Advogada, sobre Carlos Alberto: 'Julgamento vale para o futuro dele como jogador e como pessoa'

Quarta-feira, 22/05/2013 - 09:55

O futuro de Carlos Alberto no Vasco está em jogo nesta quarta-feira. O meio de campo vai a julgamento no Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro (TJD/RJ) pelo uso de duas sustâncias proibidas no regulamento antidoping do futebol brasileiro e pode pegar suspensão de até dois anos do futebol. Por mais de um mês, o jogador se reuniu quase todos os dias com os advogados de defesa do clube, que convocaram testemunhas, reuniram provas documentais, além de contarem com um pedido de depoimento do jogador.

A seção está marcada para as 13h, na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em sede da Barra da Tijuca. Segundo a advogada do Vasco, Luciana Lopes, o julgamento "não tem hora para acabar". Em tese, Carlos Alberto tem 15 minutos para prestar seu depoimento a respeito do caso, no tempo que também deve falar da carreira. Em sequência, as duas partes - a defesa do jogador e a procuradoria - fazem suas exposições, com o depoimento de até três testemunhas - artifício que deve ser usado somente pela defesa. Por fim, cinco auditores apresentam seus votos com o veredicto para o caso de doping de Carlos Alberto.

A advogada do Vasco não quis adiantar nada da argumentação, mas deixou clara a importância que o resultado do julgamento vai ter para o atleta que tem menos de dois meses de contrato com o clube.

- Não é um caso que diz respeito apenas ao futuro dele como jogador do Vasco. O julgamento vale para o futuro dele como jogador e como pessoa. A perda de um emprego para o homem que sustenta a sua família pode significar como a perda de um ente querido. Ele é um jogador de 28 anos, que se for condenado a dois anos de suspensão, isso pode decidir a vida dele, não só o futuro no Vasco e no esporte - disse a advogada do clube.

A diretoria do Vasco promete comparecer em peso ao julgamento. O diretor geral Cristiano Koehler, o diretor jurídico Gustavo Pinheiro e o diretor de futebol René Simões vão à seção que deve definir as possibilidades de Carlos Alberto permanecer no clube. Depois de uma boa Taça Guanabara, o meia chegou a ser procurado para tratar da renovação, mas não quis tratar do assunto em meio às finais. Curiosamente, foi no jogo semfinal, contra o Fluminense, dia 2 de março, que o jogador caiu no doping. No resultado do teste deram positivo o hidroclorotiazida, um diurético que combate a hipertensão arterial, e o carboxi-tamoxifeno, que são duas substâncias mais encontradas em remédios emagrecedores que são proibidas porque podem mascarar outro tipo de doping esportivo.

A advogada do Vasco, que orientou o jogador a não treinar mais esta semana para somente focar no julgamento, disse que tem conversado muito com o jogador sobre todos detalhes do recolhimento de provas e do julgamento.

- Ele sabe da inocência dele, está confiante, mas não está calmo porque, ao mesmo tempo, também sabe que o futuro não está na mão dele. Mas na decisão de cinco pessoas - lembrou a advogada do Vasco, Luciana Lopes, que se referia aos votos dos procuradores do TJD.

O diretor jurídico do clube não quis se apronfudar na expectativa pelo julgamento.

- Não quero fazer nenhuma consideração porque isso, geralmente, não ajuda no transcorrer do julgamento. Estaremos lá eu, Cristiano e René em solidariedade ao jogador - limitou-se a dizer Pinheiro.

Distanciamento e nova estratégia

No aspecto do futebol, o diretor René Simões chegou a dizer que Carlos Alberto - como todos demais jogadores - estava sendo observado até o fim do Estadual para o clube avaliar se partiria para a renovação ou não. O técnico Paulo Autuori, em entrevista coletiva, disse que um jogador como Carlos Alberto não precisava de avaliação. A discordância aconteceu antes do jogador cair no doping. O clube renegociou uma alta dívida de direitos de imagem do jogador, que chegou a ficar sete meses sem receber do Vasco.

A pessoas próximas, nos últimos dias, Carlos Alberto se queixou de distanciamento do clube com a sua defesa e com o seu julgamento desta quarta-feira. Inclusive, um dos pedidos da defesa do jogador, realizada pelo escritório que presta serviço ao Vasco, era de algumas análises complementares para detalhar a possibilidade de manipulação errada dos remédios ou alguma outra falha no caso. Os custos de R$ 8 mil na contraprova, mais R$ 6 mil de outro resultado de laboratório para análise da confecção do remédio, além de um bioquímico que atuou no caso Pedro Solberg - jogador de vôlei de praia que, após cair no antidoping, conseguiu provar inocência - e que daria um parecer sobre os remédios do tratamento ortomolecular, aos quais o jogador faz uso há mais de um ano (o serviço custaria cerca de R$ 20 mil), demoraram a chegar no departamento financeiro do clube, o que gerou um desgaste entre jogador e o Vasco.

- Soube na última quinta-feira, pelo próprio Carlos Alberto, desses custos da defesa. Ele é jogador do Vasco, a defesa é do Vasco e o advogado é do Vasco. Evidente que vamos arcar com esses custos - disse René Simões.

Questionado sobre o mesmo assunto, o vice-presidente médico do Vasco reagiu diferente do diretor de futebol. Manoel Moutinho ressaltou que responder sobre os custos de defesa do jogador não é de sua alçada. No entanto, afirmou que o clube já fez muito pelo jogador.

- Em nenhum momento o Vasco receitou ou pagou esses remédios que o jogador tomava. Nesse caso o clube está sendo apenas solidário ao Carlos Alberto. Aliás, o trabalho do departamento médico está encerrado. Tudo já consta nos autos do processo - disse o vice-presidente médico do clube.

Em decisão da noite dessa terça-feira, o advogado da farmácia Silvestre, Nélio Andrade, teve negado o pedido de participação no julgamento. O presidente do TJD/RJ José Teixeira Fernandes considerou legítima a "vinculação direta" da farmácia no processo, mas indeferiu o pedido porque viu "ausência do legítimo interesse, tendo em vista que a defesa prévia acostada aos autos não faz nenhuma referência a farmácia manipuladora das substâncias ingeridas pelo denunciado".

O indeferimento aponta um novo caminho para a defesa do jogador. Ao invés do que dizia a nota oficial do clube no dia em que foi revelado o caso de doping - "contaminação cruzada na confecção dos suplementos medicamentosos (medicação ortomolecular)" - a expectativa é de que a estratégia de defesa repita Solberg. O atleta de vôlei de praia gastou cerca de R$ 140 mil - entre advogados, novos exames e até laudos internacionais - e terminou processando o laboratório da UFRJ, o Ladetec.

Fonte: GloboEsporte.com