Fundado como Vasco da Gama, o modesto Paços de Ferreira, de orçamento limitado, vai estrear na Liga dos Campeões. O clube luso já garantiu sua melhor colocação em todos os tempos no Português, e mostra para os co-irmãos lusitanos que é possível fazer um bom trabalho. Mesmo no tão temido “momento de crise”.
– Conseguimos nos firmar na elite com orçamento baixo, sem dinheiro para gastar. É um clube que vem crescendo – explicou ao LANCE! o presidente Carlos Barbosa, que tenta explicar o segredo:
– Sinceridade. Cumprimos os orçamentos, pagamos em dia.
E conquistar a terceira colocação (joga amanhã contra o Porto) traz sentimentos diferentes até dentro do próprio clube.
– Se alguém dissesse que estaríamos no lugar em que estamos, até nós duvidaríamos. Mas tivemos méritos – disse ao L! o capitão, o meia Filipe Anunciação, que recebe coro do técnico Paulo Fonseca:
– Não passava pela cabeça, confesso. Quando me chamaram, era para não cair de divisão.
Porém quem cuida do planejamento e de pagar as contas não se surpreende. A cidade de Paços de Ferreira fica perto do Porto e, apesar de pequena, é um dos principais pólos moveleiros da Europa.
O próprio estádio do clube mudou de nome e agora leva o apelido da cidade: “Capital do Móvel”.
– Fazia sentido. Trabalhamos em conjunto com cidade e empresários. Dá visibilidade à região – explica Carlos Barbosa.Time tranquilo e ousado
Filipe, que conhece o time há 12 anos, garante que não existe pressão de diretoria, comissão e nem torcida. Isso, somado à tranquilidade financeira, ajuda em campo:
– Salário em dia é prática sagrado, nunca vi atrasar aqui.
Dentro de campo, o técnico garante que vai para cima:
– Não importa o rival. Gostamos de ter a bola. Circulamos, marcamos em cima, e o resultado está aí.
COM A PALAVRA
Carlos Barbosa
Presidente do Paços de Ferreira, ao LANCE!Net
O Paços quer fazer algo como o Braga
O Braga, há uns anos, também era um clube que não ganhava nada, apesar de ser de cidade grande, e tem disputado a Liga dos Campeões, foi à final da Liga Europa...Um grande trabalho ao longo dos anos com o presidente António Salvador. O Paços quer fazer algo assim, devagar. Mas a cidade é pequena, queremos criar condições para ir crescendo aos poucos.
COM A PALAVRA
Paulo Fonseca
Técnico do Paços de Ferreira, ao LANCE!Net
Tiveram dois momentos decisivos. No terceiro jogo, tivemos uma conversa franca com o grupo, eles perceberam que tínhamos que ser ambiciosos, que tínhamos que lutar para ganhar. E depois quando entramos nos cinco primeiros lugares, o grupo viu que podia lutar por um lugar europeu, e os resultados mostraram a ambição. Batemos uma série de recordes, e estivemos nessa luta de forma surpreendente.
Portugal evoluiu muito em relação aos treinadores. Desde a entrada do Mourinho, houve uma revolução na forma de pensar no jogo e no treino. Não tenho dúvidas em afirmar que Portugal tem alguns dos melhores treinadores do mundo. Vão começar a surgir, vão se projetar nos grandes campeonatos. Em nível tático, os portugueses estão na frente. Portanto, se continuar a evoluir, vão surgir outros.
Sou uma pessoa ambiciosa, quero subir na carreira de uma forma apoiada, quero chegar mais longe. Sou novo, comecei agora, mas quero ir degrau a degrau para chegar ao topo. Neste momento, o meu futuro não é o importante. O meu empresário, o Jorge Mendes (mesmo de José Mourinho e Cristiano Ronaldo), trata disso. E eu, com certeza, vou ver com ele como evoluir.
BATE-BOLA
Filipe Anunciação
Meia e capitão do Paços de Ferreira, ao LANCE!Net
LANCE!Net: Vocês traçavam como objetivo chegar à Liga dos Campeões?
Filipe Anunciação: Nunca existiu obsessão, não fazíamos “futurologia”. Começamos com o objetivo de fazer um torneio tranquilo e, depois do primeiro turno, de melhorar. Nunca existiu pressão da diretoria, da comissão técnica ou da torcida.
L!Net: Por falar em torcida, como conter a sua euforia?
FA: Como é uma temporada com resultado histórico... Lembro que a melhor classificação tinha sido um sexto lugar. Para eles, ver isso... É normal ter euforia. Mas, da mesma maneira que a direção e a equipe técnica não impõem nada, a torcida, igual.
L!Net: O Paços se espelha no Braga de alguma forma?
FA: Não podemos comparar. O Braga faz um grande trabalho há dez anos, tem estrutura, torcida... O Paços tem 1.500 sócios, falta bastante trabalho ainda.
L!Net: Como capitão e líder, como você avalia o grupo do Paços?
FA: Mesmo sendo um grupo jovem, tem maturidade. Neste momento, isso fala mais alto. Não sentimos pressão da imprensa. Queremos sempre o melhor, não queríamos perder de mão beijada.
Paços garante que não tem mala branca do Benfica
Já com sua vaga na Liga dos Campeões garantida, o jogo de amanhã, válido pela última rodada do Campeonato Português, é apenas para cumprir tabela. Mas do outro lado vai estar o Porto, que precisa vencer para levar o título. Caso os Castores tirem pontos do Dragão, o Benfica precisa ganhar do Moreirense para tirar o troféu do norte.
O técnico Paulo Fonseca nega qualquer possibilidade de compensação financeira vinda do Benfica. Ele diz que a famosa "mala branca" nem é um hábito no país.
– Acho que isso é até proibido e nem gosto de falar nisso. Mesmo se tivesse qualquer. São assuntos que não fazem sentido, as equipes devem ganhar seus jogos com ou sem prêmios – garante Paulo.
Trajetória do Paços
Vasquinho
Fundado em 1950 como Futebol Clube Vasco da Gama, o clube conseguiu seu primeiro acesso da Terceira para a Segunda Divisão Regional em 1957.
Paços de Ferreira
Na década seguinte, adotou o nome da cidade e um uniforme igual ao do Porto. Existia até uma espécie de parceria. Aos poucos, mais ascensos.
Estabelecimento
Nos anos 1990, estabeleceu-se na elite. Na década seguinte, disputou a Liga Europa duas vezes e esteve na final da Taça da Liga e da Taça de Portugal.
Fonte: Lancenet
