Confira entrevista com Jair Bragança, ex-goleiro e atual coordenador dos Juniores do Vasco

Quarta-feira, 20/03/2013 - 09:44

O programa 'Só dá Base', do grupo Só dá Vasco, recebeu na última quarta-feira (13/03) um convidado bastante especial. Ele foi goleiro do Club de Regatas Vasco da Gama durante as décadas de 70 e 80 e não o largou nem no final da carreira, tornando-se assim preparador de arqueiros do time de juniores e posteriormente da equipe profissional.

Atual coordenador da categoria de juniores, Jair Antônio Bragança dos Reis, popularmente conhecido como Jair Bragança, falou durante sua participação sobre sua trajetória no Gigante da Colina e sobre sua amizade com o falecido Alcir Portela, que marcou época com a camisa do cruzmaltino. O profissional revelou que pretende se aposentar no final do ano que vem e se mostrou chateado com as recentes críticas feitas as categorias de base do clube de São Januário.

Confira a entrevista exclusiva com Jair Bragança, coordenador do juniores:

Gostaria que o senhor falasse sobre sua relação com o Vasco. Sabemos que foi goleiro do nosso clube e trabalha faz um bom tempo no clube. Quais títulos o senhor conquistou? Com quem trabalhou? Enfim, fale sobre sua trajetória no Vasco.

"Eu cheguei ao Vasco em 1976 e fui goleiro do clube. Foi uma época importante da minha vida. Cheguei muito jovem e tive que sair do Vasco para poder jogar e continuar minha carreira. Retornei ao clube em 1984 depois de ter um problema no joelho no clube onde eu jogava, o Comercial de Rio Preto-SP. Voltei para exercer a função de treinador de goleiros e fiquei fazendo isso por quatro anos . Posteriormente, em 1988, eu subi para os profissionais, onde eu trabalhei por 20 anos como treinador de goleiros. Mas o maior prazer que eu tive foi o de voltar a trabalhar com as categorias de base, onde eu posso dar uma contribuição maior, posso passar experiência para esses atletas mais jovens. É um motivo de satisfação trabalhar no clube com esses jovens que estão lá hoje".

O senhor era muito amigo do falecido Alcir Portela. Nos fale um pouco sobre sua amizade com o Alcir.

"No futebol a gente faz muitos amigos, mas com o Alcir Portela tive um relacionamento especial, inclusive por ter envolvido a família. Era uma pessoa que morava no mesmo bairro que eu e quem eu tive o prazer de encontrar depois no Vasco. Tinha uma amizade muito grande com ele e a minha ida para trabalhar na base foi por conta de um pedido dele. Na época ele estava doente e me fez o pedido para assumir no lugar dele. Ele trabalhava sempre com muito amor e muito carinho. O tempo foi passando e ele continuava lá preservando o seu espaço. Quando ele me fez um convite foi como se fosse uma homenagem e larguei tudo para aceitar. Tinha a esperança de que ele retornasse em breve para reassumir o seu posto. Nós acreditávamos que ele ia ficar bom, mas infelizmente ele veio a falecer. Hoje eu tenho o prazer de continuar o trabalho dele, trabalho que ele fez muito bem".

Hoje está tendo a oportunidade de trabalhar com o filho dele, o André Portella. Qual é a sensação?

"Eu vi o filho do Alcir nascer. Vi toda sua criação e todo o amor que o Alcir tinha por ele. Mas isso é uma qualificação fraterna particularidade, pois a minha relação com ele de amizade veio crescer muito agora que ele se tornou adulto. Ele é um ótimo profissional, um rapaz muito competente, que fez duas boas faculdades e também pode exercer a função de fisioterapeuta. Eu tenho hoje o prazer de trabalhar com o grande profissional que é o André Portela. O que me deixa feliz também é saber que ele é filho de um grande amigo meu, o meu melhor amigo, que foi o Alcir Portela. Existe um vínculo de parentesco e de amizade, mas o André Portella é muito competente".

Qual goleiro você teve como referência nos tempos em que era jogador?

"Eu participei da equipe do Botafogo que tinha o Wendel, que para mim foi um dos maiores que já passaram pela posição. Mas o cara que foi referência para todos nós foi o Andrada. Ele criou uma nova maneira de sair com a bola e até hoje a gente observa goleiros fazendo aquele movimento característico. Ele inovou nisso, na maneira de sair jogando com os pés. Ele tinha uma precisão de cem por cento. Ele foi um espelho não só para mim, mas para todos que vieram após a 'Era Andrada'. Até hoje os atletas que não o viram jogar utilizam esse tipo de saída, fazem instintivamente porque ele implantou. Foi um legado que ele deixou para todos nós".

O que representa o Vasco na sua vida?

"Não tenho motivo para fazer demagogia aqui e até por isso digo que o Vasco começou a aparecer na minha vida no tempo que eu era garoto. Me lembro perfeitamente da decisão de 1958, quando o Vasco foi super-super campeão com aquele timaço. Desde essa época eu acompanho o Vasco. Evidentemente a minha vida como jogador foi em outros clubes, minha base foi no Bangu. Minha vinda para cá em 1976 só veio reativar tudo isso que eu sentia pelo clube. É muito gratificante trabalhar no clube. Eu não sou o torcedor profissional, mas sim um profissional torcedor. Isso me deixa muito feliz. Acredito que todos nós lá temos esse mesmo sentimento. Vejo em cada um dos rostos que convivem comigo diariamente aquele sentimento. O Vasco tem de especial o fato das pessoas que lá estão se identificarem muito com o clube. Você trabalhar no que você gosta e no local em que você se sente bem, local onde você se sente feliz e acima de tudo é torcedor, as coisas ficam mais fáceis e fluem melhor. Tanto é que planejo encerrar minha carreira no clube. Planejo fazer isso no final do ano que vem. Ficaria feliz se eu conseguisse realizar esse meu desejo e deixar algo de bom para os que me acompanharam e conviveram comigo".

Como é o ambiente dentro do Vasco?

"O Vasco é lugar onde você chega e encontra pessoas que chegaram jovem e estão lá até hoje. Evidentemente que as mudanças ocorrem, acontecem, mas lá a gente percebe essa vontade de preservar as coisas. Isso serve para que as coisas aconteçam. É muito bom a chegada de pessoas novas, pessoas que chegam com novas ideias. Serve para que a gente possa assimilar muita coisa. Aprendemos muito com os que chegam, eles têm boas ideias e uma excelente formação. Passa a ser até uma reciclagem. Mas os mais antigos também possuem uma entrega, se dedicam e possuem uma maneira de trabalhar. Todos tem o prazer de trabalhar no clube e a gente percebe isso diariamente".

Foi por conta do senhor que o Vasco passou a entrar em campo na categoria de juniores com a bandeira. Por qual motivo o senhor impôs essa determinação na categoria?

"Essa ideia surgiu quando eu ganhei uma bandeira de presente. Numa viagem, não lembrei se foi Copa BH ou Copa São Paulo, eu levei a bandeira e fiz com que o capitão entrasse junto com todos levando a bandeira. Aquilo ali serve para marcar o território no coração de cada um. É evidente que com o profissionalismo de hoje em dia é díficil manter uma relação, mas pelo menos na base a gente pode reativar ou ativar esse amor pelo clube. Depois cada um vai seguir sua vida, sua carreira, mas se ele tiver um pouco de amor pelo local onde foi formado isso vai ficar na nossa memória e no nosso coração. Eu tenho essa vontade de que todos que saiam do clube para defender outros clubes ou até mesmo o profissional, que é o nosso objetivo, saiam com esse sentimento, conhecendo a grandeza do clube centenário. É um trabalho muito legal e que os meninos aceitam. Pelo menos se não formamos grandes atletas, grandes cidadãos com certeza eles serão. Serão também acima de tudo vascaínos. Ele vão seguir as vidas profissionalmente, mas terão aquele sentimento lá no fundo de carinho pelo Vasco. Nosso objetivo foi esse quando tivemos essa atitude. É importante existir esse vascainismo. O próprio Edmundo, que é consagrado mundialmente, é declarado vascaíno. Agora que terminou a carreira ele está estavazando esse sentimento".

Como o senhor vê a repercussão que ganham os problemas da base do Vasco?

"Para trabalhar na base tem que ter muito carinho, muito conhecimento e realmente gostar do que faz. Você vê que todos os clubes possuem problemas, passam por momentos de turbulência, mas grande parte da mídia tem o prazer de divulgar um fato negativo. Dão uma dimensão muito maior a algumas coisas que acontecem. Eles não conhecem nada do nosso clube, não conhecem o que nós temos, não conhecem a nossa diretoria e ficam divulgando coisas que nos deixam entristecidos. Falam muita que não é verdade e não mostram a realidade da nossa base. Convido a todos para conhecerem o nosso clube, visitar o nosso estádio e o nosso CT. É lógico que algumas falhas acontecem, mas eles exploram de maneira desumana e esquecem das nossas qualidades, das nossas virtudes, das nossas conquistas, da nossa formação e dos profissionais que lá estão".

O que o senhor poderia falar sobre a estrutura oferecida pelo Vasco?

"Hoje nós temos um colégio e um centro de treinamento modernissímo, não é nada de luxuoso, mas é um recanto muito agradável e amplo. Possuímos seis campos de treinamento, concentração, temos um ônibus. Sabemos o esforço que todos fazem para nos oferecer essas condições. Cito aqui o senhor Peralta, o presidente Roberto Dinamite e o senhor Manuel Pereira. Tem muita coisa boa na base, mas ninguém se dar o luxo de nos visitar para ver se é isso mesmo. Deixo aqui o convite para que todos compareçam ao centro de treinamento para saber o que realmente nós fazemos lá. Hoje o Vasco tem uma estrutura que oferece a cada atleta o colégio, o café da manhã, o almoço, o lanche, a janta. Nós tratamos assim não só os jogadores federados, mas também os que vão lá fazer testes. Mas isso é uma coisa que não dá notícia e que não repercute. Nós temos compromisso com a infância e com a juventude. Sabemos que nem todos chegarão ao profissional, ao estrelato, e por isso estamos tratando do ser humano e dos jovens, que possuem seus sonhos".

Com informações do Programa Só dá Base/Só Dá Vasco.

Jair Bragança,


Fonte: Blog do Carlos Gregório Jr - Supervasco