No filme Crocodilo Dundee, de 1986, o caçador de crocodilos de um lugar isolado da Austrália vê sua vida ser estampada nas páginas de um jornal americano e despertar a curiosidade do público. Dundee, então, é convidado para fazer uma viagem a Nova York. Na cidade grande, é visto como um exótico personagem. Na vida real, Guilherme Leite Perrone - ou simplesmente Guigui - não é tão exótico a ponto de chamar atenção pelas ruas. Mas ele também brinca de pegar jacaré. Aos 30 anos, Guigui saiu de Maués (AM), a 450 quilômetros de Manaus, para conhecer o mundo. O passaporte foi a habilidade no futevôlei, que encantou um sheik árabe e fez o jogador disputar torneios na Malásia e na Tailândia, com uma bola feita de bambu. Eleito melhor jogador da Liga Nacional de Futevôlei de 2012, o jogador estará presente com a camisa do Vasco na 2ª etapa da edição atual, de sexta a domingo, no Piscinão de Ramos, no Rio. O SporTV transmite as semifinais e a final ao vivo, no domingo.
- Através do futevôlei conheci quase o mundo todo. Desde 2001, comecei a rodar o Brasil. Comecei a jogar em 99, lá em Maués. Também jogava futebol e lutava jiu-jítsu, mas depois fiquei só no futevôlei - recordou Guigui.
Hoje, ele é um dos principais nomes do esporte no país e no mundo, com passagens pela seleção brasileira - quando jogou ao lado de Romário - e já defendeu São Paulo, Vasco, entre outros clubes.
Desde cedo, Guigui percebeu que sua praia era o futevôlei, mesmo com a maré alta dos rios que obrigava ao jogador improvisar para treinar.
- Em Maués tem praia de água doce. Então, são seis meses de praia, mas, quando o rio enche, a praia some. Tínhamos que treinar num colégio. O prefeito mandava jogar areia e improvisávamos – lembrou o jogador.
Guigui casou cedo, aos 16 anos, e se mudou para Manaus para dividir a casa com a mulher, sogra e outros parentes. Teve dois filhos. E, depois, alguns contos das arábias na sua história.
Ao disputar um torneio na Tailândia, Guigui chamou atenção do sheik de Dubai e príncipe herdeiro, Hamdan Bin Mohammed Bin Rashid AL-Maktoun, que determinou que o responsável pelo Conselho de Esportes do país organizasse uma etapa mundial com a presença do mauense.
Na ocasião, o sheik e outros poderes do país fizeram questão de cumprimentar Guigui, que foi campeão mundial. A partir dali, o Mundial de Dubai passou a ser realizado todos os anos.
O futevôlei encurtou distâncias entre príncipe e plebeu, que não se deslumbra com a relação:
- Conheci o Jamal e o Mohammed, ficamos amigos, mantivemos contato.
E as histórias não param por aí.
- Já fui para Tailândia, onde o campeonato é disputado com bola de bambu. Os caras jogam muito – disse Guigui, em referência ao esporte conhecido como takraw.
Ele também esteve na Malásia e em mais uma penca de países. No início desta semana, foi à Venezuela. Agora, está pronto para desembarcar no Rio para a etapa nacional, quando defenderá o Vasco ao lado de Alexandre e do ex-jogador William.
Ele não conhece o Piscinão de Ramos, no subúrbio carioca, mas ri ao ser informado de que na região não tem presença de jacarés. Uma das diversões de Guigui em Maués era pegar jacaré e posar para foto.
- Lá tem esses bichos todos. Na selva é normal, natural. Ao lado do clube onde treino em Manaus passa jacaré, capivara. Mas pego só pequeno (risos). E para bater uma foto – brincou o jogador.
No fim de semana, ele estará no Rio, mais uma vez na cidade grande. Não consegue discordar e se diverte quando sua vida faz lembrar a comédia encenada em Crocodilo Dundee:
- É verdade.Tipo isso mesmo (risos).