Se depender dos clubes brasileiros, a tentativa da Uefa de proibir a transferência de jogadores ligados a fundos de investimentos no futebol não vingará.
Em carta enviada à Fifa na última segunda-feira, 22 de abril, mais de 20 times se posicionam contra o movimento que classificam como “arbitrário” e “unilateral”, pedindo uma maior discussão em torno do tema antes de sua definição.
Uma comissão formada pelos advogados André Sica, do Palmeiras, Daniel Cravo, do Inter, Marcos Mota, do Flamengo, e Osvaldo Sestário, representante de Náutico, América-RN e Portuguesa, foi nomeada para conduzir o processo após encontro realizado no começo do mês, no Rio de Janeiro. A próxima reunião está marcada para São Paulo, em 2 de maio.
O documento obtido pelo ESPN.com.br (leia na íntegra mais abaixo) tem como destinatários o presidente da Fifa, Joseph Blatter, o secretário-geral Jérôme Valcke e o diretor de assuntos legais Marco Villiger. O Ministro dos Esportes Aldo Rebelo, José Maria Marin, da CBF, e Nicolás Leoz, que ainda comandava a Conmebol até o início da semana, também são copiados na mensagem.
Dentre as assinaturas registradas no ofício, a surpresa fica por conta da ausência de grandes como São Paulo, Corinthians e Atlético-MG.
A resposta vem depois de a Uefa aprovar em dezembro do ano passado, durante assembleia de seu comitê executivo, a intenção de banir de suas competições a inscrição de atletas com direitos divididos com terceiros a partir da temporada 2014/15. No discurso a seus filiados, a entidade ressaltou não permitir a inclusão nos balanços financeiros de receitas que tenham como origem transações envolvendo grupos de investimentos.
O órgão máximo do futebol europeu se mantém inflexível sobre o tema e ameaça adotar a medida mesmo sem qualquer respaldo. A Fifa, no entanto, não ignora o assunto.
Em janeiro, ela enviou para as confederações, incluindo a CBF, uma pesquisa para descobrir como cada uma delas lida com a questão. O resultado da análise deverá ser apresentado em sua próxima reunião, marcada para 31 de maio, nas Ilhas Maurício.
O argumento dos brasileiros é de que a presença dos fundos no futebol está amparada pelo regulamento geral da própria Fifa e também pela Lei Pelé, e que uma “mudança repentina” como essa teria um impacto negativo não só nos times, mas também no mercado de transferências internacionais.
Os representantes do País ainda ponderam não terem sido ouvidos em nenhum momento pela Uefa e que, mesmo na entidade europeia, não existe um consenso sobre o tema – o advogado Daniel Lorenz Pereira, do Porto, esteve ao lado dos representantes nacionais no Rio de Janeiro.
“Os clubes brasileiros e sul-americanos não podem permanecer calados em relação a esse cenário adverso, caso contrário, serão afetados mais uma vez por uma mudança de regras repentina e unilateral, implementadas sem a sua participação e promovidas exclusivamente pela Uefa mesmo sem – faz-se necessário destacar – refletir a opinião unânime das equipes”, diz a carta.
Em seminário realizado nesta quarta-feira, na Câmara dos Deputados, em Brasília, o Governo também sugeriu que o veto à participação de terceiros nos direitos econômicos dos atletas pode ser incluído no projeto elaborado para a renegociação das dívidas dos clubes com a União.
Com a crise econômica que assola o continente europeu, a prática tem se tornado cada vez mais comum entre seus países – sobretudo, na Espanha e em Portugal. Ela não é permitida na Inglaterra e na França e já gerou punições a alguns times.