A absolvição de Carlos Alberto do doping no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-RJ) não foi apenas uma resposta para quem já dava como certa a suspensão do apoiador vascaíno. Para a advogada Luciana Lopes, representou também uma vitória sobre preconceitos e questionamentos que, com o tempo na profissão, aprendeu a conviver, apesar de lamentar.
Mãe do pequeno Artur, ela é a irmã do meio da família que tem como patriarca Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj). Em entrevista ao LANCE!Net, ela comentou sobre a grande vitória que conquistou no tribunal e admitiu que sofre preconceitos por ser mulher num meio esportivo e, principalmente, por ser filha do mandatário do futebol carioca:
Como você iniciou na carreira de advogada?
Me formei em 2000, mas antes de me formar já fazia estágio na área esportiva. Ia para o tribunal assistir julgamentos. Fiz do Bangu, do América... No Vasco agradeço muito ao Nelson de Almeida (ex-vice jurídico), que foi quem me contratou. Foi quem nunca questionou meu trabalho e me deixou livre para fazer o que quisesse.
O julgamento do Carlos Alberto teve um apelo da mídia muito grande. Você acha que tê-lo absolvido lhe deu mais visibilidade?
Não sei, só sei que fiz meu melhor. As pessoas que vão avaliar se o meu melhor foi algo bom ou razoável. É claro que me deu visibilidade por ter sido o caso dele, mas não acabou, não sei o que pode acontecer amanhã.
Você se mostrou incomodada com insinuações por ser filha do Rubens Lopes. A absolvição também foi uma resposta a isso?
Meu valor como advogada eu provo todo dia, o que me incomoda muito é essa comparação (com seu pai). E não vem só da mídia, até de advogados que trabalham no meio, que me olham de uma forma diferente. Eles ultrapassam tanto os limites que colocam o tribunal em xeque, como se meu pai tivesse alguma influência. Não vou ser hipócrita de dizer que isso não foi uma vitrine para mim, foi ótimo para comprovar que não sou meu pai. Ele não tem ingerência nenhuma. As provas foram mostradas e a defesa foi feita.
Você acha que a comparação irá sempre te acompanhar? Ele teve alguma influência na carreira?
Ele é meu espelho, meu porto seguro. Em primeiro lugar, é meu pai e nunca vai deixar de ser, nem quando morrer, porque na certidão de óbito terá o nome dele, mas não foi quem me impulsionou. Muitos acham que ele é advogado, mas ele é médico. Ele está presidente da Ferj, mas foi médico do Bangu e eu já era advogada.
Há muito machismo no direito desportivo?
Com certeza. Sou uma mulher num meio de homens, mas sempre digo que aprendi a trabalhar como homem e com homem. Mas existe preconceito, com certeza.
E muitos advogados, que te vêem com preconceito ou não, te ligaram a parabenizando?
Sim. Já tive outros casos que ganhei e não recebi nenhuma ligação, mas meus amigos do meio terem me ligado foi o que importou. Sou muito pé no chão, sei selecionar. Sei exatamente quem me deu parabéns de coração, que estava comigo e nunca desacreditou no meu trabalho, e aí eu posso citar a Joana (diretora-jurídica do Botafogo).
Durante o julgamento e após, você desabafou e demonstrou um lado mais emotivo...
Sou verdadeira, não pondero minhas palavras. O fato de ser mulher faz com que outras coisas aconteçam, com que eles (homens do meio) cresçam. Eles acham que por ser mulher, sou frágil, não sei se é por ser mulher ou porque sou eu, mas não escondo meus sentimentos, não.
Ver a gratidão do Carlos Alberto é a maior recompensa?
Ainda não terminou e tem muita batalha pela frente, mas eu que serei grata a ele por ter confiado em mim mesmo sem me conhecer. Independente da minha filiação, ele tinha à disposição dele, por questões financeiras, os melhores advogados do mundo, mas confiou em mim. Isso vou dever a ele pelo resto da vida. Posso parar de advogar hoje que foi o caso mais importante da minha vida.