O caso envolvendo as supostas agressões por parte de traficantes do Complexo da Maré ao meia Bernardo mobilizou, mesmo que timidamente, o departamento de futebol do Vasco. O clube aguarda o relatório do departamento jurídico sobre a conclusão da investigação promovida pela 21ª DP (Bonsucesso) e planeja uma conversa para orientar o elenco. O objetivo é evitar problemas e a consequente desvalorização dos atletas.
A situação do meia tomada como exemplo. No início de abril, o Cruzmaltino colocou Bernardo em uma lista de jogadores negociáveis até o final da temporada. O clube esperava arrecadar R$ 3 milhões com a futura venda, mas se viu de mãos atadas pela duração de contrato (dezembro de 2015), as recentes polêmicas e os seis meses de recuperação pela cirurgia no joelho esquerdo. Em São Januário, a negociação já é cogitada pela metade do valor. O clube carioca é detentor de 50% dos direitos econômicos do atleta.
Em crise financeira, o Vasco deixou claro que a desvalorização de jogadores está longe de ser considerada aceitável no momento. Por isso, aguarda o fim do “caso Bernardo” para conversar com o elenco e evitar possíveis futuros problemas fora das quatro linhas.
“O Paulo [Autuori, t[ecnico] sempre conversa com os jogadores, mas ainda não demos orientação especial. Vamos esperar o encerramento da investigação para falar com eles sobre a questão. Mas os atletas recebem nossas orientações sempre e implantamos isso desde a base. O jogador de futebol precisa entender que esse tipo de coisa trabalha contra. Complica a carreira, o valor de marcado cai, não tem benefício”, explicou o diretor executivo de futebol René Simões.
Um dos mais experientes do elenco, o volante Wendel confirmou que ainda não houve uma reunião especial com a diretoria sobre o caso. Porém, mostrou a importância de o atleta se preservar para o dia seguinte e admitiu que o papo envolvendo o “caso Bernardo” dominou o vestiário cruzmaltino.
“Conversamos e 80% dos jogadores são pais de família. Cada um cuida e faz o que acha melhor. Lógico que para um atleta profissional certos excessos não são permitidos. Você pode sair, mas com cautela. A profissão exige estar 100% no dia seguinte. Comentamos o básico, pedimos orientações para a assessoria nas entrevistas. Tudo isso faz parte”, encerrou o volante Wendel.
Na última terça-feira, Bernardo divulgou uma nota oficial e considerou encerrado o episódio no Complexo da Maré. Ele reiterou os argumentos dados na última segunda-feira, quando prestou depoimento na 21ª DP (Bonsucesso). O jogador voltou a negar o relacionamento com Dayana Rodrigues, namorada de Marcelo Santos das Dores, conhecido como Menor P, chefe do tráfico na comunidade da Zona Norte do Rio de Janeiro.
De acordo com as primeiras investigações da Polícia, o meia do Vasco foi amarrado, torturado e atingido por socos e pontapés no último dia 21 de abril. Ele teria se relacionado com Dayana Rodrigues e foi descoberto pelo tráfico do local. Em conversas com amigos, Bernardo negou ter passado por um período de espancamento, mas confirmou que foi colocado despido em um carro pelos bandidos e sofreu tortura psicológica. O atleta foi ameaçado de morte e recebeu tapas no rosto. Dayana levou cinco tiros nas pernas de acordo com os policiais. Outros dois disparos atingiram a mulher de raspão.
Fonte: UOL