Não basta ter nome, é preciso possuir crédito na praça. No futebol carioca, Vasco e Flamengo sofrem com a falta de confiança do mercado da bola. O constante atraso no pagamento de salários, direitos de imagem e comissões deixa agentes e jogadores com um pé atrás em relação aos clubes de maior torcida do estado. Nem mesmo os clubes mais bem cotados, Botafogo e Fluminense, escapam de acumular pendências com seus jogadores. Quem cobra mais profissionalismo para fazer negócio está de olho.
Em São Januário, alguns agentes têm evitado fazer negócios. Isso porque não são apenas os jogadores que perdem com o atraso salarial e de direitos de imagem. Muitos empresários tiram suas comissões, geralmente de 10%, do valor que é pago ao atleta. Se um não recebe, o outro também não. Comissões de intermediários em transações também estão atrasadas. O problema é que a fama de mau pagador se espalha rapidamente. Às vezes, a imagem ruim é difícil de ser mudada.
— É um absurdo, com o aumento enorme que ocorreu nas receitas, os clubes brasileiros ainda viverem na insolvência. Para mim, é uma questão cultural, algo enraizado. Eu sempre digo o seguinte: cada clube tem o seu DNA. Alguns são bons pagadores, outros não — disse o agente Eduardo Uram.
Já na Gávea, as pendências também são grandes. Atualmente, a diretoria corre para pagar os direitos de imagem dos jogadores, alguns com cinco meses atrasados. O salário na carteira está em dia, o que não é coincidência, mas sim uma forma de proteção.
— Depois de três meses de atraso no salário na carteira, o jogador pode entrar na Justiça e deixar o clube. É ganho de causa certa. Quando o atraso é no direito da imagem, depende da interpretação do juiz — explicou o agente Roberto Miguel, responsável pela ida do zagueiro González para o Flamengo.
Sem receber em dia no Vasco, Felipe trocou São Januário pelas Laranjeiras Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo
Nem mesmo a estratégia resolve. A saída de Ronaldinho Gaúcho em 2012 é o melhor exemplo. Quando conseguiu rescindir o contrato judicialmente, ele levou em conta o que ganhava também como pessoa jurídica.
Até quem não está com o filme queimado paga por não cumprir o que promete. No Botafogo, o elenco deixou de se concentrar antes de alguns jogos no Rio por causa do atraso salarial, que chegou a dois meses. Sinal de que a tolerância no futebol com o problema está cada vez mais perto do fim.
O outro lado da moeda
O ciclo é vicioso para uns e virtuoso para outros. O clube sem credibilidade vê os maiores empresários se afastarem e, assim, os melhores jogadores. Sem bons nomes para contratar, é difícil montar equipes competitivas. Sem um time forte, fica complicado vencer, gerar receita e cumprir compromissos. O contrário também ocorre. Quem paga em dia é bem visto, ganha preferência de agentes e jogadores e consegue prolongar a boa fase.
No Brasil, Grêmio, Internacional, Atlético-MG, Cruzeiro, Corinthians, Santos e Botafogo são considerados bons pagadores, com pequenos atrasos esporádicos. Já São Paulo e Fluminense são, hoje, os favoritos do mercado.
— É claro que isso pesa. O bom atleta escolhe onde joga. A Unimed é um diferencial, tem credibilidade muito grande no mercado — disse o diretor executivo do Fluminense, Rodrigo Caetano.
Nem mesmo a pesada dívida de R$ 3 milhões com o elenco, referente à premiação do título brasileiro, tem diminuído o prestígio.
Sem o mesmo patrocínio forte, o Botafogo se vira pela boa reputação. Atualmente, o pagamento de direito de imagem está um mês atrasado. A recusa do time em se concentrar não afeta a imagem, banca o gerente técnico Sidney Loureiro:
— Estamos em situação melhor que muitos clubes. Os jogadores nos cobram porque a nossa cobrança tem sido grande. Isso é bom.
Fonte: Extra Online