Sofrido para os torcedores, o adeus ao Vasco mexeu também com Dedé. O zagueiro, que defenderá o Cruzeiro, concedeu entrevista coletiva que marcou sua despedida, na manhã desta quinta-feira, e disse que se sentiu pressionado a tomar a decisão em função da difícil situação financeira em São Januário.
Dedé afirmou que o Vasco precisava negociar algum jogador, para aliviar sua crise, e sabia que ele era o escolhido. E disse ser difícil ver os salários atrasando para os funcionários, "que precisavam que mudasse alguma coisa". Com esse cenário, o zagueiro se definiu como uma válvula de escape e sem muita escolha.
- Senti a pressão, sim. Sem querer atingir ninguém do Vasco, mas me senti uma mina de ouro que poderia clarear a escuridão que estava ali. Não tive a escolha de pensar. Achei que conseguiria pensar, mas não tive chance. Vi que tinha uma decisão concretizada - afirmou Dedé, pouco depois de chorar, logo no começo da entrevista, realizada no seu condomínio na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O zagueiro de 24 anos disse não se arrepender de ter recusado as propostas que chegaram antes da do Cruzeiro e avaliou que ainda não é o momento de se transferir para a Europa. Agradeceu mais de uma vez o carinho da torcida e afirmou:
- Nunca pensei em sair do Vasco.
O jogador viaja ainda nesta quinta-feira para Belo Horizonte. A torcida cruzeirense prepara grande festa para recebê-lo no aeroporto de Confins, onde a chegada está prevista para 18h. A diretoria do Vasco, que ainda vai se pronunciar sobre a venda do zagueiro, considerou o negócio como praticamente irrecusável - R$ 14 milhões pelos 45% de direitos econômicos que o clube ainda tinha. O Vasco deve dois meses de salários, entre outras dívidas com o atual quadro de funcionários e o elenco de jogadores.
Confira abaixo os principais momentos da entrevista.
Carinho da torcida
- Nunca vou deixar de lembrar da torcida. Despedida é ruim de fazer. O Cruzeiro ofereceu o mesmo carinho que o Vasco teve por mim. Só tenho que agradecer o que a torcida fez por mim em momentos bons e difíceis. Nunca vão sair do meu coração. Dedé está indo, mas o coração está ficando. Construí família e amigos nesses quatro anos. Tudo o que girou em torno foi a meu favor.
A negociação
- Foi uma negociação em que ocorreram várias situações. O Cruzeiro chegou primeiro no Vasco, o que é o certo. Meus empresários avisaram uma situação, mas eu não sabia se era concreta. Não fiquei chateado, mas achava que podia ser uma situação mais tranquila, para eu pensar no que eu queria fazer. Chateado eu não fiquei, não (veja no vídeo ao lado).
Proposta do Corinthians
- Ouvi muito bafafá com meu nome. A cabeça ficou a mil, um trevo. Tentei me distrair com outra coisa, mas não dava. Houve uma sondagem do Corinthians, e fiquei contente pela valorização. O Vasco estava desacreditado pelo elenco simples. Fiquei feliz com a valorização e mexeu comigo a situação do Corinthians. Mas decidi ficar.
O Mito
- Não me vejo como ídolo, mas percebo que muita gente me vê assim. Sou um cara que anda em qualquer lugar e paro para dar autógrafo. Isso é sem maldade, sem vontade de aparecer. Não caiu a ficha.
Privilégio ao receber em dia?
- Vou ser claro: não fiquei muito diferente dos outros jogadores (na questão dos atrasos). O Vasco só não deixava bater três meses para não deixar que eu pudesse arrumar briga - o que eu não faria. Mas me incomodava ver muita gente da base, que precisava, não receber. Procurei evitar falar sobre isso para não gerar transtorno ou que me vissem com outros olhos.
Esfacelamento do elenco vascaíno
- Acho que eles (dirigentes) podiam fazer alguma coisa para manter um bom elenco, não só eu. Não estou querendo culpar ninguém, pelo contrário, mas dava para manter. Infelizmente tem dívida que foi difícil para o clube. Mas o Vasco é um time muito grande, que não precisava chegar a essa situação.
Transferência para a Europa
- Não penso em jogar na Europa agora. Difícil alguém pensar assim, mas sou diferente nisso. Quero ficar no Brasil porque teremos a Copa e penso em Seleção. Penso diferente de muitos jogadores profissionais. Recusei uma proposta de Portugal e fui campeão da Copa do Brasil. Não posso me arrepender. Fiquei perto da família, amigos e em um clube que me ama tanto (veja no vídeo abaixo).
Atuações após a lesão
- Jogador, quando tem lesão e fica um ou dois meses parado, fica sem confiança de apoiar forte a perna. Eu consigo dar o bote com as duas pernas e passei a evitar a esquerda. Isso estava nítido. Depois de cinco jogos, fiquei mais tranquilo.
Comparação com o Atlético-MG
- Eu estou indo para somar no Cruzeiro. Em Belo Horizonte tem dois bons zagueiros no time rival (Atlético-MG), o Réver e o Leonardo (Silva), e vou fazer o que eles fazem para ter o respeito da torcida do Cruzeiro.
A nova casa
- Conversei com o Nilton (volante ex-Vasco). Conheço um pouco de Minas por ter familiares no interior. É um lugar bem parecido com Volta Redonda (sua cidade natal). Não sou baladeiro. Gosto de sair, fazer algumas coisas, mas não perguntei sobre a cidade para ninguém.
Fonte: GloboEsporte.com