A equipe juvenil do Vasco disputou entre o final do mês passado e o início do atual a Copa Rio sub-17 e não decepcionou. Apesar de uma parte da mídia taxar o Gigante da Colina como um dos grandes times mais fracos do torneio, o cruzmaltino terminou o importante campeonato na terceira colocação e sem ter perdido um único jogo.
A excelente campanha passou a imagem de que aos poucos o trabalho desenvolvido pela nova diretoria das categorias de base vem surtindo efeito. Até mesmo por isso, o desempenho do elenco sub-17 foi bastante comemorado dentro de São Januário.
Com o objetivo de fornecer ao torcedor a palavra oficial do clube sobre o desempenho dos 'Meninos do Juvenil' na Copa Rio, o programa 'Só dá Base' recebeu na última quarta-feira (10/04) o senhor Antônio José Teixeira, coordenador da categoria.
Na oportunidade, o profissional analisou o desempenho vascaíno no torneio, destacou a entrega do grupo, confirmou a participação do time sub-17 numa competição internacional e deu detalhes sobre o planejamento para a sequência da temporada.
Bate-papo exclusivo com Antônio Teixeira, coordenador da categoria juvenil:
Vasco terminou em terceiro na Copa Rio, mas muita gente no início do campeonato dizia que o time não passaria da primeira fase e que era um dos times grandes mais fracos da competição. Foi uma surpresa essa colocação ou vocês do Vasco já esperavam esse desempenho?
"O que acontece normalmente é que quando existe uma crise ela é vista por dois lados. Quem está de fora tenta potencializar, especulando o máximo possível em cima daquele assunto. São coisas que ficam muito latentes e são muito discutidas. Quem está de dentro e sabe o que está acontecendo, toca e permanece executando o trabalho. Só nós que estamos trabalhando no clube temos condições de reverter a situação do clube. Essa crise existe para os dois lados. O lado de fora normalmente passa por cima de tudo que faz de positivo e dá uma visibilidade enorme a qualquer coisa que acontece de errado. Lamento a covardia das pessoas de fazer com que a crise se torne maior do que ela é. Eu sou uma pessoa que não costumo me abater demais com as derrotas e nem me empolgar demais com as vitórias. A gente sabe que nas derrotas a gente aprende, a gente tem crescimento e nas vitórias a gente tem o prazer da realização do trabalho, mas a partir daquele momento o trabalho continuar e você vai ter que recomeçar tudo. Não fico muito destruído quando recebo pancada e também não fico muito empolgado quando recebo elogios. Muita gente não acreditava? Não sei se muita gente não acreditava. Talvez alguns não acreditassem e esses alguns fizeram um barulho muito grande pelo fato das pessoas que acreditavam terem se silenciado. Quanto ao desempenho da equipe posso dizer que nós tivemos realmente muitos problemas nas duas semanas que antecederam a competição. Problemas de que nível? O problema foi que caiu um dilúvio no Rio de Janeiro e o nosso centro de treinamento ficou alagado. Infelizmente as chuvas que caíram em Itaguaí foram absurdas e nós passamos duas semanas sem trabalhar, sem treinar. Futebol, como todos sabem, é trabalho. Você tem que estar trabalhando, tem que estar aperfeiçoando e repetindo. Nós não conseguimos fazer isso nas duas semanas que antecederam a competição. Dizer que nós fomos para a competição para não passar da primeira fase é mentira, claro que não. Mas nós sabíamos que iriamos ter muitas dificuldades em função da não realização do trabalho que o treinador precisava fazer com o grupo e não conseguiu fazer por uma coisa que não é culpa do Vasco. Não foi o Vasco que mandou fazer chover. Choveu, inundou o Centro de Treinamento e a gente não pode trabalhar. As pessoas colocaram que o Vasco era o pior time dos grandes. Será que era o pior time dos grandes ou era o melhor dos pequenos? Não sei qual é a colocação dessas pessoas Só que a gente está no dia a dia conhece o trabalho e o potencial do grupo que a gente tem. Sabíamos, como disse, que a gente teria muita dificuldade na competição e fomos para Miracema conscientes disso. A prova disso é que na última reunião que fizemos em Itaguaí antes da viagem eu perguntei aos atletas se eles sabiam o que eles iam fazer em Miracema. Para a minha surpresa a maior parte deles não sabia. Uns disseram que iriam jogar uma competição importante, outros a Copa Rio. Eu disse que não e que iríamos para Miracema trabalhar e não para passear. Trabalhar significa estar focado o tempo inteiro, está unido o tempo inteiro, estar junto o tempo inteiro, estar buscando o tempo inteiro e superando as dificuldades que a gente teve o tempo inteiro. Graças a Deus eles entenderam isso muito bem. Foi um entendimento muito positivo. O grupo se uniu e eles conseguiram fazer em campo o que não tinham sido preparados para fazer, até porque eles não trabalharam para aquilo. Foi união, foi garra, foi vontade, foi dedicação e foi entrega. Para a gente foi um surpresa não a gente passar de fase, foi uma surpresa o empenho, a dedicação e a entrega que os atletas tiveram. A performance que a gente teve na competição eu atribuo completamente a eles. A gente passou duas semanas sem trabalhar, duas semanas sem ir para campo fazer um treinamento e eles chegaram lá e fizeram grandes jogos. Isso realmente aconteceu graças a muita entrega, muito empenho e muita responsabilidade. Acho que esse grupo amadureceu muito com essa competição".
O Vasco passou por duas cidades ao longo da competição: Miracema e Cabo Frio. Como foi a recepção para o clube nesses dois lugares?
"Miracema foi uma história a parte, pois é uma cidade extremamente pequena. Cidade pequena normalmente é casa cheia. Lá tinham duas facções de torcidas do Vasco, uma da Ira Jovem e outra da Força Jovem. Eles nos acompanharam em todos os jogos com bateria e cantando o tempo todo. Isso foi uma força muito positiva que veio de fora para dentro. A gente na base está acostumado a jogar para pais, alguns amigos e poucos torcedores. Lá a gente sentiu a presença da torcida, o envolvimento e no pré-jogo a gente tinha dificuldade para colocar os garotos para dentro do vestiário. Todo mundo queria falar com eles e até mesmo por conta disso a gente liberava para eles ficarem alguns minutos depois do jogo para atenderem ao torcedor, que queria tirar e pegar autógrafo. Foi uma receptividade muito boa, muito boa mesmo. Fiquei muito feliz com a receptividade do povo de Miracema e com o carinho que todos deram para a gente. Em Cabo Frio foi uma outra situação, pois se trata de uma cidade maior. É uma cidade grande e que é muito próxima do Rio de Janeiro. Não teve o mesmo calor humano de Miracema, mas sentimos uma participação muito grande do público. Foi muito bom o apoio que recebemos nos dois jogos que disputamos lá. Até na própria derrota para o Inter a gente ouviu aplausos do público, que reconheceu a busca por um trabalho, por um bom resultado. A parte de hotelaria em Cabo Frio também foi show de bola. Ficamos numa bela pousado e tivemos uma boa alimentação. O pessoal da Prefeitura e da organização nos deu total cobertura. A gente fica bastante feliz, pois a competição foi muito bem organizada. Independente da gente não ter conseguido chegar as finais, que era nosso objetivo, foi uma participação muito positiva e fez os atletas crescerem muito. Foi bom participar de uma competição bem organizada".
A categoria juvenil realmente é uma família. Deu para perceber isso ao longo da transmissão da televisão e também através de relatos de pessoas que acompanharam a trajetória de vocês nas duas cidades. A que se deve essa união?
"Na realidade a categoria juvenil não é um família, mas sim a base do Vasco é uma família. A relação que a gente com atletas, familiares e membros da comissão das categorias infantil, juvenil e juniores é muito boa. Temos uma relação, uma integração e uma união muito boa. Não falo tanto do mirim e do pré-mirim, pois eles treinam em locais separados. A gente trabalha muita união, pois o futebol é um esporte gozado. O tênis é um esporte individual, o cara tem sucesso individual, pois ele vai lá joga e ganhar. O futebol é um esporte coletivo, mas ele gera sucessos individuais. Para o cara ter o sucesso individual no futebol, para o craque ser o craque, ele depende dos outros caras que estão lá dentro com ele. Se não houver um integração, um amizade, uma afinidade, acaba ninguém ganhando nada. O sucesso individual de um atleta depende do coletivo, pois se não tiver o coletivo fazendo com ele, por ele ou para ele, ele não vai conseguir ter sucesso. A nossa filosofia de trabalho é de mostrar para eles o quanto um depende do outro".
O Vasco estreia no próximo dia 20 no Campeonato Carioca, mas também disputa um torneio na Itália a partir do dia 28 de abril. Qual o planejamento do Vasco para essas duas competições e o que senhor espera delas?
"O que um profissional do Vasco da Gama sempre espera é chegar nas finais, esse é o primeiro objetivo. Quanto ao planejamento informo que essa competição na Itália é uma competição para o primeiro ano, ou seja, para jogadores nascidos em 1997. A partir dessa semana nós já dividimos o grupo 97 do grupo 96 para preparar o segundo ano para o Estadual e o primeiro ano para essa competição na Itália. Esperamos fazer uma boa competição na Itália, pois se trata de uma competição de alto nível. O Cássio viajará com a equipe 97. É uma competição internacional e é importante que o treinador vá, até mesmo porque é um torneio de tiro curto. O Serginho (auxiliar) ficará aqui no Brasil com o grupo 96 disputando o Estadual. Na verdade é o início do Estadual. Não acredito que a gente vá ter nenhum problema. Vamos estar preparados para disputar as duas competições em igualdade de condições. Se você for analisar só sairão quatro peças do time titular que jogou a Copa Rio: o Caio Monteiro, o Marquinhos, o Bruno Cosendey e o Cássio Augusto. O restante dos jogadores são da geração 96. Vamos estar com um grupo 96 forte no Estadual e com um grupo 97 também forte na Itália".
Inclusive o Vasco luta para reconquistar o Estadual juvenil, algo que não ocorre desde o ano 2000. Sabemos que o importante é formar jogadores, mas é sempre bom conquistar títulos. Chegamos perto em 2011 com o grupo 94, que ganhou a Taça Guanabara...
"Fazer o cara gostar de ganhar também é um formação. Você não forma ninguém para perder. O importante é formar? Claro que o importante é formar, mas não adianta você ganhar títulos e não formar ninguém. Não adianta também você só formar e não ganhar, até porque os caras tem que aprender a ganhar também. Eles têm que saber como é o sabor de ganhar para que cresça dentro dele essa vontade de ganhar. O objetivo principal é formar, mas também queremos formar o cara vencedor. Ninguém trabalhar para não ganhar, ninguém trabalhar para não vencer, mas todos ano apenas uma equipe vai vencer. Se você analisar nos últimos quatro anos, 2009, 2010, 2011 e 2012, nós chegamos perto da final em todas elas. Teve alguns momentos em que fomos extremamente prejudicados, como foi o caso da competição de 2009 em Xerém. O juiz na época expulsou o Luan e o Roni durante o jogo. Nós podíamos perder por 2 a 0, acabamos perdendo por 3 a 1 e sendo derrotados nos pênaltis. Isso faz parte do jogo, faz parte do jogo. Se o árbitro não tivesse dado aquele pênalti para o Internacional na Copa Rio a história teria sido outra. Se na bola que o Renato Kayser bateu e o goleiro pegou o árbitro tivesse mandando voltar, o resultado teria sido outra. Mas não foi e a história que ficou foi a que aconteceu. Não é para dar desculpa, mas você tem que formar vencedores e a gente vem chegando perto em todos esses anos. A gente não tem feito um mau papel, com exceção de 2008, quando nós fomos para o quadrangular final contra Botafogo, Flamengo e Fluminense e perdemos os seis jogos. Depois desse episódio, provocado também pela mudanças, nós estamos chegando perto. Em algum momento vamos ganhar".
Quais atletas do atual time juvenil do Vasco podem defender o time profissional do Vasco no futuro?
"Essa é uma área muito complicada de se falar. Eu contei para vocês em outro programa a história do Robinho e do Bruno Moraes no Santos e na Seleção (RELEMBRE). Você fazer um prognóstico de quem vai estourar é muito complicado, mas logicamente existem momentos e hoje no momento alguns jogadores que se destacam. O Lorran é um jogador que vem se destacando bastante desde o ano passado. Ele foi um jogador que conseguiu jogar no juvenil mesmo sendo primeiro ano e conseguiu até certo ponto jogar em algumas situações. A gente tem esse menino que chegou, o Renato Kayser, que é muito bom jogador. Tem o Caio Monteiro, que a gente acredita que será um grande jogador, e o Marquinhos, que é muito bom jogador. Agora dizer e garantir que eles vão ser jogadores profissionais a gente não tem como fazer. Hoje são jogadores que realmente se destacam e que estão muito bem nesse momento. A gente acredita que com trabalho e com foco eles conseguirão chegar lá. Um grande problema do futebol também é o foco. O cara começa a se destacar um pouquinho e começa a ficar mala. O empresário começa a ficar mala e começa a colocar coisa na cabeça do menino. O menino arrumar uma mulher bonita, enche o braço de pulseira, o peito de cordão de ouro, começa a usar aqueles bonés que custam 350 pratas e esquece de fazer o principal, que é jogar futebol. Esse é um cuidado muito grande que eu tenho. Eu mostro para eles todo dia como deve ser feito, bato na mesma tecla todo dia. Alguns poucos vão conseguir entender, outros não vão e acabarão se perdendo no caminho. Isso de se perder já aconteceu com milhares que passaram por aqui".
Então é por conta disso que às vezes se faz necessário dar uma segurada nos pedidos de entrevista com os garotos? Isso serve até mesmo para evitar que o jogador chegue no profissional com uma demasiada pressão e passe a ser criticado após o primeiro erro. Correto?
"Essa é nossa preocupação. Não é que a gente queira esconder nada de ninguém, até porque não temos nada para esconder. Futebol você não tem o que esconder. Você pode esconder o treino e o trabalho, mas quando vai para o jogo todo mundo vai ver. Não é para esconder, mas sim para preservar a cabeça deles. Nós vamos dando para eles as doses de maneira devagar, até mesmo para eles não se sentirem os 'caras'. Se a gente não fizer isso ele vai dar entrevista para todo mundo e daqui a pouco vai acabar falando algo errado. Vai falar uma besteira, vai falar algo que vai deixar o amigo chateado ou o clube chateado. Não é uma blindagem, até porque não estamos blindando ninguém ou proibindo alguém de falar. A gente tem evitado para que não se coloque muita pressão em cima deles. Quando ele ganha, ele está no céu, mas quando perde, ele está no inferno. Amor e ódio são os dois sentimentos mais antagônicos e que andam muito próximos. Se você fizer o gol do título, te deixa de cueca. Querem levar até sua cueca de recordação. Mas se tu perder o gol do título, quebram o teu carro todo. O mesmo cara que no ano anterior foi lá e levou sua cueca para casa e colocou num quadro, é o mesmo cara que vai quebrar seu carro no estacionamento. Temos que ter muito cuidado com esses meninos para que eles não se empolguem muito. Essa é a nossa preocupação. Talvez por conta desse trabalho a gente esteja com um grupo bastante coeso, pois todos os atletas entendem e respeitam essa nossa posição. A gente até agradece a vocês por estarem entendendo essa nossa postura. O importante é que a gente mostre o trabalho, até porque não estamos aqui para esconder o trabalho de ninguém, mas dando um protegida nesses meninos, que estão passando de uma fase de menino para homem".
Qual a importância dessa classificação na Copa Rio para as categorias de base do Vasco?
"Significou duas coisas: alegria e tristeza. Foi uma alegria muito grande ter feito um bom trabalho e ter representado muito bem as cores do Vasco. Isso foi realmente algo muito bom. A tristeza pelo fato de ter ficado aquele gostinho de quero mais. A gente sabia que podia ter chegado mais longe, mas o que aconteceu faz parte da competição. É um torneio de tiro-curto e o que vale é aquele momento. Quem iria imaginar que o Atlético-MG iria tomar de sete do Vitória? Quem iria dizer que o Atlético-PR numa semifinal fosse tomar de sete do Fluminense? São coisas que fogem completamente. Da mesma forma que a gente ganhou do Sport nos pênaltis, a gente perdeu para o Internacional. A gente ficou muito satisfeito com o resultado a nível de participação, empenho, dedicação e performance dos jogadores, mas também com aquela pontinha de tristeza. Quando a gente sabendo que chegou no limite, chegou onde não poderia ter chegado, você até se conforma, mas a gente sabia naquele momento que poderíamos chegar mais longe. Infelizmente não deu e quem vive do futebol tem que estar preparado para isso. Como disse, eu não fico muito empolgado quando ganho e também não fico muito derrotado quando perco".
Deixe uma mensagem final.
"Primeiro queria mais uma vez agradecer pelo espaço e pela cobertura que tem sido feita da nossa base. A grande mídia não cobre a base. Ele cobra o trabalho da base, ela critica o trabalho da base, mas eles não assistem um trabalho da base. Eles não conhecem, não acompanham os treinos não conhecem as dificuldades, mas criticam. Vocês estão dando espaço para a gente e a gente agradece. Digo aos vascaínos que a gente não é a família juvenil ou a família juniores, mas sim a família Vasco. As pessoas que estão lá são pessoas sérias, que gostam do que fazem e que fazem tudo por amor. A gente vai continuar trabalhando no intuito de formar esses jovens. Não falo apenas em formar jogadores de futebol, mas também de formar cidadãos".
Com informações do Programa Só dá Base/Só Dá Vasco.