Programa de Sócios: Mais de quatro anos de atraso e milhões em prejuízos
No passado dia 30 de abril uma matéria publicada no GloboEsporte.com deu transparência a um negócio que mais uma vez nos revela como o nosso clube vem sendo usado para outros interesses e mal administrado: o programa de sócios.
Aquela publicação informa do lançamento de um novo programa de sócios e tenta refazer o percurso desde a posse de Dinamite até hoje. Mas peço vossa atenção aos próximos parágrafos.
Declaro que o novo programa de sócios nada mais é do que retomar com quatro anos de atraso, a um custo de mais R$ 2 milhões em multas e acordos extrajudiciais e ainda cerca de R$ 30 milhões de reais perdidos em receita, o programa “Vascaíno de Carteirinha” que apresentei a diretoria em dezembro de 2008 e dei início em janeiro de 2009, após seis meses de um minucioso trabalho meu e de minha equipe.
Na Chegada: Sou + Vascão
Quando assumi a Vice-Presidência de Marketing o clube tinha em operação um “programa” de venda de títulos de sócio proprietário com pagamento parcelado batizado de “Sou + Vascão”. O valor da parcela da compra do título era de R$15,00, durante 36 meses.
Analisado em julho de 2008, o total do faturamento bruto mensal do programa não pagava o custo administrativo de mantê-lo e gerenciá-lo além de entender que o “coração do negócio” de relacionamento com o sócio não era atendido. Assim só me restou suspender o programa, respeitando todos aqueles já vinculados a ele, para não continuar a manter aquele prejuízo mensal, num clube entregue pela gestão anterior sem qualquer recurso em caixa.
O Contrato Original
Em janeiro de 2009, tínhamos em mãos o melhor programa de sócios do Brasil e um ambiente favorável para seu lançamento onde a torcida abraçava o clube.
Em 8 de janeiro de 2009 o atual presidente assinou o contrato de prestação de serviços para implantação do programa de sócios com as empresas SVI/Effect que desenvolveram o programa de sócios do Internacional de Porto Alegre.
Durante o período agosto/novembro de 2008, pesquisei, li, conversei, recebi empresas (incluindo duas estrangeiras) e visitei no Brasil quatro clubes que possuíam na época programas de sócios já estruturados e de sucesso (Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio e Internacional).
Dentre as quatro principais interessadas, a agora “criticadíssima” Torcedor Afinidade, foi a única a ser desclassificada por tecnologia e concepção ultrapassadas, administração criticada pelos seus clientes e sem estrutura para administrar um projeto do tamanho do Vasco.
A Auspex, recém-chegada ao Brasil apesar do bom projeto não tinha qualquer base instalada e experiência operacional no Brasil, apresentando por isto riscos de difícil mensuração.
Após todo desenvolvimento do conceito do novo programa discutido com vascaínos da área de negócios, diversos conselheiros, a agência de publicidade, vascaínos mestrados em marketing, diretor de comunicação, foi escolhida em reunião de diretoria por unanimidade a SVI/Effect.
A agência de publicidade DPZ desenvolveu o conceito “Vascaíno de Carteirinha” que tinha como objetivo dar a todos os vascaínos um “documento de identidade” vascaíno além de um produto bastante comercial para desenvolver novas receitas para o clube.
A nova carteira de sócio (foto abaixo) foi desenvolvida para ilustrar a emoção de ser vascaíno: – a força do clube e o nosso estádio. A imagem da carteira foi aprovada também por unanimidade em reunião de diretoria.
Modernidade e Comodidade
Por falar na carteira, ela possuía foto do sócio, seus dados de admissão, data de nascimento, categoria social e matricula, mas o mais importante era a tecnologia: – uma carteira “chipada”, a mesma tecnologia do bilhete do Metrô-Rio, que admite carga e recarga e com isto a carteira de sócio passaria também a representar o ingresso para todo aquele portador, poupando-o, por exemplo, de idas a bilheteria em dias de jogo.
A campanha de comunicação foi lançada no início do Campeonato Estadual de 2009 no site, no atendimento telefônico do clube e ainda na camisa do jogo pela Taça Guanabara contra o Fluminense com os dizeres – SEJA SÓCIO.
O valor negociado por mim junto à empresa para a prestação do serviço era o seguinte: – até 10 mil sócios pagantes, 5% de comissão sobre o faturamento bruto; entre 10 e 20 mil sócios, 4% de comissão e acima de 20 mil sócios o valor de 3% de comissão.
A empresa faria também, o investimento na aquisição de todo o equipamento de informática necessário à implantação, cadastramento de sócios e impressão de carteiras, sendo os equipamentos repassados ao clube após três anos de contrato, além de todo o recadastramento de sócios antigos entre pagantes e não pagantes, sem nenhum custo adicional. Esta tecnologia contemplava ainda a biometria digital de todos os cadastrados permitindo não só novos negócios como também a realização de eleições com um nível de confiabilidade nunca dantes visto no Vasco.
A Vingança do Presidente
Mas naquele momento eu já havia percebido que o ídolo do campo era um vilão administrativo. Poderia ter me calado, não ter denunciado o ídolo, não tê-lo desmascarado. Poderia ter optado pelo conforto do silencio, pelo status de ser um Vice-Presidente, mas sou vascaíno, sou torcedor e se enfrentei o ex-presidente Eurico não seria agora que iria encobrir a traição do ídolo que abandonou as promessas de campanha.
Com a minha renuncia ao cargo de Vice-Presidente de Marketing em 11 de fevereiro de 2009 apresentando as denuncias de tudo de obscuro que o presidente começava a construir nos bastidores do clube em benefício próprio, a desonestidade administrativa de sua gestão e a sua completa irresponsabilidade financeira, sabia que “pagaria um preço” por tê-lo enfrentado. Seria rotulado, atacado, mas estava disposto a pagar esta conta, pois tinha a certeza de que o tempo mostraria mais tarde a todos que eu tinha razão.
Quando saí deixei o lançamento do programa em andamento, mas nunca poderia supor que todo aquele trabalho árduo de formatação do melhor programa de sócios do Brasil seria abandonado pela mesquinhez de uma perseguição pessoal.
A partir da minha saída o presidente exigiu que o meu nome sequer fosse citado em reunião de diretoria, por qualquer motivo que fosse, tendo inclusive repreendido alguns vice-presidentes à época.
Depois decidiu que aquele programa não poderia ir adiante, pois, do contrário, o seu resultado estaria para sempre ligado a minha pessoa. O presidente não tendo como se defender das denuncias que eu fizera, visto serem todas verdadeiras, desferiu a sua vingança contra mim e todo o trabalho que fiz pelo clube, sabotando e rompendo o referido contrato e assim o fazendo impediu o Vasco de ter lá em 2009 o melhor programa de sócios dos país.
A Sabotagem, a “Politicalha” e seus Custos
Neste instante o presidente abandonava mais uma das promessas de campanha: – não rasgar contratos assinados pelo clube e neste caso assinado por ele próprio. Este gesto, como sempre, é causador de milhões em dívidas, o rompimento de contratos, agora era repetido pelo novo presidente com a mesma irresponsabilidade do anterior.
Naquele momento o presidente tomou ainda outra decisão motivada por seus interesses pessoais: – sabendo que a empresa Torcedor Afinidade, que fora descartada por mim durante o processo de consulta ao mercado, era de propriedade de Bruno Paes – primo do atual prefeito do Rio de Janeiro, o “vascaíno” (mas também tricolor/rubro-negro/botafoguense) Eduardo Paes, convidou-o para implantar o “seu” programa de sócios.
Neste novo contrato o presidente e seus prepostos negociaram condições financeiras dez vezes mais caras para o clube. O Vasco pagou mais de 40% da arrecadação bruta com honorários e impostos, como também deu o direito aquela empresa de receber diretamente dos sócios o valor pago e só depois repassá-lo ao clube. Este fato impediu que durante todo o contrato a Vice-Presidência de Finanças não tivesse o controle da arrecadação, bem como impediu o Conselho Fiscal de exercer as suas funções. As falhas da empresa foram inúmeras: – falta de cobrança, cobrança repetida, incapacidade de gerar relatórios para a realização da eleição de 2011, entre tantas barbaridades.
O Vasco mais uma vez foi usado para atender e pagar a conta dos interesses políticos de um deputado medíocre, sentado na cadeira de presidente e com decisões na medida de sua mediocridade.
O Acordo e O Reconhecimento
Pelos dados agora revelados na matéria publicada, além dos R$2 milhões do acordo a ser pago pelo clube por conta da irresponsabilidade e dos interesses pessoais do presidente, que agora faz pose de coitadinho, de toda uma diretoria omissa e a espera por mais de quatro anos, o contrato assinado em 2009, ainda continua a ser o melhor negociado para o clube, pois ainda hoje custaria menos da metade do valor atualmente negociado.
A SVI/Effect voltou a ser escolhida por critérios técnicos, mas agora também por se buscar “um desconto” na indenização conquistada na justiça.
Para mim parece fácil realizar uma negociação, fiz isto com a Reebok na rescisão de seu contrato sem processo na justiça, fiz isto com a SVI/Effect, com as “camisas de Época”, com o M.P. no caso de ingressos, encaminhei a negociação com a Habib’s para outro desfecho diferente daquele dado após a minha saída. Negociar exige conhecimento, técnica, habilidades e jeito. Não é para qualquer um!
Agradeço a atual diretoria o reconhecimento pelo meu trabalho, ainda que tardio, pela recontratação daquela empresa que há quatro anos eu tinha apontado como a melhor aparelhada para conduzir o nosso programa de sócios.
Quanto aos prejuízos causados ao clube só ao presidente devem ser cobrados.
Vasco Sim, Fora Roberto e Eurico Nunca Mais!
José Henrique Coelho
Fonte: Fuzarca