Sexta-feira, fim de tarde e fim da entrevista. Luciana Lopes, sentada há 50 minutos ao lado do sócio no escritório de advocacia, ouve a última pergunta da entrevista. A advogada que apenas "venceu a Taça Guanabara" na primeira etapa da batalha judicial que Carlos Alberto, do Vasco até agosto, ainda deve enfrentar nos tribunais desportivos pela acusação de doping, pensa e emenda a resposta, com dose de ironia contra quem desconfia da sua capacidade.
- Se os advogados do Deco vieram falar comigo e me consultaram depois do julgamento? Para quê? Eu sou apenas a filha do Rubinho - responde a advogada, que milita no direito esportivo e dá "show" em tribunais há mais de 13 anos, desde quando era estagiária.
Aliás, o show, que na visão do procurador naquele momento do tenso julgamento de Carlos Alberto era uma embromação, parou muito antes da metade. Nos mais de 100 slides - "não ia demorar, eu ia passar rapidinho" -, Luciana ia lembrar Tiradentes, do líder da Inconfidência Mineira, que morreu enforcado dois anos antes do julgamento, e ainda tinha pronta uma imagem de Carlos Alberto atrás das grades, representando a sentença antecipada e injusta nos tribunais do Rio.
Carioca, Luciana passou a infância em Valença, depois foi morar em Bangu até se casar e deixar o bairro da zona oeste carioca. Hoje, separada, tem o filho Artur por perto - "graças a Deus não joga futebol, joga basquete, senão era outro que não ia poder jogar por causa do avô" - e apenas o pai morando por perto. A mãe e as duas irmãs moram fora do Rio. Todos, incluindo o pai Rubens Lopes, ex-presidente do Bangu e hoje presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ), fizeram medicina. Ela destoou. Até pensou em cursar psicologia, mas se encaminhou para o direito e se decidiu finalmente ao ver um julgamento ainda quando era estagiária.
- É aquela hora que você pensa: é isso que quero. Meus pais eram professores universitários, minhas irmãs estudaram medicina. Falei: "quer saber, vou sair desse hospital". E quis justamente me desvincular do meu pai, olha só! - diverte-se ela, que deve ao pai a paixão pelo futebol.
Com três filhas mulheres, Rubens Lopes levava Luciana para todo o canto. Desde os oito anos de idade ela entrava com os jogadores, pedia autógrafo para os jogadores e se divertia nesse ambiente. Hoje, se cansou de ser citada apenas como filha de Rubinho. Na cartela de clientes, que no Vasco começou apenas com pedido de mecanismo de solidariedade de jogadores em transferências internacionais, estão ainda times de outros estados, como o Rio Branco, do Acre, e outras equipes de Pernambuco e do Ceará. No Rio, já defendeu a Ferj, antes do pai ser presidente, ressalta, Bangu, quando o pai era "só" médico do clube, América, Madureira, Resende, Volta Redonda, entre outros. No Vasco, os casos mais famosos são o de Juninho e de Carlos Alberto como os mais importantes pelo time de São Januário, aonde ela chegou cercada de desconfiança, como lembra hoje.
- Meu pai nunca escondeu a proximidade dele com o Eurico (Miranda, ex-presidente do Vasco). Tinha toda a confusão da mudança, de oposição e o Vasco era meio reticente, sei lá. Mas quem me chamou foi Nelson de Almeida (ex-vice jurídico e de finanças do Vasco). Quando estávamos fechando falei para ele: "você sabe do meu sobrenome? Sou filha do Rubinho". Ele disse: "Estou contratando você, não o seu pai".
Formada pela Gama Filho, não é à toa que Luciana chacoalhou o Tribunal de Justiça Desportiva nos julgamentos mais famosos, sob seu comando, pelo Vasco. Estudiosa, cita o tempo inteiro as leis da Justiça Desportiva e lembra o breve convívio com Eduardo Vianna, ex-presidente da Ferj, antecessor do seu pai, que morreu em 2008.
- Ele era uma biblioteca humana, muito inteligente - lembra a advogada.
Sem querer entrar em polêmica, critica o tratamento "aos supostos dopados", desde a imprensa até os próprios advogados e julgadores.
- Para mim, isso é uma histeria coletiva. Existe uma diferença entre ato de dopagem e doping. No caso do Juninho, a procuradoria denunciou ele por infração ao doping. Isso não configura infração, é violação (Juninho passou no vestiário antes de ir à colheta de urina e foi apenas advertido no tribunal). O procurador do TJD, no dia que saiu o resultado da contraprova do Carlos Alberto, disse: "dificilmente ele vai ser condenado". Quer dizer: ou as pessoas desconhecem a lei ou têm vontade de punir. Essa ânsia de condenar é quem acaba condenado antecipadamente - lamenta ela, antes de responder se o problema no tratamento é de ordem da convenção do "jogo do tribunal".
- Acho que o problema é de quem não estuda. Quem tem obsessão de condenar, esquece de abrir o livro.
Pondo em dúvida ainda a possibilidade de contaminação dos remédios e os laboratórios, Luciana Lopes lamenta uma espécie de discurso pronto que vêm dos tribunais.
- As pessoas só sabem repetir: "o atleta é responsável por aquilo que ingere". OK, então ele vai morrer de inanição ou de sede. Porque tudo vai ter que levar para análise. A não ser que a Wada (agência mundial anti-doping) lance um supermercado com selo Wada de garantia. Todo mundo precisa estudar e parar de ser telemarketing ativo: "Wada, doping, TJD…" - diz ela.
Na última dividida que encarou na entrevista, Luciana foi mais sutil. Questionada sobre o distanciamento do Vasco com o caso, que não quis admitir nem negar, ela apenas respondeu:
- Não sou do departamento jurídico do Vasco, sou contratada. Eu agradeço muito ao excelente depoimento do médico Clóvis Munhoz. Mas foi um trabalho independente. Não preciso dar satisfação do meu trabalho, preciso dar resultado - limita-se a dizer.