O lateral-direito Wellington Silva, do Fluminense, prestou depoimento na noite desta terça-feira na 21ª DP (Bonsucesso) sobre a tortura que o jogador Bernardo, do Vasco, teria sofrido por traficantes na Vila do João, no Complexo da Maré, no último domingo. O depoimento durou cerca de uma hora e o atleta entrou e saiu sem falar com a imprensa. De acordo com o seu advogado, Sergio Rieira, ele estava na comunidade, mas negou presenciar o fato e ter impedido a morte do jogador vascaíno.
"Wellington Silva estava com a família na Vila do Pinheiro no domingo, na festa do seu cunhado. Ele não sabia o que estava acontecendo. Só soube do fato na segunda-feira", disse Rieira.
De acordo com o advogado, Wellington é amigo de Bernardo e teria ligado para o jogador ainda no domingo para saber sobre a sua lesão, mas ele não atendeu. Na segunda-feira, quando soube o que tinha acontecido, ele voltou a ligar para o jogador, que novamente não atendeu. Somente a noite, Bernardo retornou a ligação e explicou o que tinha acontecido. No seu depoimento, Wellington disse que Bernardo negou ter ficado com Dayana ou que tinha sofrido tortura.
"Nesta ligação de segunda-feira, o Bernardo disse ao Wellington que não foi agredido e não ficou com a menina. Disse que apenas tomou um "susto", mas não explicou o que teria acontedido", relatou o advogado.
Wellington Silva também disse não ter relações estreitas com pessoas da comunidade e que apenas conhece algumas pessoas de nome.
Em nota, Bernardo reafirma que não houve agressão e considera caso como encerrado
O jogador Bernardo, do Vasco, emitiu nota, nesta terça-feira, sobre a suposta tortura ocorrida no Complexo da Maré, no último dia 21. No texto, o atleta classifica as notícias sobre o caso como equivocadas e reafirma desconhecer Dayana Rodrigues, uma namorada do traficante Menor P e pivô do crime.
Ainda na nota, Bernardo agradece o apoio e suporte do Vasco e afirma que considera o ocorrido como encerrado. No fim, o jogador enfatiza as declarações como mentirosas com uma frase: "Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo, antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vesti".
Em depoimento à 21ª DP (Bonsucesso) nesta segunda-feira, Bernardo confirmou que sofreu tortura psicológica por parte do bandido, mas negou ter sido agredido. No entanto, afirma ter sido amordaçado, amarrado e obrigado a tirar toda a roupa. Os advogados da vítima, que também foi ameaçada de violência sexual, devem pedir proteção para o atleta.
O jogador contou ainda que foi colocado dentro de um carro e que os criminosos ficaram andando com ele pela favela. Parte desses momentos de terror aconteceu diante de Dayana Rodrigues, que também foi ameaçada de morte. O bandido acusa o jogador de ter saído com ela. No entanto, na delegacia, ele negou conhecê-la.
Dayana foi levada para onde Bernardo era torturado. Ainda segundo o depoimento do vascaíno, Menor P obrigou por várias vezes o jogador a confessar que saiu com ela, mas o jogador continuou negando. Mas a mulher não foi poupada: levou sete tiros — cinco em uma das pernas e dois no pé esquerdo —, além de ter sido espancada na Vila do João. Ela já teve alta de hospital.
Alerta de jogador teria sido a salvação
O jogador foi tirado da favela pelos amigos e também jogadores de futebol Wellington Silva, do Fluminense, e Charles, do Palmeiras, que também estavam na favela. O depoimento de ontem durou quase três horas. O jogador contou que ficou muito abalado.
Wellington Silva, nascido e criado na região, teria intercedido em favor de Bernardo, alertando os bandidos de que se matassem o vascaíno, o crime teria repercussão nacional. Ele teria dito até que no dia seguinte uma UPP poderia ser instalada na comunidade, como resposta do governo do estado.
Confira a nota do jogador Bernardo na íntegra:
“Inicialmente, venho agradecer pelo apoio que eu e minha família recebemos nestes últimos dias.
Gostaria de agradecer especialmente ao Vasco da Gama, instituição que, apesar de tudo que vinha sendo equivocadamente divulgado, desde o início (e sempre) me deu total suporte e credibilidade, incluindo dirigentes, jogadores e torcida.
Após o depoimento oficialmente prestado ontem, quando pude relatar todo o realmente ocorrido, considero esta história encerrada, permanecendo, claro, sempre à disposição da autoridade policial para prestar esclarecimentos adicionais que possam ser necessários a respeito do assunto.
Destaco que todo o episódio por mim relatado - que é sigiloso, inclusive para não prejudicar investigações – já era de conhecimento de polícia e apenas tive a oportunidade de esclarecer alguns pequenos detalhes, em especial o fato de não conhecer a Dayana.
Por tudo, entendo que deixei clara minha disposição em colaborar com as investigações e explicar a verdade dos fatos para a autoridade policial, a quem cabe prosseguir com as providências.
Volto a afirmar que estou bem de saúde, não sofri agressões físicas e, a partir de agora, estou focado somente na cirurgia à qual serei submetido amanhã.
Minha preocupação agora é apenas me recuperar da lesão no joelho o mais rapidamente possível para, enfim, voltar a fazer o que mais amo na vida, que é jogar futebol.
Solicito a colaboração de todos para que este assunto seja conduzido apenas pela autoridade policial."
'Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo, antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir'".
Fonte: O Dia online