Jogadores elegem Paulo Autuori o 4º melhor técnico do futebol brasileiro

Quinta-feira, 23/05/2013 - 17:08

Toda unanimidade é burra, diria Nelson Rodrigues. Tite, então, é uma quase unanimidade do futebol brasileiro. É quase impossível encontrar quem fale mal do técnico do Corinthians. A fama de correto, justo e boa gente já é antiga, e, nos últimos anos, ele ainda juntou às boas referências pessoais um currículo invejável. Ganhou a Copa Sul-Americana pelo Internacional e, no Timão, conquistou o Brasileirão, a Libertadores, o Mundial e o Paulista. O último título foi o de melhor técnico do país, eleito em pesquisa realizada pelo GLOBOESPORTE.COM em parceria com a revista "Monet" com 343 jogadores das Séries A e B do Campeonato Brasileiro.

Prêmio resumido pelo professor com uma palavra: reconhecimento.

- Ser escolhido pelos atletas como melhor técnico do Brasil é, para mim, motivo de orgulho. Além de um incentivo à minha "inquietude" em busca de conhecimento e crescimento pessoal e profissional.

Ele teve mais do que o triplo dos votos de Muricy Ramalho, tetracampeão nacional: 150 a 49. Foram 24 treinadores citados, e 33 atletas preferiram não responder. Mas a pesquisa não é só feita de elogios. Os jogadores também foram questionados sobre o pior técnico com quem já trabalharam. Apesar da garantia do anonimato, 175 boleiros ficaram em cima do muro e não responderam, ou disseram "nenhum": a grande maioria. Entre os citados, Emerson Leão ganhou (ou perdeu) também com larga vantagem: 29 votos.

Tite: corrente de confiança

Tite chegou ao Corinthians em 2010, quando o clube demitiu Adilson Batista, e ainda tentava se reencontrar após a saída de Mano Menezes para a seleção brasileira. Apesar de não ter conquistado o título brasileiro, pelo qual lutou até a última rodada, e da trágica eliminação diante do Tolima, na primeira fase da Libertadores, ele foi mantido pela diretoria. Decisão acertada. De lá para cá, são quatro troféus levantados e quase nenhum atrito com jogadores.

O que mais se ressalta no Timão é o ambiente de respeito às decisões de Tite. Mesmo aqueles que não jogam se enquadram em seu lema de "merecimento". Quem ameaça roer a corrente é isolado pelo grupo. Foi o que ocorreu com o argentino Martínez, que, no ano passado, ameaçou deixar o clube se não se tornasse titular. A pressão não deu certo, e ele se transferiu para o Boca Juniors. Após a eliminação para o mesmo Boca na atual edição da Libertadores, Alexandre Pato esboçou a reclamação por sua condição de reserva, mas logo recuou.

- Não fico surpreso por ele ter sido eleito. Sei da capacidade dele, tivemos um rápido contato quando eu tinha 12 anos, e agora nos reencontramos. Ele tem trabalhado muito bem, torna um grupo muito forte e vai buscar muitos títulos - afirmou Pato.

Além dos resultados, as frases e expressões do treinador alvinegro o marcaram como um dos grandes personagens recentes do futebol. Nas entrevistas coletivas após os jogos, ele fala como se tivesse entrado em campo. Semblante cansado, intenso, chega a suar. Bate nas teclas do profissionalismo e da justiça. Após o empate diante do Boca, em que o trio de arbitragem prejudicou o Corinthians no Pacaembu, o gaúcho revelou que foi cínico ao cumprimentar juiz e assistentes:

- Botei meu lado podre pra fora.

A última dor de cabeça do comandante foi Jorge Henrique. A comissão técnica alegou problemas de indisciplina após o atacante ter chegado atrasado ao treino e o afastou do grupo. Tite não aceita que quebrem a corrente de confiança.

- Em cinco meses no Corinthians, e pelo que já havia ouvido, o Tite é um cara super profissional, trabalhador, honesto, e tem o grupo inteiro nas mãos. É um cara sensacional, que consegue conduzir 30 jogadores e todos ficam felizes - elogiou o zagueiro Gil.

Leão: o outro lado

As respostas sobre o pior técnico que cada um teve em sua carreira reservaram curiosidades: 80 profissionais foram citados. Entre eles, nomes como o holandês Frank de Boer, o turco Yilmaz Vural e brasileiros menos conhecidos como Bezerra, Bagé, Eugênio, Mauro Ovelha, Ney da Matta... Até José Mourinho foi vítima, votado por dois atletas.

Em meio a quase 200 abstenções, Leão foi o líder de votos: 29, também mais do que o triplo dos que vieram a seguir. Joel Santana foi lembrado por oito jogadores, e Vágner Mancini por sete. Os preferidos dos boleiros, Tite e Muricy Ramalho, não receberam votos, mas nem Luiz Felipe Scolari escapou da ira dos atletas. O comandante da seleção brasileira teve uma indicação para pior técnico - e 11 para melhor.

Campeão brasileiro em 2002 no comando do Santos, Emerson Leão está desempregado desde o ano passado, fato que, segundo ele, facilita para que jogadores o indiquem. Ele trabalhou no São Caetano em 2012, após ser demitido do São Paulo em razão das eliminações nas semifinais do Paulistão e da Copa do Brasil. A saída do Morumbi, assim como em 2005, em sua primeira passagem pelo clube, gerou uma série de críticas de jogadores e dirigentes. Os mesmos que haviam trabalhado com ele sete anos antes.

- Futebol é muito simples. Quem está entre os 11, gosta; quem não está, reclama. E eu não tenho acordo com jogador, não tenho acordo com empresário. Por isso, não gostam. Acho que está na hora de os jogadores de futebol fazerem um pouco pelo Brasil, porque eles estão jogando muito pouco - defendeu-se o treinador.

Incomodado com o resultado, mas de bom humor, Leão disse que os jogadores se esconderam atrás de seu nome, já que não precisam ter seus votos revelados, e citou a boa relação com Diego Tardelli, atacante que foi destaque do São Paulo sob seu comando, entre 2004 e 2005, mas deixou o clube depois que o treinador também saiu.

- Vai perguntar pro Tardelli se ele me acha bom. É que só gostam do lado negativo.

Leão, no entanto, não recebeu nenhum voto para melhor técnico do país.





Fonte: GloboEsporte.com