ser astronauta. O Brasil não tem tradição astronáutica, infelizmente. É algo muito difícil.

Deveres de um astronauta

Há de se estudar bastante, de se ter uma preparação. Era algo que sempre foi um pouco distante da realidade. Como o tempo vai passando, eu decidi ver o que eu poderia fazer para conseguir isso. Hoje em dia já há uma possibilidade de astronautas amadores, ou turistas espaciais, fazerem isso por conta própria, junto com a iniciativa privada e não necessariamente junto a entidades militares ou astronáuticas dos países.

Como tudo começou

Meu plano começou no ano passado. Eu decidi fazer um voo em gravidade zero, no mesmo avião que os astronautas treinam. O apelido desse avião é “Vomit Comet” (cometa do vômito), porque é um negócio que embrulha um pouco o estômago. Fiz esse voo, foi delicioso, muito bacana. Usei a bandeira do Vasco comigo, estava vestido com a camisa do Vasco. Estava me divertindo bastante e ao mesmo tempo divulgando o Vasco. Teve uma certa repercussão. Eu dei entrevista com a camisa do Vasco para a Fox News, emissora americana, e foi ecoada nos Estados Unidos inteiro. As pessoas perguntaram que camisa era aquela, porque eu estava vestido daquele jeito, e falei com uma satisfação grande.

Quando o sonho se tornou realidade

Em agosto do ano passado eu fui para a Rússia, a bordo de um MIG-29, uma aeronave que tem propulsão de foguete, e fui até a estratosfera, que é a fronteira do espaço, onde você já vê o céu preto, mesmo durante o dia; e de novo com a camisa e bandeira do Vasco. Fiz o outro piloto segurar a bandeira do Vasco também, expliquei para ele o que era o Vasco.

Próxima Missão

O próximo passo é ir para o espaço e tudo indica que vai acontecer, senão ano que vem, em 2015, e a bandeira do Vasco vai estar lá de novo. É um fato inédito. Nunca nenhum clube foi à estratosfera, o Vasco é o primeiro, e isso é motivo de muita satisfação, orgulho, e, é claro, de zombar dos rivais também.

Levar a bandeira do Vasco à lua: Por que não?

Na lua existe uma cratera chamada “Vasco da Gama”. A nossa relevância histórica e a nossa inspiração é tão grande que existe a cratera e um mar “Vasco da Gama” em Marte, ou melhor, uma formação geológica que lembra um mar. O Vasco não tem limites, seja no planeta ou fora. Agora, uma resposta mais séria: É claro que, com essa nova era da exploração espacial, no futuro, não digo em breve, vai ter um Vascaíno indo para a lua, para Marte, porque, como diria o ditado – “Enquanto houver um coração infantil, o Vasco será imortal” – não há limites para o Vasco.

Rival na estratosfera?

Na estratosfera eu olhava para um lado, olhava para o outro; as pessoas me perguntaram -“você estava admirando a paisagem?” – eu estava também, mas na verdade eu estava dando aquela checada para ver se tinha urubu por lá, e não vi nenhum. Urubu não voa tão alto como a gente.

Será que eles têm estádio por lá?

Não tem, não tem… Não tem aqui na terra, não tem na lua. Não tem em lugar nenhum.

Brasil? Sim. Mas Vasco em primeiro lugar!

Como eu comentei com o piloto Serguei assim que nós aterrissamos, estava ‘grog’ por causa do voo, com a cara inchada, e ele perguntou “Por que você levou uma bandeira do Vasco e não do Brasil?”. A resposta foi simples, bem direta, prosaica, mas eu acho que diz um pouco do nosso sentimento. Eu disse: “Não levo a bandeira do Brasil, porque eu sou Vasco. Sem querer desmerecer minha pátria, de quem tenho muito orgulho”. Eu acho que o Vascaíno é diferente, porque estamos acostumados a lutar contra a desigualdade, contra o preconceito, defender o que é certo. É mais que um time, que um clube, é um sentimento. É um estado de espírito ser Vascaíno.

Mandar algum jogador ‘para o espaço’

O interessante de estar lá é que eu tenho medo de altura, então estava muito alto e eu estava morrendo de medo de estar ali. Uma vez um repórter me perguntou “Se você tem medo de altura, por que você foi lá?”. Eu falei: “Olha, um cara que é Vascaíno e vê a zaga do Vasco com André Ribeiro e Renato Silva, não tem medo de nada. Ele só sobrevive ao resto”. Para não ser indelicado, eu acho que mais culpado do que os jogadores é quem os contrata, quem planeja o time para a temporada.

Humberto posa com a bandeira do Vasco na estratosfera


Fonte: Ao Vasco Tudo