O espanto gerado nos torcedores pelas revelações da Polícia dando conta de tortura e agressão envolvendo o meia Bernardo não tiveram a mesma reação no Vasco. Mesmo surpresos com a história ocorrida na madrugada da última segunda-feira, membros do clube já conheciam a rotina do jogador na comunidade do Complexo da Maré, suas recentes incursões ao local e a chance de se envolver em uma polêmica por conta do relacionamento que mantinha com traficantes e moradores.
"É triste, não queríamos isso, mas sabíamos do risco. Demorou, mas ia estourar alguma coisa. Ele vinha frequentando os locais há algum tempo e estava com cara de problema", relatou um membro ligado ao departamento de futebol cruzmaltino.
Segundo pessoas próximas a Bernardo, o jogador dizia não ter medo de possíveis episódios violentos. Ele confiava na amizade com os "chefes" do local. Em uma oportunidade, alguns funcionários do Vasco precisaram resgatá-lo em uma comunidade antes de um compromisso em São Januário.
A situação ligou o sinal de alerta na comissão técnica ainda comandada pelo ex-treinador Gaúcho, principalmente quando os profissionais souberam que a frequência de Bernardo na favela acontecia desde 2011, época da sua primeira passagem pelo Cruzmaltino. O meia aliava o itinerário perigoso a outras noitadas pelo Rio de Janeiro e chegou atrasado a alguns treinamentos durante o Campeonato Carioca.
Mesmo com uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, Bernardo também exagerava no comparecimento a boates da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Na noite do último domingo, ele foi visto na casa noturna "021" e assistiu ao show da funkeira Anitta. O atleta circulava pelo local acompanhado de amigos e aparentando tranquilidade.
Embora não falem abertamente, os cartolas cruzmaltinos comentam nos bastidores que o jogador chegou “ao limite” após tantas indisciplinas e aguardam as investigações policiais para definir quais cobranças serão feitas. Por ora, o Vasco disponibilizou apoio jurídico e psicológico ao meia.
Bernardo vai prestar depoimento na 21ª DP (Bonsucesso) durante a próxima semana. Na ocasião, ele terá de esclarecer as informações levantadas pelos envolvidos na investigação. No relatório da Polícia, o meia do Vasco foi amarrado, torturado e atingido por socos e pontapés. Ele teria se relacionado com a mulher de um dos líderes do tráfico na comunidade, Marcelo Santos das Dores, conhecido como Menor P. A mulher que se envolveu com Bernardo é Dayana Rodrigues, uma das namoradas do bandido.
De acordo com as primeiras informações dos agentes policias, Bernardo foi salvo pelo lateral Wellington Silva, do Fluminense, nascido e criado na comunidade. Ele pediu aos traficantes para que não matassem o companheiro, alegando que a retaliação seria pior, visto que o local ainda não conta com uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). O volante Charles, do Palmeiras, também estava presente.
Porém, Bernardo revelou a amigos que o jogador do Fluminense só apareceu no local após o desfecho do caso. O meia vascaíno descartou ter passado por um período de espancamento, mas confirmou que foi colocado em um carro pelos bandidos e sofreu tortura psicológica. O atleta foi ameaçado de morte e levou tapas no rosto. Ele está fora do Rio de Janeiro, passa bem e não apresenta sinais físicos de violência. Entretanto, está bastante assustado e teme retornar ao local de residência por causa de represálias.
Dayana levou cinco tiros nas pernas de acordo com os policiais. Dois disparos atingiram a mulher de raspão. Ela foi internada no hospital Souza Aguiar. Aquiles de Abreu Rodrigues, de 56 anos, pai da jovem, negou o relacionamento dela com Bernardo. O aposentado chamou o jogador de “covarde” e “safado” por ter confirmado a suposta mentira do envolvimento com Dayana frente aos bandidos do Complexo da Maré.
Fonte: UOL