O caminho considerado mais curto para a Libertadores promete ser também cheio de obstáculos. A competição que de longe mobiliza a maior quantidade de clubes do futebol nacional terá um número recorde e o retorno dos grandes astros da companhia. Tudo bem: Desportiva Ferroviária e Atlético-AC disputaram primeiro uma seletiva pela última vaga - vencida pela equipe capixaba. Mas nesta quarta-feira, 3 de abril de 2013, é que será dado o pontapé inicial e oficial da Copa do Brasil mais robusta da história.
De abril a novembro, passarão por ela 86 clubes, juntando todas as fases. Oitenta times dão a largada - 13 jogos serão nesta quarta-feira - num mata-mata para classificar 40 para a segunda fase. Permanece no regulamento que uma vitória dos visitantes por dois gols de diferença elimina a partida de volta nas duas primeiras fases. Nas oitavas, os cinco clubes na Libertadores (Corinthians, Fluminense, Atlético-MG, Grêmio e Palmeiras), além do Vasco, ocupante da vaga aberta no critério técnico do Brasileirão pelo São Paulo, campeão da Copa Sul-Americana - aliás, único grande ausente da Copa do Brasil -, entram na briga e dão o charme que andava em falta.
Para os mais críticos, acabou a moleza. Sim, desde 2001, quando foram retirados da disputa os clubes que jogavam a Libertadores devido à simultaneidade de datas das duas competições, a Copa do Brasil tinha perdido em qualidade. Por outro lado, ganhara em emoção ao aumentar as chances dos pequenos de mostrar ousadia. Como o Santo André, em 2004, e o Paulista, em 2005, campeões em cima da dupla Fla-Flu. Os clubes do interior paulista até eliminaram outros grandes no caminho, mas naquele momento sem a força dos atuais times que disputam a maior competição sul-americana.
- Sem dúvida, agora vai ser muito difícil acontecer o que houve com o Palmeiras no ano passado (o time foi campeão do certame em 2012 e depois caiu para a Série B no Brasileiro). A competição terá as maiores forças do futebol brasileiro. Que estarão na ponta dos cascos por terem disputado a Libertadores. E os que não conseguirem o título sul-americano terão nova chance de se redimir e voltar no ano seguinte pela Copa do Brasil. Vão fazer de tudo para ganhar. Aí vai ser bom até para tentar reparar alguma injustiça - afirmou o ex-jogador Junior, atual comentarista da TV Globo.
Campeão em 1990 pelo Flamengo, em final contra o Goiás, um dos maiores ídolos da história rubro-negra acha que zebras como a do Santo André em 2004 e do Paulista em 2005 serão cada vez mais raras agora. Mas Péricles Chamusca, técnico campeão pelo clube do ABC paulista em 2004, hoje na Portuguesa, que jogará a Copa, vê a coisa de outra forma.
- Não existe zebra na Copa do Brasil. Um time não chega até a final e vence por sorte. Tanto no Brasiliense (foi vice-campeão em 2002) quanto no Santo André (campeão em 2004) eu tinha um grupo de qualidade, com alguns jogadores de destaque, que eram os líderes da equipe. Eram times centrados, que não se assustavam com o peso da camisa adversária e ainda tinham a posse de bola. Foram bons trabalhos, nada foi por acaso.
Neymar volta com status
Se os pequenos são vistos como zebra ou não, o certo é que os técnicos dos gigantes do futebol brasileiro não escondem a preocupação, principalmente por conhecerem pouco o adversário. É o caso de Muricy Ramalho, técnico do Santos, que fará sua estreia dia 10 de abril no Albertão contra o modesto Flamengo do Piauí.
- Estamos atentos ao adversário, colhendo informações. Esses times mudam muito, às vezes montam uma equipe só para esse jogo, que é importante. Isso é uma dificuldade a mais para nós - reconheceu o treinador, que este ano, fora da Libertadores, vê a competição um melhor caminho e uma tábua de salvação.
Falar de Santos é falar também de Neymar, craque que estourou justamente no título da Copa do Brasil de 2010. Três anos depois, retorna à competição com outro status.
Antes promessa, tornou-se um dos maiores jogadores do planeta depois da conquista diante do Vitória e promete tornar o bye-bye Brasil santista uma procissão de fãs enlouquecidos, tal como numa beatlemania. Teresina promete ficar pequena com sua chegada para o jogo.
Pato, Seedorf e Dunga estreiam
O astro do Santos já sabe o que vai encontrar pela frente Brasil afora. Mas outras estrelas vão sentir pela primeira vez o calor do torcedor pelo interior do país. É o caso de Alexandre Pato. Nos tempos de Inter, o atacante nem teve tempo de participar da competição. Após a conquista do Mundial de Clubes, partiu para o Milan e agora, de volta e com a camisa do Corinthians, vai dar seu alô à Copa do Brasil com 23 anos e a partir das oitavas.
O veterano e astro holandês Seedorf, que completou 37 anos nesta segunda-feira, é outro que debutará. O palco será o Bezerrão, no dia 17 deste mês, contra o Sobradinho-DF.
Seja novo, seja veterano ou seja treinador de seleção brasileira que disputou Copa do Mundo. Dunga, técnico do Brasil na Copa de 2010, na África do Sul e agora no Inter, terá sua primeira experiência na competição nesta quarta-feira, contra o Rio Branco do Acre, na Arena da Floresta, às 22h. E vai comandar um dos favoritos para vencer a competição, junto com os grandes que virão da Libertadores. Com um elenco redondo, o Colorado, também de ressaca por não figurar na principal competição sul-americana, tem tudo para fazer uma boa campanha.
Fla e Cruzeiro apostam fichas
É o que querem também os outros grandes que iniciam a empreitada. Praticamente eliminado da Taça Rio e, por consequência, do Campeonato Carioca, o Flamengo reconhece que o jeito agora é apostar suas fichas na Copa do Brasil. O time entra em campo no Mangueirão, às 22h, diante do Remo, que pode se tornar adversário difícil.
- Será um novo desafio para um grupo que está sendo formado, por pessoas que foram contratadas e promessas que subiram. Vamos tentar encaixar o time da melhor forma possível para tentar chegar ao titulo - disse o meia Gabriel, ex-Bahia.
Outro gigante fora da Libertadores, o Cruzeiro começa a apostar as fichas no dia 10, contra o CSA, em Alagoas. Tetracampeã do certame ao lado do Grêmio, a Raposa sabe que o novo formato dificultará mais o caminho para o título. É o que pensa também o goleiro do Fluminense Diego Cavalieri.
- Agora aumentou o número de participantes e consequentemente diminui o tempo de descanso no nosso calendário, que já é corrido. Mas é uma competição importante nacionalmente, e quando o Fluminense entrar em campo vai ser com a intenção de vencer. A Copa do Brasil tem lá o seu charme. Alguns times não muito conhecidos para o grande público podem causar grandes surpresas eliminando favoritos por ser mata-mata. É interessante - disse.
Um dos primeiros a surpreender foi o Criciúma, campeão em 1991 sob o comando de Luiz Felipe Scolari, que na época nem era Felipão. Com o clube no nome de profissão, Sílvio Criciúma guarda a medalha da Copa do Brasil entre os pertences dos tempos de jogador. Deixou a zaga e saiu das quatro linhas em 2008. Era quase um aspirante aos 20 anos, quando participou da maior conquista do Tigre. Situação que o faz sonhar com a segunda medalha, desta vez como auxiliar técnico. O time estreia nesta quarta, contra o Noroeste, no interior paulista.
- O caminho ficou maior, e a concorrência, muito grande em relação ao ano em que fomos campeões. Os clubes começaram a valorizar este caminho mais curto para a Libertadores. Porém, o Criciúma já conquistou e tem as mesmas condições dos concorrentes, apesar de haver pelo menos quatro favoritos em virtude de virem da Libertadores. Mas a partir do momento que começa, cada um dos 80 times tem as mesmas chances.
Dado o recado, é esperar para ver.